dentro da pele um amontoado de carne? esta coisa animal?
e o pensamento, imagem abstrata filtrada do sangue? sangue sem sangue de um outro desejo?
entre o que ajo e calo, é real o pensamento? são sensações o pensamento?
como cheiro, escuto, pego, extravio do corpo, suo, olho, assim também o pensamento?
é o pensamento que move um corpo?
ou é o corpo que move um pensamento?
essas questões, essas dúvidas, que atalhos abrem?
e a escrita, coagula o quê? mais que a mão que escreve o real do agora escrevendo?
e tudo tornado imagem o que devolve? uma voz que atravessada já não é mais voz, é já silêncio?
se posso dizer 'eu' e você também pode dizer 'eu', 'eu' é o quê? 'eu' é de quem?
aqui, no limiar, do corpo por dentro pulsando orgânico, de uma fábrica louca
de encadeadas imagens projetadas para o mundo, um somatório vesgo de real-virtualidade?
as coisas se desdobram, se multiplicam, e o nexo de tudo é a andança liberta das coerências
fora das coerções que um sistema pode apelidar de razão, 'sentido', prumo -
o jardim é de um imenso comércio, e a origem das trocas extravasa a compreensão da matéria,
uma coisa passa de mão em mão e em cada mão é já coisa diferente que segue diferente
para outra mão; a síntese é improvável ou pertence a outro domínio, talvez o chamemos de 'mistério',
talvez 'vida', talvez 'deus', coisas improváveis que, só palavras, trocam de mão em mão, mudando de significado e forma, mudando mudando
chego a estar nalgum lugar da vida, em qualquer hora? chego a ser mais que viagem?
quando tudo é passagem, projeção, memória, e um corpo muito imagem
abstrato até demais, preenchido de pensamento, invisível por dentro, só feito de pele
forma, mudança, aparência, sonhos muito rápidos ou obsessões lentíssimas, o que é que
me identifica? a ideia que tenho de mim? a ideia que tens de mim? as ideias multigerminadas?
que rosto dar a ideia desta manhã?
que tom de voz dar àquele que me diz bom dia todos os dias
embora eu nunca lhe saiba o nome ou o rosto
e esta palavra: plasma ou denuncia? cria ou engana? ou é só palavra-casa
de um ignoto pensar alheio a tudo? palavra-nada?
quando é que alguma coisa, no pensamento, pisa a terra
e sabe a ser mais que evasão, voo, quimera,
mais que espontâneo riso descompromissado e liso
escorregando por tudo aquilo mesmo que se havia dito terra?
abrir uma dúvida é alimentar abismos
único modo de ser asa
quando o mundo nos encaminha
a sermos crias de um juízo
e pensar é sim um modo de sentir
e não é fingir desconhecer-se
pois que nada pára onde respira
nada define o que é ser nada
nesta 3af, dia 18/06, 19h45, no encontro de ASTROLOGIA E LITERATURA na MUNDO MUNDANO leremos o conto de F Pessoa, "A hora do Diabo" e o abriremos com palavras do signo de GEMEOS.
mais informações e inscrições: contato@mundomundano.com.br