para todos os deuses, mel...
para a senhora do labirinto, mel...
(numa plaqueta encontrada em Cnossos)
"as plêiades sobre o labirinto ou Jornada de um desejo ou dioniso e ariadne" nasceu gêmeo do "fio fenda falésia", mas de útero diverso, de buraco tão arcaico eterno quanto, mas outro, de mesma data, fins de 2010. eu disse a mim mesma que era o que me presenteava em meus então trinta anos, a sagração mais uma vez deste que é cão em mim e me acompanha, na sebe das velas, na taça que se enche ininterrupta, dioniso. e ariadne aqui é mais que o só de carne-amor, é aquela constelação que se alça em canto, como havia selado mais que magistral, a maga Hilda Hilst, em sua ode descontínua e remota para flauta e oboé, "porque tu sabes que é de poesia minha vida secreta". ariadne é viço complementar, feitio de rama verdejante onde deitar a boca desregrada do deus, e gira a roda, vice-versa, ele é fruto que nasce da língua salivosa dela.
é um livro sobre amizades, então. este inviolável enlaço, que dá banquetes ao vivo. gosto que seja assim. distância plena, espaço que a palavra lubrifica, entre os olhos amantes. canto. poesia. chamei à epígrafe, Safo e Yvette K. Centeno. Safo, noite que não acaba, pavio de um desejo imenso, que desde os ofícios menádicos, vem madrinha. Yvette, alma-alquímica que me afeiçoa, do Portugal que é também berço de um mistério enquanto faço meu este tempo de vida da carne. entre epígrafes, 13 poemas, de dioniso e ariadne, 13 que é bar do desfiladeiro, roça-portinhola de rodar e palco daquela missa estranha em que tudo é outra coisa, transtornada, escrita.
vieram comigo Isabella Lotufo e Maiara Gouveia. Be-bella, desde os 8 anos, outro número enrodilhado nos destinos plutônicos do que vive e morre (dioniso). Bella desenhou capa e tudo, estivemos tardes juntas, ela delirante apaixonada, ouvindo a história inteira destes dois, nos reconhecendo neles, em nós, traçando o dia, o amorosamente das horas. Minha gratidão é a consumação colorida e delicada deste corpo nas palavras. Salve, ó belosa, amiga antiga, ursa-de-asas, serena. Ademais, adiante, coisas mais virão, de nossas mãos unidas, minha e de Isabella. Aos planos, aos traçados, às estrelas!
depois, Maiara, saudando, ao final, com deliciado murmúrio. Mai é também antiga, esfíngica. Ponto axial de uma amizade que ama estranhamente, e ama. Vértebra que alonga o dorso onde acariciar o tigre noturno. Espera ainda, espera. Obrigada, minha querida.
e como não podia calar, o livro foi escrito à Renata Huber. Irmã de rio, peixa-carneiro e centaura, lunar, que eu com o sineiro de minha constelação, chamei ao contágio, ilhas-belas, as noites sentadas ao chão com vela e garrafa e papeis espalhados, atentos, alentos. Poesia, o nome de minha amiga, Renata, este nome que tantas vezes dizem a mim, Renata, a renascida, cria de dioniso, ao dioniso agraciado. sei que os deuses quando nascem cantam a sua progenitura. eu canto ariadne e dioniso, em companhia de Renata, Isabella, Maiara e ele, Marcelo, mar-cielo, fusão dos horizontes, casa redonda do hábito dos cantos, ceia.
inventei proibida o selo água-ardente, o barco onde começamos, água ardente, que diria a Sibila das enócoas. selo que virá, voragem, para toda-poesia. iniciado aqui, neste tabuleiro.
que seja o axé dos deuses. a força viral do deus louco e livre. o deitar-se sobre o verde, sob o verde. morrer e retornar. para cantar, tantas vezes, dioniso e ariadne.
que seja o prazer de quem vem! venha!
Roberta
"Agora canto
os brotos do renovo
recebo o estigma do dia, tocheiro
à tua partida esférica, Dioniso
cartografia em pássaro azul
e nume emergindo antiquíssimo
(...)"