20100929

quem vem, o que, quem

os cadáveres começaram a girar
sobem de dentro da casa de palavras

... está chegando a fornalha acesa
de fio, fenda, falésia


20100924

nota ao dia I

passado o dia de chita
acompanhando o percurso digestivo
das noites anestesiadas

odor nas lenhas do decoro
forte e manchado de tinto

preguiça de engolir e esperar
repetidamente

uma fome cadente, ordinária

20100920

carta à minha bisavó Dulce, depois de ler seu 'poema da dinastia'






FANTOCHES PARA MASMORRA. VII

encarcerada, como

a menina de Beja


tenho ao menos o mesmo

álibi – não ser eu

quem escrevo

e emula o coração

nos espetáculos da maçã


presa à jaula

qualquer lua é uma ameaça

– encarrilha outro apeio –

a ida vespertina aos cinemas

salas mudas, entupidas de fugas


encarcerada como

mas ingenuamente


pensando-me mais solta

e mais cansada

20100911

pequena fagulha nas paredes de tua casa

à Bela, comigo em Dioniso
maquinaria nenhuma
traços de pena, sem pane
ou exclusão

amarelo neon, caligrafadas
doses de estar aberta
ao besouro e lebre, leve
desata - nada
buzina, são flores
são copas, são malvas

desmedidos pelo apartamento

uma brisa enfim
faz da janela
um pórtico

além-aqui, aventura-se
os dizeres da beleza