20120816

Bem duro é contradizer / o gosto que o fruto tem _________ poemas de Hildegard Von Bingen (1098 – 1179), poeta, mística, música, astróloga: a sibila do Reno!






I
DAS VIRGENS

Ó nobilíssima frescura, que no sol te radicas,
e em cândida serenidade fulges
no disco,
que nenhuma excelência terrena
compreendeu,
és circundada
por amplexos de divinos mistérios.

Tu ruboresces como aurora
e ardes flama do sol.




II
SINFONIA DAS VIRGENS

Ó amante cheio de doçura,
de dóceis abraços,
ajuda-nos a conservar
nossa virgindade.

Fomos formadas do pó,
Ai!, Ai!, e no crime de Adão.

Bem duro é contradizer
o gosto que o fruto tem.
Dá-nos coragem, ó Cristo, Salvador.

Nós desejamos ardentemente seguir-te.
Ó como é gravoso para nós miseráveis
a ti imaculado e inocente Rei dos Anjos
imitar.

Confiamos em ti, todavia
pois é teu desejo
a pedra preciosa permanecer em putrefação.

Invocamos-te agora, Esposo e consolador,
que nos redimiste na cruz.

Por teu sangue comprometidas somos para ti esposas
repudiando homem
para te preferir a ti Filho de Deus.

Ó belíssima forma,
Ó suavíssimo perfume de desejáveis delícias,
sempre por ti suspiramos
no exílio das lágrimas,
na esperança de contemplar-te e contigo permanecer.

Nós estamos no mundo
e tu em nossa mente,
abraçamos-te no profundo coração
quase como se foras presente.

Tu fortíssimo leão rompeste o céu
para descer ao útero duma Virgem
e destruíste a morte
para elevar a vida à cidade de ouro.

Concede-nos habitar dentro de seus muros
e permanecer contigo, dilecto Esposo,
pois nos livrastes das fauces do Diabo,
que seduziu nossos primeiros pais.




III

Ó jorro de sangue, que no alto retumbaste,
quando os elementos todos se confundiram
em lamentações e tremor
porque tingidos no sangue do Criador.
Unge nossas enfermidades.




IV
DE SANTA MARIA

Hoje foi aberta para nós a cerrada porta,
pois sob uma mulher a serpente sufocou.
Assim na aurora brilha
a flor da Virgem Maria




V
DE SÃO JOÃO EVANGELISTA

Ó doce eleito,
que num ardente ardor refulgiste,
raiz, que no esplendor do Pai
elucidaste a mística,
e penetraste a câmara da castidade
na cidade de ouro, que o rei construiu,
pois o ceptro das nações recebeste,
vem em socorro dos peregrinos.

Tu fecundaste a chuva
com os teus predecessores,
que a transformaram
nos pigmentos verdes dos pintores.
Vem em socorro dos peregrinos.




VI
PARA O EVANGELHO

Ó púrpura de sangue,
fluíste da excelsa altura
tocada por Deus
tu és a flor
que o sopro da serpente
jamais lesou.




VII

Em tudo transborda a caridade:
notável desde os abismos aos céus mais altos,
mais amável dos bens,
o Rei supremo
ela beijou.




VON BINGEN, Hildegard. Flor Brilhante. Tradução Joaquim Félix de Carvalho e José Tolentino Mendonça. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004. 

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