20130118

solto, assim, no vento do impacto, comovida, à Hilda



este círculo contempla a casa que será corpo de uma obra
esta é a árvore que guarda as margens do tempo por onde ver a casa
sob esta árvore esta é a pedra que condensa a obra lenta de subida da morada
estou tão viva quanto teu nome e tua vibração antes mesmo de encaixada
a porta por onde o sol se alastra e marca o rito de passarmos, todos, para o lado de cá
que é margem de um tempo sanguíneo e sincero, que é margem
de um tempo sem  máscaras ou pressa
ignea estás, entre o portão, ainda ausente agora, mas já preexistido como tudo, e o pátio
com dez colunas e uma fonte singela a soletrar o líquido fluxo do centro
estou aqui, debaixo desta árvore, sentada nesta pedra, vidente
do evidente, uma larga trajetória de abrir-se, devassar-se, lamber o olho de quem ver
vês, agora algo se manifesta, a equação do belo, sob uma árvore tão antiga
quanto a estrela que se entretece, suas pontas são halos brancos de espera
entre teu corpo, a pedra que te serve de mastro, feita por ti, sob a árvore
e cada ato de artesania do espaço maior, este outro corpo chamado casa
com que ter braços pernas e saliva dispostos à visitação de quem o sol cruzar

pegas um poema agora. pego nele. grão de terra umedecida. boca faminta
e sem fantasmas. vês clara a largura de tua mão. sabes a liquidez da pedra.
o íntimo dela em teu conhecimento, no riso precoce de ver a própria mão
conceber este outro mesmo corpo, casa, partilhável, habitação do gozo.
sabes o convite que darás ao vivo. eu viva imano desta mesma ceia.
esse grau de uma lua alta, dentro da casa o corpo, em que acordar cães
sem dono ou paraíso, sem medo ou fastio, sem defesa ou contornos. calma
ao lado de uma sexta-feira, eu ouço de ti o volume fincado ao destino com quatro pedras
quatro patas e uma mesa debaixo da árvore. pego na mão desta pedra em que te sentaste.
irmanada à terra que de nenhuma que me havia, presenteou-se em mim pés nus para caminhar
a ti, ensolarado o rosto. o olho enraíza feixes dessa sacralidade concreta,
fizeste com que eu saiba a estrela, os cães, o corpo, a casa,
esse horto dentro e debaixo, feito de árvore e seta. feito de mãos para obrarem.
não há fora daqui. e aqui tu agora entornas, ser-casa-árvore-obra,
líquido centeio e livre selva, segues
contemplativa e contemplada.
matéria. carne. perfume. exata.

Jurandy, Daniel, Juarez descobriram uma foto mágica do começo da construção da casa do sol.  a foto não é essa acima, mas essa acima foi uma das primeiras que tirei da figueira e seu banquete de pedra. fica aqui. quando olhei daqui a casa, quando entrei nesta angulação. a foto mesma, a descoberta, dos princípios, ainda não vi. mesmo não a vendo, me comovi. e disse isso. comovida. agradecendo, doce, essa mordida no real. 

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