relendo a história
da sexualidade
sentir-te volumosa a fincar resquícios –
faço fim da surdez se me permites em trégua
nua o que renasce poesia, conto a ti:
bastam sopro e riso – e desmemoria
basta erguer-se a imagem fremente
daquele mosteiro de encanto e provações:
releio a história da sexualidade
um lugarejo surpreendido –
houve mulheres, séculos a fio
irmanadas na impoluta volúpia
de
cegar dejetos, a querência
dos
fantasmas
(se exilaram
por dentro)
de ordens
e regras monacais
o corpo
um sólido montanhoso
pés
enterrados e vegetativos –
loucas
por deus
trespassada a dádiva – a dúvida
espalham para o alto a extensão do conhecido
e nomeiam de não-dito a valência das imagens
aquilo que o deus não safou – úmido, pertencido
depois: noites baixas
exaustas de orar, lidadas
abraçam-se nas masmorras, lã
sob o mesmo puído feno lençol
o tentado – o senão:
animais diários, afilhados da oração
e no
mais singelo meneio
o tato fala o deus
e o fragor da noite suave aflora
o junco do desejo
e descobrem
real o mistério que apalpa
e nesta alfombra de acolhimento
e enlaço, o percurso à densa parte
reabrem – no tronco – o deus
cheio de lanhos, natural
a sensação de que o
sexo só é real
na
infância
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(do livro fio, fenda, falésia
escrito em amizade com Renata Huber e Érica Zíngano
/ ProAC / SP / 2010
ESTE POEMA
que sempre me lembra algo de Hilda)
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