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20131228




escandir deus:

pelve
triangular
do vazio 




20131110

5 poemas do SATURAÇÃO DE SATURNO


Logo mais, às 19hs, começa o CHAT com Ana Rüsche
no www.literatura.ning.com

te deixo aqui 5 poemas do Saturação de Saturno
abrindo o terreiro



Saturação de Saturno

ou a insídia costumeira de assolar poemas parados


rondó de abertura

um molar de saturno, várzea   
melódica entupindo as tripas, amargo
morno da antemanhã – sucessivo
lento, molar e música de despir,
os casacos das feridas, início

terno dos defeitos, o casto
caimento sobre o timo, imolado
um molar

que sova tua sorte para calos dizíveis:
as cores do chumbo – molar
estivador, forja de gatunos
atraentes à pedra no bolso esquerdo
enfiada ao fundo, um molar

de saturno – criança
te prometem os teus vinte e nove
danos





saturação de saturno II

saturnina, ontem
mesmo antes de se despir atentou a contar
os roxos encapsulados nas dobras
atentou: era bom
que toda semana
pontualmente alguém
toque seu corpo

não porque haverá remanescente um desejo ferino luciferino ou 
conluio de carnaval
é bom saber que a mulher vem com malinha e analgésicos e 
escusa
no quarto andar arruma a vela para que algo de seu corpo se esquive dela
apalpa os mililitros do vasto e como quase sempre se faz assim
adormecida: é o melhor da vida
organizar o sono para vir junto com a mulher de malinhas

depois que acaba é que por ter sido nua naquela uma hora 
cronometrada (garanto que a mulher de malinhas não vai a ela 
simplesmente por ter consideração ou coisa de carnaval consigo) 
levanta-se e agita o espelho a começar 
a contagem dos espetos negros que porventura 
tenham-se acoplado ao corpo imagina 
esses serões quase sempre começam adentro
e aos poucos vão subindo arfando a pele até a hora mágica
chamada tabu obediência chamada o anjo da casa

o toque da mulher de malinhas e o sono impressionam a tempo de 
olhar o espelho (é claro que disso se tem medo) 
por isso novamente se paga a mulher para que tudo 
pareça & pereça mais natural e oxigenado: todo o puro

oh, seria estranho em outra hora
deitar-se a vasculhar os buracos encarquilhados ou então a dobradura 
volumosa das costelas ainda o debaixo do olho ou os caroços 
de brincar que dão nos seios para que a gente esprema não sem 
dor

seria estranho pedir ao homem após se deleitar licença
que agora que tua lucubração já depositou aquilo de mau cheiro
licença preciso ir às tinas verificar se nenhuma (verruga) pousou 
no adereço seria estranho mais ainda dizendo assim tu isso tu aquilo
o homem certamente se assustaria e ainda que convivido consigo nas 
últimas centenas de ano o homem certamente me bateria

e como ela não aceitasse apanhar sozinha é certo que desceria à rua
e como estivesse nua e apupada pelo como sempre deleitoso
cheiro daquele que agora força o nada certamente o oco se instalaria 
oco e nós
nós seríamos invisíveis

(amor) é o truque mais hediondo
apelidaram de culto, cultura, o mau cheiro e a invisibilidade
certamente ele homem humano só e assustado então marido
correria para outro planeta laminar
que desse suporte ao meu desaparecimento
e aderisse como um malho que se dá em crianças irritadas & animais 
indefesos

por essas e outras (sabe das meninas que fizeram ficha às fogueiras?)
a melhor coisa que há é a hora marcada com a mulher de malinhas




lady octopus
  
é uma carta: navega com meras senhas
uma loucura inclinada ao teatro
um ouriço na cintura túnica encravada
a sair mui talentosa o cúmulo de um cós
lilás discorrendo vísceras dentro da ó
nesga
por onde desembocar cutelos de homem

é uma imagem: ousa o espelho
investida invertebrada apenas como se
espelho com métrica embutida: o anjo da casa
(já se disse, ritornelo, água amarga)

é um porta-papel e carnuda rês
espiral de um talo rubro cosendo o roer
da nuca em que colorir os lábios
quiçá nunca gemer apenas dar-se ares
a scherzo esquadrinhado & ripar
da descuidosa maneira de viver
para que saia: um espelho
civilizado apenas contra
vertido e desdobrável: os tentáculos da casa



sete suítes para educação sentimental III

sei que tuas questões te mastigam: chegamos aonde a que confins
talvez na noite atos camuflados: a madeira de tua casa
demolida por outra casa talvez o tempo: vingue
as escolhas e esta solidão talvez solidão queira mais que uma apenas: mulher
ao teu lado sem qualquer pé que fira ao teu lado para: adormecer
a jovem que fui a teu lado para com ciúme: sazonar
o curso de tudo até a morte sinto-me pronta com mãos desde: sempre
menos agitadas e corpo: menos
turbulento sinto que cada tarde te acorda para uma outra: vaga
e não te mostra o rosto mas: seduz
ao caminho de coxas um caminho de réus e entrudo que seja: novo
e como novo: apaixonadamente
falso: talvez eu te tenha que deixar
para sobreviver para sobreviver em ti talvez eu tenha que guardar: a faca
e não ousar: mito
como no mito seguir adiante e não olhar para trás aquela: imagem
caída sobre o mastro só memória da trama das lesões: sim
mas de crueza exasperada: lúcida
amor, amor, enquanto tivermos vinho: sem mais
vácuos e sinas que te alimentem de distância e mau: pressentimento 




a saga dos poemas insatisfeitos V

o ciclo ameaça assim:
uma mulher pesada (mas)
(fresca) adormecendo seus
Vícios
começa e acalma
Vênus
como uma farsa
não fosse tão terrível farsa

advertências, ademais –
quando soasse o cheiro
de uma história a mais
para narrar
em trégua:

o teatro – ela diz
e o álcool – dão conta

de todo este pacote adulterado





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e ainda: leitura de um poema, aqui, autorretrato como consequência

20131004

mão tecelã dada à mão



desenho a borda de um desastre
o repique das máquinas de quebrar cimento
os dois pássaros perdidos
uma manta mexicana nos chamando

ao trabalho, trapézio
de coleiras, serventia rústica
na agulha coloco na cabeça
um fio castanho do cabelo
refaz-se do início o pastoreio
comum desastre ameno
no limite do fio, quebradiço
enquanto fia

em branco o restante do tempo
permanece
até que arruma novo fio da cabeça
ao esforço o desenho de um canto
delicado

São Paulo como um delírio de lavanda
os pés nossos muito claros
os nossos calos da mão dizendo alto
a permissão do calor

depois disposto o fio
dispõe-se de cabelos
brotando da agulha
de uma respiração
suspensa

20130107

saudades escatológicas


tarde tão boa
com a Isa aqui, a Carol aqui e depois o Jura girassol aqui
... o romance de Isadora Krieger eu já entrevejo, é incrível.
uma força estranha brota ali, um incomensurável outro. é muito diferente de tudo que li.
a gente ri mas se desampara. a gente entende mas fica o oco. oco, como diz a Isa.
não vejo a hora de tê-lo linha a linha, aqui, comigo. incrível. é incrível. oxalá.

e depois, os papos e os outros temas. cadê o Artaud que estava aqui?
queremos o ânus solar. o heliogabalo. a língua solta. o vento íntimo. os risos.
e saboreando o encontro, deu saudade de PERFUME-ESTRUME
que um dia virá na astro-lábio assim se supõe o destino
enquanto não vem brindo também
a noite com Carol Bertier e Gabi, lendo os vagidos, ohnusnansipokshhns
e rindo e rindo

dos diversos textos que germinaram nesta desta
hora espetaculosa e tímida muitas vezes
e das reflexões de araque & ternura, mais profundidades óbvias
repasso à cena estes poemas, estes textos, estas notas deleitosas
de abertura, passagem, espessura e sim: perfume










pois (como ouvido comovido na missa, hoje mais cedo):

quando de vós vos fordes tirado o vosso porco aqui na terra
no céu vos será dado o porco incorruptível






20121220

os caminhos que levam a elêusis (I)




chega  e diz
pele de leopardo
couro alaranjado
rosetas de meu nome
em plumagem de caça

alongada a febre
dos músculos que existir
fitando a linha imensa
da fome e do salto
chama-me dioniso

vertendo estrelas vermelhas
e um hálito de morder
a espessura clandestina
desta fenda selvagem
onde ceder ao fascínio

livre e louco
pele de leopardo
como abrir jugulares
seduzidas de morte
o jaspe vermelho

na língua hipnótico
lacre atado
ao transtorno
de qualquer corpo
apenas estagnado   



20121218

notinha para a manhã de terça, sonolenta




alguns pássaros caem da chuva
enquanto a gata ainda obscura
esparrama claridade ao sono
equilibrado em mim, nela

com herberto na cintura
e uma ema em que deixar
a cabeça cheia de histórias
a manhã dura felpuda
e fechada e dizendo
terça-feira no trânsito
da avenida e da casa

o sonho se elabora melhor na manhã
da noite é feita água nos músculos e
logo alavanca a fúria dos gestos
dos pássaros da chuva da luz da cidade
eu e ela simétricas de um número de mar
continuamos a nos deitar para dentro
escrevendo reversos, calmos
poemas


1. num deles era roça queimada
o escorpião apanhava no corpo
o suor vazio do corpo e a língua
numa busca de farpa e definição
bagunçava os cabelos, a pele
se esticava, deitada e alada
a pele ardia sabendo o escorpião
brotando em água e calor
corpo de sebe e roça aberto
deitado ou alado, nu
em charcos


20120919

para dia 19 de setembro, com lua escorpiana e calor, após brancos lençóis de calma e muito trabalho adelante






1 de espadas, 29 anos de espera e donzelice, trevo de cravos no azul do desejo (A HORA)
- carta do meio - interrompida - a promessa de um nascimento tumultuoso (e qual não é?)
preenche o 3 com moça criança e cabra e pequena casinha com bacia e água fresca (e trabalho)
cavaleiro de ouro, 10, o moço dos engenhos, saturnino, campestre, é ele quem vem (e trabalho)
(mas agora é siesta, pequena festa matutina, sombra do arado, durma e coloque a plaquinha enquanto dorme: que estou a trabalhar) (rêves, rêves, rêves)

29 + 1 + 3 + 2 + 10 = 45 = 9  (3 x 3) (É A HORA)
...

tudo me leva a crer que SATURAÇÃO DE SATURNO está prestes a nascer (não te parece?)

e sendo que vem vindo, abre-se poema para esta manhã de quarta-feira, oya

(poema que também está aqui, na coleta dos magos de mallarmargens, veja) 






apoteose

enquanto contemplava
o rebento rosa
entre os dejetos boiando
naquela tina de sangue

dois dedos na garganta
e desfaz-se uma noite
e desfaz-se o corruptível

dois dedos e uma unha
a menos o pé roxo e torcido
- alabama - desfeita
a casa acorda

contempla
esse pedaço rosa
encarniçado esculpido
gruta afora

retiro-o do vaso, repito
a operação pego-o com o dedo
o mesmo esperando
reconhecer

há outro roxo no antebraço
uma cara cada vez mais lua
enquanto míopes
as contemplações
oferecem-se ao fluxo
então contente espiralado
enfim lisonjeiro

recém-nascida por dois dedos
e uma máquina

faço tudo ficar branco
ficar claro, digo, franco

e sem memória

20120906

revista córrego 4 ___________ M E D E A, sangue, notas botânicas


veio em agosto o n. 4 da revista córrego, editada pelos poetas gabriel kolyniak e tomás troster
está lindíssima, chegou em seu formato, feito, feita

entro nela com excertos da M E D E A, aquela ópera em preparo, aquele lento extermínio

sempre dedicado a maiara gouveia e ana rüsche, tríade de tecer vespas e outros animas de incêndio

eu tenho um carinho especial por este trabalho que espera, agora, repousando impresso em páginas negras, à espera, alquímico

há diante de mim uma prateleira inteira com o tema da pesquisa 'medea', coisas como "Histoire de l'alcool", "Ondina", "A botânica oculta de Paracelso", "Ditirambos de Dioniso", "História noturna", "O martelo das feiticeiras", "O segundo sexo", "A arte de jardinar", "A violência e o sagrado", e vamos...

tudo me espera, nos atiça, carmina _ um poema que entorpeça, sabe-o ela, medea

não a assassina, mas a estilhaçada pela paixão, aquela que à espera dedicou-se e quando depois de uma noite inteira se levantou, havia o ermo, o delito, o engano

e essa que chamo. essa sem medo.







20120903

relendo a história da sexualidade _______ poema de 'fio, fenda, falésia' ________ lembrando HH






relendo a história da sexualidade



sentir-te volumosa a fincar resquícios –
faço fim da surdez se me permites em trégua
nua o que renasce poesia, conto a ti:

bastam sopro e riso – e desmemoria
basta erguer-se a imagem fremente
daquele mosteiro de encanto e provações:

releio a história da sexualidade
um lugarejo surpreendido –
houve mulheres, séculos a fio
irmanadas na impoluta volúpia    
                                               de cegar dejetos, a querência
                                               dos fantasmas

(se exilaram
por dentro)

                         de ordens e regras monacais
                         o corpo um sólido montanhoso
                         pés enterrados e vegetativos –
                         loucas por deus

trespassada a dádiva – a dúvida
espalham para o alto a extensão do conhecido
e nomeiam de não-dito a valência das imagens
aquilo que o deus não safou – úmido,  pertencido

depois: noites baixas
exaustas de orar, lidadas
abraçam-se nas masmorras, lã
sob o mesmo puído feno lençol 

o tentado – o senão:
animais diários, afilhados da oração
               
                e no mais singelo meneio
                o tato fala o deus

                e o fragor da noite suave aflora
                o junco do desejo

e descobrem
real o mistério que apalpa

e nesta alfombra de acolhimento
e enlaço, o percurso à densa parte
reabrem – no tronco – o deus
cheio de lanhos, natural











                                     


                                                         a sensação de que o sexo só é real
                                                                                                     na infância








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escrito em amizade com Renata Huber e Érica Zíngano
/ ProAC / SP / 2010

ESTE POEMA
que sempre me lembra algo de Hilda)

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20120829

(da série inédita) cena & interdito




cena & interdito IV: campanário e golondrina


(teu sonho mitológico de se meta-
morfosear em máquinas
ou tapeçarias)

onde pastores
de abelhas
ressoado mel
lavram a sacramental
realidade da penha

a Koré de seu pai
o vazio apenas tem teu rosto 
a agricultura faz parte dos mistérios

aquele que vindo
em Lerna
como um touro
e sua flor proibida
água, farinha e poejo
nas manhãs mornas com violão
e falta de escolha

caça: fêmea
como chafariz
bipolar – salvando sacrificando
em espiral

a riqueza
que vem da morte