20130321

cartinha para Julia de C Hansen

são paulo, 21 de março de 2013

Julia, Julieta, minha querida.

hoje é o ano novo astral. somos arianas novamente, amazonas do teu alazão azul
(menina, como é que pode, acertar assim tão em cheio a imagem do desejo? ah. alazão azul)
(eu já te contei uma vez do Toronto, não foi? aquele cavalo que vivia em mim na infância, bem isso)

e assim se faz novo o ano. a lua hoje é leão. teu topo de céu (10), [eu sei, deuses, uau, me esqueço: com um saturno na 6 o pensamento é invertido!] [claro que não poderias ter leão no MC, rs. olhe como é esse saturno de 6 em mim... sim, querida, quando eu pensei fogo e sol, eu pensei força e fogo, e é o arqueiro com seu planeta júpiter que lá alastra, não é?] [desculpe a confusão] meu céu mais fundo (4). aqui na cidade, por este acaso de fogo, sinto que esquentou um pouquinho. que importa o tempo?
talvez só por beleza. é bonito os dizeres dele, guarda-chuvas, sirenes, sublimes, calçada, gente. é sempre a rebouças aqui do lado.
estou naquela luz pouca porque queimaram-se as lâmpadas, faz tempo e eu não troquei, por preguiça e por gostar desse tom. e que importa o tempo. talvez importe para te dizer dele. te contar daqui um pouco, das redondezas. sempre é possível que vc atravesse a pedroso e ali no bar da esquina, o bar do Wanderley, venha para um café azul. um posto de gasolina, um fim-de-tarde com bacardi, rum, gim. e os animais. a lua cheia.

vc está em lisboa. eu sinto lisboa pelos becos, pelo piche que tenho desejo de passar nesta cidade, pelo untar a piche rosas negras pela madrugada, ver dos canhões do ossuário daquele castelo uma mira só de tinta, e tinta escura em flor. lisboa é clara, entretanto. tem uma luz inesquecível. e eu fico tentando em mim nela o escuro. vc é parceira nisso. ah é. um escuro que anda em bando. que gosta disso.

que bonito o Bernardo te lendo. a boca imensa. os dentes brancos. a graça. o pingente na voz, cristal cristalino. fio de água e prata. que intimidade que há ali. o Luca também, escolhas outras, sobre o corte então, sobre a lavoura, os dias, seus pequenos ajustes. nem sei, foi tudo uma vez. a Érica que nos chama para ler em trio, a érica que é convite. li eu ela vc quem mais todos juntos livro na mão das telas, cor de um oceano palpável pelo silêncio. linda a érica. essa delicadeza. e tudo vc. sua alforria. seus blues. seu mar. seus destinos. mulher alada, terrena.

hoje eu não vim falar muito. vim te dar mesmo um beijo. a carta longa que eu espero eu te mando pelo correio, aquele, o volátil, o etéreo, o metafísico. aqui vim mesmo é te dar um beijo. estou feito menina com bolo, esperando teu livro o chão da feira (eu vejo isso, os poemas do destino do mar no chão da feira, ali perto de alfama, mas bem perto do tejo também, eu vejo tão bonito, eu estou de sapatilhas amarelas, sapatilhas de couro do sertão, os pés estão pintados de azul - é assim - e acaba de passar uma criança descalça, ela tropeça de leve no destino do mar, os livros balançam e tremeluzindo a gente vai atravessando até que eu me agacho e recebo de tuas mãos aquele que viverá comigo, os meus olhos sobre o destino do mar, aquela hora de ser espuma e festa, recebo de tuas mãos, e me levanto, vc segue abrindo a cada um um destino, rente ao chão, todos se agacham para tocar a oferenda; no chão da feira, um pouco mais pra frente, tem uma cigana vendendo roupas e lenços negros, ao lado dela mora a memória de um cão mouro e sob o corpo de tudo respira um sopro de deserto e um desejo de índio, um azul de bahia, um búzio.

obrigada).

está tudo lindo demais.


rosa












2 comentários:

júlia disse...

meu bem,
que coisa bonita e boa!
e assim fico eu lhe devendo uma resposta
mas não resisti em dizer que não tenho MC em leão não! ele é em sagitário. leãozinho abre minha 5.
e vocês no rio! que delícia,
beijo,

Roberta Ferraz disse...

querida Ju
ja corrigi lá no texto
é claro que leão não pode abrir teu MC se conheço teu ascendente.
mas minha cabeça de planejamentos funciona com um saturno embutido, minha casa 6 é só das inversões. confundo tudo, troco as bolas. aff.

quando eu dizia sol lá em cima eu pensava mesmo em júpiter. me lembro dele em ti.

te beijo querida

os poemas estão tão tão bonitos. vai mostrando as leituras todas. te agradeço

ro