20130718

saturação de saturno, estou te chamando


e soube pela manhã que saturação de saturno tem data para orbitar agora um mundo  _ e yo naci en alamo



estou reticente, é saúde escancarar assim um túmulo chamado útero chamado garganta
chamado nome, e dizer desorbitado um poema tão parado quanto saturno, dentro de casa,
habitação com janelas fechadas, gatos rondando o centro, prato de comida empilhada, restos
de carne nas cutículas, gente sem telefonema, só o ruído da água como companhia descendo
pelo ralo da descarga?

é peso tratar assim o que dar à voz? estou calma, tímida, tenho coragem de não existir. e existir
apenas, no tônus das indignações, porque a vida é muito meio-dia e o diabo do meio-dia
nos vomita para um tempo de nada, farsas, que nem é sono ou esquecimento, é ficar horas parado
olhando uma máquina de luz sem cheiro, uma máquina de luz sem gente, escrevendo palmos num papel de mercado, coletando cabelos do chão, andando até que a fome nos pare e até que a fome nos separe
então, paro. noturna, insatisfeita. faço poemas disso, dos restos, das combustões. chamo a morte porque é nesse chamar que o incêndio (algum) se abre e a plantação voa e me dá de beber. resina. álcool. enxurrada. e a música das coisas em sombra é música doce. callas como medeia. carmen contra a adaga.
e pede um abraço bêbado, o melhor dos abraços.

meus amigos, meus amores, meu amor.

já estou com 32, logo 33. idade de Ana C quando voltou. e surgiu. idade mítica que abre o 6, o 66. o pós-operatório de saturno, o coração retornado de terra e sangue e suor. tempo, tempo, tempo, tempo.
para quem não tem terra nos astros. saturno, satúrnia, uma casa encarcerada, um convívio dolente, um fado. um trabalho.

dos 28 aos 32, escrevi este saturação de saturno. 
agora, quando saturno avança em escorpião, encontrando o mercúrio de meu mapa natal, e o sol, em seu rodar, relança, sobre o saturno de meu nascimento a hora de ser outro, outra, neste dia, mais um anel, dispo, disponho, esteja servido, venha comer comigo. dilúvios de carbono.

num sábado antigo, em setembro próximo, te chamo.
juntos seremos soltos para além da paisagem de chumbo
e de ouro uma madrugada quente dirá
equinócio
(cio)
de primavera

acima, o mapa da hora marcada para nascer, 28 de setembro de 2013, às 16hs, em SP

abaixo, regalo de minha amiga Julia H, que é íntima dos astros e dos lagares dos 30 anos



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(três poemas de saturação de saturno, chamando, chamando, chamantes) : : : : : : : : : :: : :



rondó de abertura

um molar de saturno, várzea   
melódica entupindo as tripas, amargo
morno da antemanhã – sucessivo
lento, molar e música de despir,
os casacos das feridas, início

terno dos defeitos, o casto
caimento sobre o timo, imolado
um molar

que sova tua sorte para calos dizíveis:
as cores do chumbo – molar
estivador, forja de gatunos
atraentes à pedra no bolso esquerdo
enfiada ao fundo, um molar

de saturno – criança
te prometem os teus vinte e nove

danos




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tarantela

“agora fica, unindo-te em amor com tua mãe”

para agustina bessa-luís e minha avó, dida


reparem na parede como ofegam
as sibilas de saturno
reparem como no curso das sebes
se sustenta ensanguentado
aquele ato de expelir

uma bezerra parida coagula o terreiro
já menstrua grave uma cadeira
balança sem se mover – é o sexo, sina
das entranhas mais uma filha, prenda que rói
potência nas coisas sobranceiras da natura

o calo e o tato dos cômodos
lavram nas gerações da Casa
o que será ruína nas mãos
– alguém mais adiante se esquece da regra vermelha
claudicante: foi assim que mamãe me criou

entretanto elas dementes mulheres amealham
os homens para o destino e no meio-fio
atávicas dão sequência ao marrar moroso
de mais um frasco orgânico e quebradiço, zumbindo:
é da mulher o obrar permanências

respirando dentro da vedação
o intento do chumbo subjaz à aventura
quietas soterradas na greta semeada
como um câncer da Casa o segredo
é por nós que continuaremos 



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a saga dos poemas insatisfeitos II

para Ana C.

contrario
a noite, a outra de mim
     fiel como aquela
aos erros, estratagemas

tarde acanhada
e mês acuado
dançam sobre as ravinas

leito d’água e cicatriz
as cicutas remendam sóbrias
quando enfim o fio dos dilemas
luto d’água e cicatriz

anciã atormentada
30 anos
menina

crua morrendo gatos
esta outra, implícita
que se porta crente
de andaime & contrapesos

mulher de novembro
iodada à mãe
a dizer salmos
    
assimétrica saliência
pronta, sincera
o ponto mais fundo do próprio inferno
ardendo ditosíssimo diálogo

apocalipse alegre de um futuro empedernido
cartinha de amor (ritornelo)
igual à confidência: artimanha


eu te chamo para comer