20110607

te dedico um campanário de aldeia, uma brisa silvestre, acolhido amor















para minha amada Anna Cecília


que estará novinha em folha num piscar de olhos

foi durante a noite que cavei entre troncos um não
a recusa assertiva fez que do sono caíssem jarros e janelas
água pelo chão e o susto musculoso de pertencer ao abismo
o susto de não saber de fato a extensão de qualquer recusa

levanto-me não consigo fazer das horas sequer uma espera
não haverá analgésicos para o dia 7 de junho de 2011
há apenas uma fábula sincera de seres outros, uma força de fogo
com mãos e braços estendidos, uma força inexplicável
que abre os olhos do milagre

tu estás agora em repouso, guardada para a vida dos impactos
refazendo como um bordado o tecido do corpo
outra vez se abrindo ao que renasce, e os olhos
eu sei, os olhos terão depois um azul mais intenso
um azul que talvez tivessem as mulheres do mar
(a luz de um indestrutível baluarte) aquelas que atravessaram
a dor e voltaram, à hora de retornar
com uma ilha de bem-aventurança conquistada na pele

em teu repouso será cerzido o elo de frescor e suavidade
minúsculos pontos de estrela trabalham a flor ininterrupta
até que o sol arqueiro e delicado, aguerrido
e bravo, seja outra vez o sol que nós amamos pela cidade

um vendaval breve bagunça as orquídeas da varanda
uma sirene e uma criança cantam em coral baixo sob o céu prateado
diante de nossa precariedade que nos resta além do canto
partilhado? dos estilhaços de uma noite, Anna
um condão de erros nos circula a bainha dos passos
mas dentro dele, invisível e sonoro, um sopro interior
sustenta em pé essa exímia fragilidade, e ao dobrar
o Bojador, marinheira, calma e radiosa, tu voltas
outra vez, com o coração acelerado, fértil, entusiasta

ao centro intenso da grande cena
errante entregue à beleza viva deste drama-poesia
e quando nos saudarmos o futuro lá adiante, broto
de um eterno presente, será feita de sorriso e graça
a face ardente que teremos dado ao mundo

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