[ainda dialogam, H. e Teresa, Teret]
(...)
T – Bebeste?
H – Daquela boca?
T – Em tua boca?
H – Bebo para conquistá-lo.
T – ...
H – Bebo para conquistar o vazio
e ter quaisquer instantes de líquido
preenchimento
no denso da boca.
Que seja mais
que a ilusão de um beijo.
Menos que a
ilusão de um beijo.
T – Sabes o que dizes, senhora?
H – Que é difícil, Teret. Que não há trégua.
T – E depois, senhora?
H – Depois...? Depois engulo, abro as pernas.
O elástico dos
buracos, estendidos, todos
e devolvo cada
engano, líquida ainda, mas
sobrevivente,
gasta. Crua. Forçosa.
T – E vale o apenas de uma sobrevivência, esta crueza?
H – Não vale, Teret. Mas não vale ainda gritar
demasiado,
rogar as fúrias, afora correr
até que o osso
abra na carne o sinal
triste de um
martírio, esperançoso.
De uma
esperança flácida, paciente. Temerária.
T – Resignar-se?
H – Não. Não. Como das feridas o suficiente.
Uma maçã por
dia. Isto não é uma receita, não
te assustes. Ou
hábito. Ou semelhança.
Sabes, eu nem
gosto de maçãs.
Mas por acaso
nas manhãs passo pelo espelho.
Olho, Teret. É importante
saber esta cara.
Para o
corpo-a-corpo. Ereta.
T – Lutas com o que, senhora?
H – Com isto de nome e farpa, isto
que me tem na
boca. Assanha. Arrasta.
Isso que me
beija e me dilata, depois
divertindo-se
ou mesmo desenganado
espanca,
devasta. Luto e me deito.
Nos poros as
marcas do que me sobra.
E escapa. No
meio do rosto, oval
esta passagem,
que enfrentar.
T – Com palavras?
H – Com alimento.
T – E sorve o suficiente?
H – Só o demasiado.
T – Deves estar contente, senhora.
H – Estou sozinha, Teret.
T – Mas tens tudo isto nas costas.
H – Nas costas, na boca e no ventre. Esta demora.
T – Para onde irias, senhora, se te movesses?
H – És engraçada, Teret. Tens humor. Tem graça o que me
pedes.
T – Pensaste que te pedias? Queres que te peça?
H – Vem aqui. Sobe na página, vem. No olho
do pobre cão. Lambe
por dentro destas unhas.
Não
sei como guardam tanta terra. Deixa
que coloque a mão em tua boca.
Baba neste
labirinto falível, amiga.
Goze depois, eu
te peço. Espana o rabo.
Não quero mais
falar.
(...)
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