20120903

relendo a história da sexualidade _______ poema de 'fio, fenda, falésia' ________ lembrando HH






relendo a história da sexualidade



sentir-te volumosa a fincar resquícios –
faço fim da surdez se me permites em trégua
nua o que renasce poesia, conto a ti:

bastam sopro e riso – e desmemoria
basta erguer-se a imagem fremente
daquele mosteiro de encanto e provações:

releio a história da sexualidade
um lugarejo surpreendido –
houve mulheres, séculos a fio
irmanadas na impoluta volúpia    
                                               de cegar dejetos, a querência
                                               dos fantasmas

(se exilaram
por dentro)

                         de ordens e regras monacais
                         o corpo um sólido montanhoso
                         pés enterrados e vegetativos –
                         loucas por deus

trespassada a dádiva – a dúvida
espalham para o alto a extensão do conhecido
e nomeiam de não-dito a valência das imagens
aquilo que o deus não safou – úmido,  pertencido

depois: noites baixas
exaustas de orar, lidadas
abraçam-se nas masmorras, lã
sob o mesmo puído feno lençol 

o tentado – o senão:
animais diários, afilhados da oração
               
                e no mais singelo meneio
                o tato fala o deus

                e o fragor da noite suave aflora
                o junco do desejo

e descobrem
real o mistério que apalpa

e nesta alfombra de acolhimento
e enlaço, o percurso à densa parte
reabrem – no tronco – o deus
cheio de lanhos, natural











                                     


                                                         a sensação de que o sexo só é real
                                                                                                     na infância








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escrito em amizade com Renata Huber e Érica Zíngano
/ ProAC / SP / 2010

ESTE POEMA
que sempre me lembra algo de Hilda)

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