20120829

(da série inédita) cena & interdito




cena & interdito IV: campanário e golondrina


(teu sonho mitológico de se meta-
morfosear em máquinas
ou tapeçarias)

onde pastores
de abelhas
ressoado mel
lavram a sacramental
realidade da penha

a Koré de seu pai
o vazio apenas tem teu rosto 
a agricultura faz parte dos mistérios

aquele que vindo
em Lerna
como um touro
e sua flor proibida
água, farinha e poejo
nas manhãs mornas com violão
e falta de escolha

caça: fêmea
como chafariz
bipolar – salvando sacrificando
em espiral

a riqueza
que vem da morte




20120827

para só ouvir-te, al berto, em tua própria voz


(recolho o mel
guardo a alegria
e digo-te baixinho:
apaga as estrelas
vem dormir comigo
no esplendor da noite
do mundo que nos foge)



20120822

ainda lady octopus


FEMININA _________ poema de Mário de Sá-Carneiro




... há desses dias sonsos, em que se acorda maltrapilha para a rotina e tudo parece querer forjar culpas e tremeliques e coisinhas ressentidas, nesses dias por acaso ou sem querer, rói-se as unhas e demora-se para tomar banhos ou limpar qualquer coisa já limpa do corpo...

... bem, quando eu acordo assim, corro pro Mário...

... e quando o assim agita-se mais grave e nebuloso, só me salva este poema, abrindo um jocoso sarcasmo como técnica com que rir de si mesma e dessa lenga-lenga de suíte sentimental..

... ay ay ay...


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FEMININA


Eu queria ser mulher para poder me estender
Ao lado dos meus amigos, nas banquettes dos cafés.
Eu queria ser mulher para poder estender
Pó-de-arroz pelo meu rosto, diante de todos, nos cafés.

Eu queria ser mulher para não ter que pensar na vida
E conhecer muitos velhos a quem pedisse dinheiro –
Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro
A falar de modas e a fazer potins – muito entretida.

Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios
E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar –
Eu queria ser mulher para que me fossem bem estes enleios
Que num homem, francamente, não se podem desculpar.

Eu queria ser mulher para ter muitos amantes
E enganá-los a todos – mesmo ao predileto –
Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais esbelto,
Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes...

Eu queria ser mulher para excitar que me olhasse,
Eu queria ser mulher para me poder recusar...
........................................................................


Paris, fevereiro de 1916


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Leia aqui trechos de cartas de Sá-Carneiro a Pessoa, logo antes do suicídio deste fabulosíssimo poeta português: http://eleusiana.blogspot.com.br/2012/04/sa-carneiro-mario-em-cartas-ao-fernando.html



20120821

um andarilho interior _ SERGIO LUCENA


_ e aqui estão os 3 primeiros videos que o Daniel Vincent, filho de Sergio, vem fazendo sobre a trajetória deste grande pintor e imensa pessoa que é Sergio Lucena _
_ tudo emociona muito, a presença do Sergio e a sua relação com a pintura é sagrada, ou seja, instaura na vida e no real essa dimensão do surpreendente, do maravilhar-se, do estar disponível para o vivo _
_ a busca é perene e não há apatia: entre a mão, a cor e a tela, um caminho de dentro em que andarilhamos com ele, palpitantes e íntegros _

Salve Sergio! Salve Daniel! que venha mais!


20120816

Bem duro é contradizer / o gosto que o fruto tem _________ poemas de Hildegard Von Bingen (1098 – 1179), poeta, mística, música, astróloga: a sibila do Reno!






I
DAS VIRGENS

Ó nobilíssima frescura, que no sol te radicas,
e em cândida serenidade fulges
no disco,
que nenhuma excelência terrena
compreendeu,
és circundada
por amplexos de divinos mistérios.

Tu ruboresces como aurora
e ardes flama do sol.




II
SINFONIA DAS VIRGENS

Ó amante cheio de doçura,
de dóceis abraços,
ajuda-nos a conservar
nossa virgindade.

Fomos formadas do pó,
Ai!, Ai!, e no crime de Adão.

Bem duro é contradizer
o gosto que o fruto tem.
Dá-nos coragem, ó Cristo, Salvador.

Nós desejamos ardentemente seguir-te.
Ó como é gravoso para nós miseráveis
a ti imaculado e inocente Rei dos Anjos
imitar.

Confiamos em ti, todavia
pois é teu desejo
a pedra preciosa permanecer em putrefação.

Invocamos-te agora, Esposo e consolador,
que nos redimiste na cruz.

Por teu sangue comprometidas somos para ti esposas
repudiando homem
para te preferir a ti Filho de Deus.

Ó belíssima forma,
Ó suavíssimo perfume de desejáveis delícias,
sempre por ti suspiramos
no exílio das lágrimas,
na esperança de contemplar-te e contigo permanecer.

Nós estamos no mundo
e tu em nossa mente,
abraçamos-te no profundo coração
quase como se foras presente.

Tu fortíssimo leão rompeste o céu
para descer ao útero duma Virgem
e destruíste a morte
para elevar a vida à cidade de ouro.

Concede-nos habitar dentro de seus muros
e permanecer contigo, dilecto Esposo,
pois nos livrastes das fauces do Diabo,
que seduziu nossos primeiros pais.




III

Ó jorro de sangue, que no alto retumbaste,
quando os elementos todos se confundiram
em lamentações e tremor
porque tingidos no sangue do Criador.
Unge nossas enfermidades.




IV
DE SANTA MARIA

Hoje foi aberta para nós a cerrada porta,
pois sob uma mulher a serpente sufocou.
Assim na aurora brilha
a flor da Virgem Maria




V
DE SÃO JOÃO EVANGELISTA

Ó doce eleito,
que num ardente ardor refulgiste,
raiz, que no esplendor do Pai
elucidaste a mística,
e penetraste a câmara da castidade
na cidade de ouro, que o rei construiu,
pois o ceptro das nações recebeste,
vem em socorro dos peregrinos.

Tu fecundaste a chuva
com os teus predecessores,
que a transformaram
nos pigmentos verdes dos pintores.
Vem em socorro dos peregrinos.




VI
PARA O EVANGELHO

Ó púrpura de sangue,
fluíste da excelsa altura
tocada por Deus
tu és a flor
que o sopro da serpente
jamais lesou.




VII

Em tudo transborda a caridade:
notável desde os abismos aos céus mais altos,
mais amável dos bens,
o Rei supremo
ela beijou.




VON BINGEN, Hildegard. Flor Brilhante. Tradução Joaquim Félix de Carvalho e José Tolentino Mendonça. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004. 

20120813

DIONISO E ARIADNE (2010, selo água-ardente) __________________ escaneado !

para todos os deuses, mel...
para a senhora do labirinto, mel...

(numa plaqueta encontrada em Cnossos)




"as plêiades sobre o labirinto ou Jornada de um desejo ou dioniso e ariadne" nasceu gêmeo do "fio fenda falésia", mas de útero diverso, de buraco tão arcaico eterno quanto, mas outro, de mesma data, fins de 2010. eu disse a mim mesma que era o que me presenteava em meus então trinta anos, a sagração mais uma vez deste que é cão em mim e me acompanha, na sebe das velas, na taça que se enche ininterrupta, dioniso. e ariadne aqui é mais que o só de carne-amor, é aquela constelação que se alça em canto, como havia selado mais que magistral, a maga Hilda Hilst, em sua ode descontínua e remota para flauta e oboé, "porque tu sabes que é de poesia minha vida secreta". ariadne é viço complementar, feitio de rama verdejante onde deitar a boca desregrada do deus, e gira a roda, vice-versa, ele é fruto que nasce da língua salivosa dela. 

é um livro sobre amizades, então. este inviolável enlaço, que dá banquetes ao vivo. gosto que seja assim. distância plena, espaço que a palavra lubrifica, entre os olhos amantes. canto. poesia. chamei à epígrafe, Safo e Yvette K. Centeno. Safo, noite que não acaba, pavio de um desejo imenso, que desde os ofícios menádicos, vem madrinha. Yvette, alma-alquímica que me afeiçoa, do Portugal que é também berço de um mistério enquanto faço meu este tempo de vida da carne. entre epígrafes, 13 poemas, de dioniso e ariadne, 13 que é bar do desfiladeiro, roça-portinhola de rodar e palco daquela missa estranha em que tudo é outra coisa, transtornada, escrita. 

vieram comigo Isabella Lotufo e Maiara Gouveia. Be-bella, desde os 8 anos, outro número enrodilhado nos destinos plutônicos do que vive e morre (dioniso). Bella desenhou capa e tudo, estivemos tardes juntas, ela delirante apaixonada, ouvindo a história inteira destes dois, nos reconhecendo neles, em nós, traçando o dia, o amorosamente das horas. Minha gratidão é a consumação colorida e delicada deste corpo nas palavras. Salve, ó belosa, amiga antiga, ursa-de-asas, serena. Ademais, adiante, coisas mais virão, de nossas mãos unidas, minha e de Isabella. Aos planos, aos traçados, às estrelas!

depois, Maiara, saudando, ao final, com deliciado murmúrio. Mai é também antiga, esfíngica. Ponto axial de uma amizade que ama estranhamente, e ama. Vértebra que alonga o dorso onde acariciar o tigre noturno. Espera ainda, espera. Obrigada, minha querida.

e como não podia calar, o livro foi escrito à Renata Huber. Irmã de rio, peixa-carneiro e centaura, lunar, que eu com o sineiro de minha constelação, chamei ao contágio, ilhas-belas, as noites sentadas ao chão com vela e garrafa e papeis espalhados, atentos, alentos. Poesia, o nome de minha amiga, Renata, este nome que tantas vezes dizem a mim, Renata, a renascida, cria de dioniso, ao dioniso agraciado. sei que os deuses quando nascem cantam a sua progenitura. eu canto ariadne e dioniso, em companhia de Renata, Isabella, Maiara e ele, Marcelo, mar-cielo, fusão dos horizontes, casa redonda do hábito dos cantos, ceia. 

inventei proibida o selo água-ardente, o barco onde começamos, água ardente, que diria a Sibila das enócoas. selo que virá, voragem, para toda-poesia. iniciado aqui, neste tabuleiro. 

que seja o axé dos deuses. a força viral do deus louco e livre. o deitar-se sobre o verde, sob o verde. morrer e retornar. para cantar, tantas vezes, dioniso e ariadne.


que seja o prazer de quem vem! venha!

Roberta



"Agora canto
os brotos do renovo

recebo o estigma do dia, tocheiro
à tua partida esférica, Dioniso
cartografia em pássaro azul
e nume emergindo antiquíssimo
(...)"























20120808

prelúdio para SATURAÇÃO DE SATURNO _ em fogo lento e preparo




pausa no desfiladeiro para contemplação do pecado

pequenos azares adiados
arsenal de carniças e cancelas
lavoura e lamentação

no mundo não há
inocência, sensível absurdo
nossa melancolia

muda o registro: eis uma barcarola

azáfama dos halos que acidulam
mosaico de rotas radiantes para até
quando






20120807

estarei lá _ 1º Seminário de Ação Poética _ Casa das Rosas + CCSP _ 14 a 17 de agosto de 2012


Parceria entre a CASA DAS ROSAS e o CENTRO CULTURAL SÃO PAULO, que celebra 30 anos em 2012, o 1º Seminário de Ação Poética reúne, entre os dias 14 e 17 de agosto, poetas, professores e representantes de instituições ligados aos processos de difusão e promoção da poesia para discutir estratégias de divulgação da poesia. Lançamento de livros e revistas, mesas de debate, mostra de videopoesia, recitais de poesia e shows musicais compõem a programação do evento gratuito.

abaixo a programação: 



Terça-feira, 14 de agosto

CASA DAS ROSAS

17h – Inauguração da Feira do Livro de Poesia

Lançamento das revistas Coyote e Mallarmargens e de livros de poesia das editoras que publicam livros de poesia no Brasil. Serão realizados, ao longo do evento, lançamentos de diversos livros de poesia, entre eles os livros de Ademir Assunção, Marcelo Montenegro, Claudio Daniel, Ale Safra, Marceli Andresa Becker, Andréia Carvalho, Adriana Zapparoli.

17h30 às 19h – Debate Público: Do que precisa a poesia hoje?
Pressupostos para a redação da Carta Aberta: Em Defesa da Poesia.
Com Claudio Daniel, Ricardo Aleixo e Raimundo Gadelha

19h - Mesa: Como a poesia contemporânea brasileira é tratada pelo estado?
Mediação: Frederico Barbosa
Com Lau Siqueira e Pedro Américo de Farias

20h30 – Performance: Ricardo Aleixo
21h – Show de Abertura: Péricles Cavalcanti




Quarta-feira, 15 de agosto

CASA DAS ROSAS
17h às 21h - Feira do Livro de Poesia

CENTRO CULTURAL SÃO PAULO
17h às 19h - Mesa: Quais são as tendências da poesia brasileira hoje?
Mediação: Claudio Daniel
Com Reynaldo Damazio e Claudio Willer

19h30 às 21h - Mesa: Como a poesia brasileira contemporânea é lida na universidade?
Mediação: Claudio Daniel
Com Antônio Vicente Seraphim Pietroforte e Susanna Busato

21h às 22h - Recital
Com Claudia Roquette-Pinto, Frederico Barbosa, Claudio Daniel, Contador Borges, Alice Ruiz, Ademir Assunção, Roberta Ferraz, Ale Safra, Janayna Barão, Andréia Carvalho, Paula Freitas, Andréa Catrópa, Simone Homem de Mello, Mariana Botelho.



Quinta-feira, 16 de agosto 

CASA DAS ROSAS
17h às 21h - Feira do Livro de Poesia

17h às 19h - Mesa: Como a poesia brasileira contemporânea é publicada?
Mediação: Frederico Barbosa
Com Heloisa Jahn (Editora Cosac Naify) e Samuel Leon (Editora Iluminuras)

CENTRO CULTURAL SÃO PAULO
19h30 às 21h - Mesa: Como a poesia brasileira contemporânea é lida na imprensa diária?
Mediação: Claudio Daniel
Com Alcino Leite Neto e Raquel Cozer

21h às 22h Recital
Com Claudio Willer, Rubens Jardim, Ricardo Corona, Micheliny Verunschk, Marcelo Aiel, Donizete Galvão, Paulo Ferraz, Marcelo Montenegro, Chiu Yi Chih, Marceli Andresa Becker, Adriana Zapparoli, Edson Bueno de Camargo, Diogo Cardoso. 



Sexta-feira, 17 de agosto

CASA DAS ROSAS
17h às 21h - Feira do Livro de Poesia

17h às 18h30 – Como a poesia brasileira contemporânea é tratada pelas instituições culturais
Mediação: Claudio Daniel
Com: Claudiney Ferreira (Itaú Cultural) e Francis Manzoni (Sesc)

18h30 às 20h - Mesa: Como a poesia brasileira contemporânea é lida nas escolas?
Mediação: Frederico Barbosa
Com: Gilson Charles dos Santos e Noemi Jaffe

20h às 21h - Debate Público: Afinal, do que mesmo precisa a poesia hoje?

Redação da Carta Aberta: Em Defesa da Poesia
Com Ademir Assunção, Binho e Frederico Barbosa

21h às 22h - Show de Rodrigo Garcia Lopes




DURANTE TODO EVENTO
Transmissão on line pela Rádio Web do CCSP
EXIBIÇÃO DA MOSTRA VIDEOPOÉTICAS NO MÊS DO EVENTO



Programação do 1º Seminário de Ação Poética
De 14 a 17 de agosto.

Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Av. Paulista, 37
De terça-feira a sábado, das 10 às 22 horas; domingos e feriados, das 10 às 18 horas
(passível de alteração, de acordo com a programação).
Tel.: (11) 3285-6986 / (11) 3288-9447
E-mail: contato@casadasrosas.org.br.
Convênio com o estacionamento Patropi: Al. Santos, 74.

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