20111006

é chegada a hora | desfiladeiro renascido

foi

tudo prestes a cair, difícil, o torso sempre pendendo, lá abaixo o leito de pedras
foi o lento se refazendo, no grito o vazio tão silente dos gritos
é por isso que dedico este desfiladeiro renascido, aos amores mortos
pela primeira vez lançado em 2003, livro de estreia, o livro volta
saturno, 30 anos
sinto que é um livro que voltará ainda mais vezes, e voltará sempre transtornado
mais do que transformado, transtornado, apenas, muito lento
vivo demais, matéria brutal a talhar corpo, canções de busca, mistério da gesta
que lancinamos em palavras





é um outro livro _ TE CONVIDO_ VEM?

e deixo abaixo um rastro aromático do que seguir...




é lindíssimo ele vir nascendo junto com o primeiro livro de poesia de Marcelo F. Oliveira, o cesura, livro em que eu assino o posfácio, que é mais carta de amor, que é mesmo leitura de poesia


é lindíssimo estarmos, Marcelo e eu, acompanhados de Luis Maffei e Alex Castro, todos na barcarola farta da editora OFICINA RAQUEL, que agradeço sempre, sempre, Raquel, Ricardo, queridos



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SEXTAFEIRA, 14 de outubro

na CASA DAS ROSAS Av. Paulista 37

das 19h30 às 21h30







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abaixo, mais sobre o novo desfiladeiro



Desfiladeiro (RJ: Oficina Raquel, 2011) é um livro de contos que irá para sua 2ª edição, totalmente reescrito e reestruturado. Sua 1ª versão foi publicada em 2003, em São Paulo, pela Editora Nativa, como premiação ao concurso Caça Talentos, promovido por aquela editora. O livro contava com 9 contos. Em sua nova edição, são 10 contos, sendo 4 totalmente inéditos, e os demais 6 reescritos. Grande parte da tensão dos textos está na busca, um tanto quanto desesperada, das personagens por uma linguagem que as expresse. Tanto a linguagem quanto a consciência de suas identidades são escorregadias, o que gera um efeito estético no leitor de um excesso de dizeres, um ruído incessante da linguagem, que afinal, não passa de um grande vazio. As personagens, em geral, não focam sua atenção em acontecimentos ou descrições de eventos exteriores. Há pouca ação. Elas são quase estáticas, lembrando a ideia do ‘drama estático’ de O Marinheiro, de Fernando Pessoa. O que é dito (e desdito, rasurado) são as variações de sensações e percepções da relação delas com o mundo, lugar de entremeio nuançado, sempre prestes à dissolução.


Como sugere Ricardo Pinto de Souza, prefaciador do livro: “Mas para que este personagem surja é preciso que o tempo da narrativa tradicional, o tempo dos fatos e dos acontecimentos, seja enfraquecido em nome de um outro tempo, um outro ritmo, um outro tipo de sucessão que fuja à experiência alienada e inconsciente da vida que nós, habitantes de um mundo acelerado e espetacular, somos obrigados a suportar. Este tempo surge de dentro para fora, e é o tempo também desta identidade que vai lentamente se desenhando a partir de si mesma, e tem um fluxo distinto daquilo que é a vida não pensada, da vida não vivida, talvez. Um tempo mais concentrado, que faz com que cada instante narrado seja mais forte e poeticamente mais denso, e também um tempo em que os elementos de marcação, o antes e o depois, o anterior e o posterior, são enfraquecidos em nome de um agora permanente, o tempo agora da experiência. Nesta concentração a linguagem e a identidade ressurgem, ganham vida, escapam da morte e da dissolução. Pensemos que em muitos sentidos o tempo que vivemos, nosso espírito de época, é o tempo do luto de uma humanidade que vai se esvaindo no automatismo e na superficialidade, e perceberemos o quanto é seminal a experiência de Roberta em Desfiladeiro.


Trecho de desfiladeiro



Sinal, intervalo no mundo. Passa por tudo, apressada, roda a portinhola da saleta, agarra um pedaço de qualquer bolo. Lê remoída, lê insana. Escuto atrás da porta: louco. Que homem seria. Mandara pelo menino? Burra, desentendida, tenta ler ainda do começo. Começa pela terceira vez. Dos sons de seus olhos que eu escuto do corredor, ela tem medos de mim. Medos terríveis, sigo-me, repentino que não é minha a culpa, a satisfação, o desejo, a tara, a timidez. Vou perto, vejo ao longe, ela gritante e outros homens caminhando aos redores roedores. Muito de santa, acaba, e louco foi o que percebemos pela leitura dos lábios e do corpo todo. Os outros Srs gargalham o nervoso dela, dizem porcos de seus odores-dotes, ela tem rápidos medos deles. Ela é outra. De um vermelho empapado, guardado. Um corpo estranho, ela minúscula de sua pompa, temendo os grandes homens, temendo as grandes vidas e louco novamente. Todos eles loucos. (trecho do conto as manhãs em que vi a santa)

Um comentário:

ana rüsche disse...

estou feliz contigo, minha querida! maravilhoso o post, respira essa energia de renascimentos. um beijo, estarei lá.