20090711

Resgates - No mergulho às avessas, de Andréa Catrópa




I

Menina, aquele prédio de santa
Cecília, arruinado

você plantando ervas na sacada
tamanho tinha de nossos pés. O prédio era
azul e branco: você sempre dizia
quando chorava seco sem sua máscara de dormir

me pedia o sexo
sem palavras depois
me pedia o dia

quando eu voei você amaldiçoou
bela como uma bruxa

amor, foi você quem
me jogou pela janela.






AMARELINHA NO CURRAL

Pretinho soltava as rédeas
Gerusa fazia trança no rabo e nas crinas
Lajedo latia
Melissa galopava sem sutiens
Ricardo era um pássaro proibido
Deborah ainda não era gorda
Maria estava branca em sua véspera
de morte

Rosa não era uma máscara, ainda,
e nem seria




MEU AMOR I

mitigada sucessiva
mulher-às-beiras
de vidraças encardidas
pega paninho e
inseticida
faz carinha quando vê uma
barata
esmagada entre os dedos
de seu pé direito
- quer morrer –

não não quer, quer mesmo
que se conte a ela tudo todos
os crimes todas as jaulas
as mais adocicadas

quer mesmo é ter o álibe
de uma ou duas
ameaças

para quando a invejada das gentes
um dia lhe deixar

só a carcaça

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