20121222

retrospectiva afetiva em polaroide _ 2012

axé axé 2012 que se vai, bem-vindo ano 13, ano 5, ano solar

com um beijo meloso de amor para

Feso e Luc
Lili
Fabio e Matheus
Jura e Luquinhas
Olga e Dani
Mamis, Pai, Filis e Lo
Sileide e Celso
Lauris e Hugolino
Julieta MAP
Annita e Maria
Gabi e Carolis
Fred, de Belmonte
Belosa
Mira 
Toni Napoli, Eno Eno
Tiloca
Mai e Ana, peixas
Re H, a amazona
Lucas Guedes, Isa K., Carol K., Carol Nascimento e Julieta B, Gabi G.,
(toda a turma do sol)
os cães do sol e a casa do sol 
Morgana e Diana (Bob e Dita), preciosas cuidadoras
H I L D A, viva


 ___________________ a x é ___________________

















20121220

os caminhos que levam a elêusis (I)




chega  e diz
pele de leopardo
couro alaranjado
rosetas de meu nome
em plumagem de caça

alongada a febre
dos músculos que existir
fitando a linha imensa
da fome e do salto
chama-me dioniso

vertendo estrelas vermelhas
e um hálito de morder
a espessura clandestina
desta fenda selvagem
onde ceder ao fascínio

livre e louco
pele de leopardo
como abrir jugulares
seduzidas de morte
o jaspe vermelho

na língua hipnótico
lacre atado
ao transtorno
de qualquer corpo
apenas estagnado   



senha


gosto que
todo dia
alguém me
venha dizendo
pele de leopardo


20121218

notinha para a manhã de terça, sonolenta




alguns pássaros caem da chuva
enquanto a gata ainda obscura
esparrama claridade ao sono
equilibrado em mim, nela

com herberto na cintura
e uma ema em que deixar
a cabeça cheia de histórias
a manhã dura felpuda
e fechada e dizendo
terça-feira no trânsito
da avenida e da casa

o sonho se elabora melhor na manhã
da noite é feita água nos músculos e
logo alavanca a fúria dos gestos
dos pássaros da chuva da luz da cidade
eu e ela simétricas de um número de mar
continuamos a nos deitar para dentro
escrevendo reversos, calmos
poemas


1. num deles era roça queimada
o escorpião apanhava no corpo
o suor vazio do corpo e a língua
numa busca de farpa e definição
bagunçava os cabelos, a pele
se esticava, deitada e alada
a pele ardia sabendo o escorpião
brotando em água e calor
corpo de sebe e roça aberto
deitado ou alado, nu
em charcos


20121217

Clarice reluzindo, neles

...

chega à vida:
personagens acordam o fôlego, mas noutras mãos e bocas
bruxarias são também transe-de-corpos, transa, descida deles, via adulterada

estou louca, curiosa. será que alguém pegou na mão daquela personagem que mais me cativa?
Luis tinha me convidado para estar aí também, entre os cavalos a receber a pomba-maior.

eu comecei e recomecei algumas vezes naquele mesmo ponto ofuscado
- neblina na cidade - clarão de uma manhã metamórfica -

em que ELA, a preciosa, desce de um ônibus para conhecer o corpo

                                e como tudo cintila mas também desgasta, a história é guardar o ponto da epifania
                                                                                                                                            o encontro
quando, depois dele, passa a haver tempo, um tempo antes outro depois

                                nele-não: nele-ponto, não há nada, é uma meditação
         ela aconteceria duas vezes? no instante e na palavra? quando o instante transmuda-se em
                                                                  dito
                                                          e chega até nós


eu comecei. mas falhei. paralisei. o fantasma de Clarice, meu deus. maternidades e assassinatos.
quase volto pra Medea, mas era ela, a hipnótica com o laços de família (meu favorito)
ali: cruel, nublada, fosca, ardente

não entreguei a tempo a menina continuada
poxa, Luis, não deu, não foi desta vez, poxa
a coisa à força (e o tempo pode ser isso, um cadeado)
não veio. não veio. ficou em rabiscos. ficou pela metade. ficou em algum canto.
entre o meu fascínio pela história
(eu lia com Marcelo, pasma: como é possível, escrever, assim?)
e meu desejo de vilipendiar aquela menina aquela adolescência
(o negócio é mesmo denso, mexe na espinha da menina assustada que eu fui um dia
descendo de um ônibus que não existiu na minha adolescência)
(e depois a mulher que escreve, que brotou desta menina).

fiquei com o lápis na mão, desenhando uma boneca, uma nuvem, uma casinha, um trilho de trem
aquele desenho que fiz com uns 8 anos
e rasguei sem querer

agora nascem renascem alguns deles algumas delas
(será que alguém pegou na mão da mesma menina que eu tentei chorar, em texto?)
(será que não findou este luto? e aquela "preciosidade"?)

na 5af, corro pra ver. Lá no b_arco (que eu adoro). vou gulosa. vem?

um beijo eu deixo
no Luis que convidou e com quem manquei
(esperando já que numa outra me reconvide e que eu possa sim deixar dizer)
[imaginem um sá-carneiro reinventado, poemas abrindo personagens?] [imaginem!] [rs]
e na Raquel que é parceira desde sempre
e na Clarice, com uma vela alaranjada acesa
neste fim de dezembro de 2012

!


20121208

[agonia febre-fulgor _____ trecho de diálogo]


 [ainda dialogam, H. e Teresa, Teret]

 

(...)
T – Bebeste?
H – Daquela boca?
T – Em tua boca?
H – Bebo para conquistá-lo.
T – ...
H – Bebo para conquistar o vazio
       e ter quaisquer instantes de líquido
       preenchimento no denso da boca.
       Que seja mais que a ilusão de um beijo.
       Menos que a ilusão de um beijo.
T – Sabes o que dizes, senhora?
H – Que é difícil, Teret. Que não há trégua.
T – E depois, senhora?
H – Depois...? Depois engulo, abro as pernas.
      O elástico dos buracos, estendidos, todos
      e devolvo cada engano, líquida ainda, mas
      sobrevivente, gasta. Crua. Forçosa.
T – E vale o apenas de uma sobrevivência, esta crueza?
H – Não vale, Teret. Mas não vale ainda gritar
       demasiado, rogar as fúrias, afora correr
       até que o osso abra na carne o sinal
       triste de um martírio, esperançoso.
       De uma esperança flácida, paciente. Temerária.
T – Resignar-se?
H – Não. Não. Como das feridas o suficiente.
       Uma maçã por dia. Isto não é uma receita, não
       te assustes. Ou hábito. Ou semelhança.
       Sabes, eu nem gosto de maçãs.
       Mas por acaso nas manhãs passo pelo espelho.
       Olho, Teret. É importante saber esta cara.
       Para o corpo-a-corpo. Ereta.
T – Lutas com o que, senhora?
H – Com isto de nome e farpa, isto
       que me tem na boca. Assanha. Arrasta.
       Isso que me beija e me dilata, depois
       divertindo-se ou mesmo desenganado
       espanca, devasta. Luto e me deito.
       Nos poros as marcas do que me sobra.
       E escapa. No meio do rosto, oval
       esta passagem, que enfrentar.
T – Com palavras?
H – Com alimento.
T – E sorve o suficiente?
H – Só o demasiado.
T – Deves estar contente, senhora.
H – Estou sozinha, Teret.
T – Mas tens tudo isto nas costas.
H – Nas costas, na boca e no ventre. Esta demora.
T – Para onde irias, senhora, se te movesses?
H – És engraçada, Teret. Tens humor. Tem graça o que me pedes.
T – Pensaste que te pedias? Queres que te peça?
H – Vem aqui. Sobe na página, vem. No olho
      do pobre cão. Lambe por dentro destas unhas.
      Não sei como guardam tanta terra. Deixa
      que coloque a mão em tua boca.
      Baba neste labirinto falível, amiga.
     Goze depois, eu te peço. Espana o rabo.
     Não quero mais falar.
(...)