20090624

Revista Desassossego

Caros,




É com prazer que anuncio o primeiro número da Revista Desassossego, confeccionada pelo Departamento de Literatura Portuguesa da USP. Há diversos artigos interessantes, nesse primeiro número, cujo tema editorial é, obviamente, Fernando Pessoa. Há ainda, uma entrevista com o escritor e professor da Universidade do Porto, Pedro Eiras, feita por Érica Zíngano; uma entrevista que eu realizei com o Prof. Paulo Borges, diretor da Revista Nova Águia, sobre cultura e lusofonia; além de poesia e ficção inédita.
Espero que gostem!

http://www.fflch.usp.br/dlcv/revistas/desassossego/index.php


abraços,

Roberta

20090615

litúrgica nas casas

à morte de ana


taturana murta, levemente ácida, um minuto
muito ávida
ao meio de nós uma dicção
de sinastrias ao meio
cuidado - telepatia muda

ela ávida muito afoita
a comer chocolares
de pé na canoa os canais
clarabóias

boca de mina
olhos tombados elétricos
arpoadores - primeiro
a tentativa pela água

não:
fiel só à ventania
léxico-cálice desbunde do destino
: a concha arrolada
pelas parcas
escadarias

20090610

tarde (de)liberada







Induzia-me os caminhos
Google-O-golem,
e me troçava a cara:


foco e sinopse, circuncisão
Valores familiares, teoria da cons-piração
life coaching mais sagrado do que você
cabelo e controle de armas alegação
de seqüestros por alienígenas

assim como
indução de falsas memórias, o criacionismo
disfarçado como ciência
com o nome de design

o que pensa?

o seu cachorro pensa?
legalização da maconha, a reciclagem
realmente vale
a pena? Farsa
piratória do Apollo 11, onde ficavam
as torres gêmeas continua sem destino
certo


fumo passivo, sexo sexo sexo

feng shui ou água engarrafada
gripe dos porcos ou
ESCOLHA AGORA
sua namorada
auto-sem ajuda, sansei-nos-acuda, coma
isto, histeria ambientalista, como aparecer
linda
nas revistas, pulsites, ao seu analista

isto
tudo
de pedra pane e perda
na pequena tigela de um nome
jogado a esmo na tarde das telas:

“ bullshit ”


America’s citycom including talk
Que-atua-para-desmascarar-aqueles
51% dos americanos que-acreditam-que


coisas


inexplicadas




são causadas por terroristas

ou fantasmas

pequeno diário parte um


repente-raio réia assim mesmo: o tornozelo doído, como se ligamentos estirados, o quê o quê? urano QUADRADO marte e netuno natais, pega ascendente, pega descuidos excessivos, outro QUADRADO entre plutão e júpiter natal, a morte passeando pelos estudos, tensionando a energia voluptuosa da organização, libra-capricórnio, cuidado com os ossos, é hora de ler aqueles manuais de saúde astrológica, registro.

um tornozelo direito. trânsitos, lua-lilith irmanadas quase na cúspide maior. aonde se encontra o destino. e ele segue seu passo, ainda no meio-metade do caminho, ele vem acariciando meus ossos, lento, preciso e vestido de escuro. a obra em negro. o começo real da alquimia, os 29 anos.

braços bem abertos
suponho

um jeito próprio de encomendar a sua vinda,
ó ceifador dos hábitos
e medos

20090609

Mira Myra
















Mira, o maravilhoso maravilhar-se


imagens das mãos no barro, dessa lunária plena, que me deu o vaso, o corpo


onde eu recolho, anuncio e distribuo minhas lágrimas e meus orgasmos




o que está a vir, dor-prazer tão irmanados,


lacrimatórios, enócoas


meu livro em breve que virá, pelos cuidados de Ricardo Pinto de Souza


e da Oficina Raquel




antes: deliciem-se com esta jarra


que acolhe todo líquido e depois


jorra na terra

ara








Mira, carinho imenso


sempre.






20090603

póstuma


2 de junho, ontem, carta que te desmembro e
planto
em territórios alagados
com um beijo de muita morte
a circular pelas palavras
querida Ana
inventada por/para mim
...

DEDICATÓRIA EM LIVRO DE PÓ

era dela o dia
o nosso abraço a virar espiral
as lanças de hera gotejando
açucares e libélulas e pimentas
ascendentes
como a seta no horizonte
esquerdo

era dela a linha
escrita declinada nas páginas
da sublimação
minhas foram depois
o que no princípio era
o amor
dado com carta burilada
em mesuras, com diâmetros
e virgulas a estiletes

nosso era o osso
pélvico
que muitas vezes rasgava
roxo o tronco remexido
da outra
(gineta monógina)

nosso era o fosso
de uma asa sem meta
pura estripulia de gigantes
ardilosos
nosso era o aço

mas dela era o dia
dela era a linha
minha uma pá-
gina uma

aporia