I.
FERRAZ, 1992, praia, alguma areia – pedras – assinaladas para o fogo. Marcação. Serragem. 1997, desidratações. 1999, começa o livro do contágio, ainda bambus-para-pularem-crianças. Mão de homem velho e carioca, mão de homem baiano. Entrega ociosa para Lygia, que não se lembrará, assim se espera, lembrará o fogo. 2000, começa o desfiladeiro (ainda sem), caminhada em tarde no interior e a erupção de Nódulos do Balaústre. Continuidade. Um outro homem mago. Astrologias, campus, afogamentos. Sem previsão de restauro. Uma vida em santos. Teatro, montagem da Santíssima Trindade, com o coração materno de Anna C. Leveduras, daí poemas. Picada de aranha no braço esquerdo. Começa a perder anéis. 2003, fuga para o Egito e frustrações pseudo-místicas. Tampão no ouvido. Exorcismos. 1986, porque acabaram os doces da bela adormecida, foi brincar com os meninos. Ou seja: deixou-se ser arrastada por uma camionete, segurando o pára-choque com as mãos sem luvinhas. 1985, descobriu em si mesma a volubilidade fictícia, ou a exímia capacidade de mentir. Começou a sofrer. Não se sabe se é conseqüência. Provavelmente não. Parou de sofrer. 1989, fez um círculo de saliva chamado circuito, o que realçou a vocação de ocultar-se. Nessa altura, quase-uma-mística. 2010, ficou séria por uma semana. 1994, lapidou o conceito de culpa numa tarde chuvosa, depois correu do banheiro e quebrou a perna ou o tornozelo. Sofrimento estético, performances. Alta erudição. Fingia que cantava as musiquinhas de Jesus. 1994, primeiro contato com a morte. 2008, num ato heróico de obscuro encanto, pôs no mar todas as enciclopédias do sótão de sua casa. Quebrou o espelho e teve sorte com isso. 2010, começa e conclui o fio, fenda, falésia com EZ e RH. Viajou demasiado de avião. Fez conspirações com outros seres decaídos. Ficou infensa à velhice. 2009, deixa em papel o lacrimatórios, enócoas como certidão de casamento. 2010, continua o livro do contágio. 2010, tem vontade de dizer outra vez, de outro modo: recebe o lastro marítimo com a gaivota Érica Zíngano e a pedra-pome de Renata Huber, o livro fio, fenda, falésia – que abre sonhos surrealistas. Lança o livro em dia sonoro de 8 de dezembro, às 19h30, exato sol-poente de horas de verão. 2011, pensa que pode virar cantora caso a casa caia, caso a casa caia. 1989, é infeliz por ter uma mãe loura, e não poder ser cantora. 1990, dá estupendas reviravoltas nestas bobagens todas, descobre um outro nome para o cabelo louro da mãe. Pega uma boneca e mistura com sangue de gato. Todos que passam por seu caminho agradecem o servir basco da menina, coisa de retortas, desenganada. 2004, começa a pensar na saga familiar, começa a dar número para os livros. Fica um pouco idiota, um pouco mais. Escreve a árvore genealógica de Evana Komaris, mas isso não significa quase nada. Ainda. 2010, tem um sonho que uma benzedeira interpreta como psicomagia. Pensa em retomar as linhas tortas do romance-saga-familiar-inchaço. 2011, só uma viagem de barco ou caravela, a Portugal, para desentupir essa labareda da saudade. 2011, se lembra em março que, no último passo de Saturno, parou por vez de respirar, até apanhar do pai, e assim, voltar à vida. 2011, pensa de quem é que apanhará, desta vez. [fim de citação]