20121129

eclipse através, Marrocos



Dentro da cena viva
Onde os acasos se objetivam
Estive em Fés
Ontem, na tarde de 28 de novembro
Bem quando havia no céu
eclipse
com lua cheia em gemeos

Na volta, até o navio
Abri o livro q tinha em mãos
“A obscura palavra do deserto”
de Edmond Jabés
Eu não conhecia o livro
que trouxera
Comigo

E porque o real em mágico
Se espraia de encontro a si mesmo
Em muda e exasperada
Palavra justa
Abri o livro e li
Eclipse dentro do tempo
E no livro, este poema

A voz que eu diria
Encontrada
está aqui
Prestes ao mar
A vida toda:
           
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O ECLIPSE

Com  a mão, cobriste o rosto.

A noite entrou no dia.

“Deus: defunto livro no livro livre do fogo”, dizia ele.

Oh, morte, astro ocultado que um círculo de aurora ainda cerca.
Oh, naufrágio, oh, sol, presa complacente da tinta possessiva com que tudo se escreve.
Enfeita-se a eternidade com seus próprios reflexos, quartzo negro que o instante quadricula.

Argola do convés: começada, a viagem.
Argola da muralha: atestado, o regresso.

Todo o livro é um livro de bordo.

                                                                                (Edmond Jabès, trad. Pedro Tamen) 
 
 
 

20121122

Queneau ao acaso 1

le vieux marin breton de tabac prit sa prise
qui convoitait c'est sûr une horde d'escrocs
sur la antique bahut il choisit sa cerise
elle soufflait bien fort par-dessus les coteaux

je me souviens encore de cette heure exeuquise
oú venaient par milliers s'échouer les harenceaux
il grelottai le pauvre aux bord de la Tamise
l'enfant pur aux yeux bleus aime les berlingots

Devant la boue urbaine on rerousse sa cotte
le chat fait un festin de têtes de linotte
même s'il prend son sel au cette c'est son bien

Barde que tu me plais toujours tu soliloques
frére je t'absoudrai si tu m'emberlucoques
mais rien ne vaut grillé le morceau de boudin

20121113

32


que venha com
delicadeza
ânimo de mundo
fôlego solar
água nos pés
dança e espriguiça
um poema de mar
beleza dentro dos olhos
beleza fora dos olhos
impacto real das coisas
força para o impacto real das coisas
saúde
corpo solto
corpo ágil
corpo de mundo e rua e mar
olhos de sargaço para ver o azul das coisas
pascoaes
pessoa
mário
os dois mários
marcelo
amigos enlaçados rindo sem pressa sem pressa
casa
morgana
diana
mãe
os queridos muito íntimos cada vez mais
menos vidro nos olhos
mais deixa ser
vem
faíscante pé
estrela de 5 pontas
outra vez
cão galáctico
hilda
amigos fundos da casa do sol
casa do sol florescendo
estradas largas e abertas
caneta nas mãos
água descalça na cabeça
mar
poema de mar
as amadas
pessoas
muito
aquela voz arcaica mais doce
falando mais rente
uma onça
e um carneiro
dentro de um urso
que é coruja
e sapo
uma boca avuludada ao sim
desperto olho
quando descer
viva
à vida
escrever todas as saudades
futuras
as mais sem nome
cuidar desse quintal de palavras
regar o jasmin
da nuca
rever o ar
dos 23 dos 14 dos 5
idade solar
me venha
ver