20080731

A humidade das castanhas


À Maria Lucia Dal Farra

Me persegue, não sei de quando
a figuração íntima da planície
recém-molhada quando pastoreio
a castanha-do-pará entre os dentes
e o caroço cede-se à mais
serena antecipação da carne
poética

Esta infância vem
do que um minuto há-de-ser
(em que o atento torne o mundo
poesia)
a transparência de uma alfafa
roxa eu uso como um abanico
e em Andaluzia escorrego
(com mel e especiarias)
àquela tenda frágil e viscosa que
(no meu entendimento)
nutre a amendoeira
enterrada no átrio da casa de minha avó
o grão-quintal de todas as lajes

Mãe de uns mistérios fechados
ao dizer, visto
a casa do pão, antro
colhido no mesmo repasto
em que, à tua voz, me talho
ao alvejar colorir-te num mosaico
de Cretas lilases memorando
a vindima o vaudevile de teu ateio





(ver) o trailler de "Senda do Silêncio", filme de Fabíola Carvalho: http://www.youtube.com/watch?v=63WDcoRVnuc

20080728

visão







técnicas de ver a cidade

















obsessões de pisar







e o que sobra no corpo do fim-de-semana

20080724

Elêusis / Primeira incursão








koré

esta noite tatuaste em minha cintura
uma borboleta
lugar-comum do mistério

pé ante pé asmática cismo
o percurso pedra raptora

o vaso dilatador em alcance
despeja a gotícula do vinho
mordo

a perigosa busca por flores




20080723

MINUTA


Lili
começa-se levantando
tudo deveria estar enclausurado de luz
nada te dizendo
que é fora ou dentro
vais arcar o universo na sombra

mas te levantas
e segues num roupão adejante
(branco limpo algodoeiro)
até a alça da cozinha
de onde olhas tudo

passa até a varanda
um homem azul trabalha os telhados
de outro mundo
e te olha avulsa
como um lírio da paz
escandalizado

então avulsa escandalizada
pegas um corpo que receba
essa inexatidão
e seus coices

pegas um outro que rasgue
este corpo
enganosamente passivo

o coito
normalmente
é triste
nada de mais tenderás
a ver

e o arranque desta aparição
tão fissurada em não-ser
dispõe-te para
a palavra
avulsa escandalizada
e
dificilmente
útil

20080722

Resposta ao dito


(ao champ de coquelicots près de Virgínia)


Vermelha
ir costurar-te
nas fibras de outras imagens

onde flores
solitárias dormideiras alcoolicas
(outros diriam: a rosa-louca
o mimo-de-vênus)
deixam-se prolongar
encerrando o extrato
das sementes imaturas

Haverá elipse entre o canto
e a curva

Haverá elipse
onde foi nome

soma constante das ausências
roubadas

Poesia por necessidade

carta do céu

salto logo querendo o outro
afinco de vênus minarete pra dizer
que derramo águas
nos pés sob a lua
a flecha ao alto bóia fundo
no excesso dos despojos
oceano de ossos
eu vim
com o caduceu triangulado
à espera da escuta
solar