Dentro da cena viva
Onde os acasos se objetivam
Estive em Fés
Ontem, na tarde de 28 de
novembro
Bem quando havia no céu
eclipse
com lua cheia em gemeos
Na volta, até o navio
Abri o livro q tinha em mãos
“A obscura palavra do deserto”
de Edmond Jabés
Eu não conhecia o livro
que trouxera
Comigo
E porque o real em mágico
Se espraia de encontro a si
mesmo
Em muda e exasperada
Palavra justa
Abri o livro e li
Eclipse dentro do tempo
E no livro, este poema
A voz que eu diria
Encontrada
está aqui
Prestes ao mar
A vida toda:
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O ECLIPSE
Com a mão, cobriste o rosto.
A noite entrou no dia.
“Deus: defunto livro no livro
livre do fogo”, dizia ele.
Oh, morte, astro ocultado que
um círculo de aurora ainda cerca.
Oh, naufrágio, oh, sol, presa
complacente da tinta possessiva com que tudo se escreve.
Enfeita-se a eternidade com
seus próprios reflexos, quartzo negro que o instante quadricula.
Argola do convés: começada, a
viagem.
Argola da muralha: atestado, o
regresso.
Todo o livro é um livro de
bordo.
(Edmond Jabès, trad. Pedro
Tamen)
Um comentário:
obrigada.
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