20110318

antropofagia



para Renata Huber, após


a visita crua dos fantasmas



vou até a nascente arrancar do fundo

uma flor d’água

os rizomas comestíveis se esfarelam

toco a massa de segredos onde vive

inescrutável

a demora da vida

arrancada soergo até tua face

e quando ela se derrama e morre

nas raízes

dos cabelos, não demoro

novamente ir à água

novamente trazer-te isto que dura

tão pouco


meu coração não sabe

sabe apenas uma aflição real

o que vê não tem nome

o que faz não tem razão

vive de voltar ao recinto

escandalosamente claro

por amor


pode não ser rito

ou mesmo febre

o que apenas sabe

é que espera

de tua boca

aquela palavra

sem retoques

sem medo

sem mágoa


engolida a flor d’água

refeita a nascente dentro

de tua calma

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