um livro como uma vida
é a pele da partilha
as horas tomadas em concha pela mão
e eu bebendo água nas tuas patas
você alisando a crina de nossos bichos
nossos animais em nós bebendo avidamente
o tempo de juntos desenhar
o que será futuro
o que será saturação de saturno
antes de qualquer rua, a casa, o coração, as gatas: marcelo, diana e morgana
marcelo que, guerreiro de transparência, fez da casa este hotel beira-mundo
mas a rebouças e a secura e a quantidade de pó avançam pelos livros
com que dormimos juntos
ele ali, sem dar pelo ruído, sem dar pelo sol excessivo e claudicante
deixando que as filhas lambessem as feridas de meus pés
e que as unhas fossem arrancadas com o passar da vida, suaves como quem perde
o que nunca se perde, o corpo, as ruínas, as gavetas emocionais, as luas, as
manias as criptomanias
------------------------------ marcelo, morgana, diana: saturno é sim, agradecido
depois, ele, fernando
doze duzentas manhãs página por página às vezes rindo com tules de café no centro da cidade
vem, meu bem, não tem nada não
e o medo, puft, é uma fotografia de uma imagem nenhuma
fernando, dia, dia, dia, dia, à exaustão, deixando belo saturno
querendo comigo a beleza dessa hora
------------------------------ obrigada, irmão
e entra o coro trágico de dioniso, as mênades, minhas linfas extertoradas
minha garganta cigana gritando afônica e cheia de vento:
maiara gouveia, que foi amor intenso desde a primeira curva
e que escreve por dentro das metamorfoses
ana erre, ana rüsche, a mulher fulgorosa, de todos-os-fôlegos
que semeia assim de graça, semeia porque dança e ri e semeia, semeia
andrea catropa, o coração da andrea, a menina delicada lua canceriana
que me deu um retrato, como é bom estar perto, andrea, ah como eu gosto
e júlia hansen, julieta, que vive a medula do poema em todas as suas dimensões
num trânsito que eu imagino, lisboa-sampa, tão íntimo de nós, fazendo a amizade
essa coisa para além para mais, loucas na busca, julieta, a intensidade em sua entrega
e ainda mar, essa mulher com esse nome, mar, que me deixa boquiaberta
quando decide sim investigar a relativa cor real da gosma garganta
e te oferece o poema como um buquê de adagas, mar, hélices, meu deus, mar
-------------------------------- vocês, mulheres, mênades, são a noite necessária para que o dito de saturno não fique desesperado de ser mundo, obrigada, muito
ah, luis maffei, esse ano foi uma explicação da pura graça, não foi?
luis me presenteou camões me presenteou saturno, com este trio
o que mais desejar?, obrigada querido
e raquel, topando, vamos lá, aberta, querendo,
dizendo sim, vem, vamos lá, a força incrível de raquel
e a delícia de ser parceira da oficina raquel
desde a saudade que deixou ricardo
até a maçã em prumo nos ombros lindos da raquel,
obrigada, queridos
e tem ainda danilo bueno,
que é o amigo que qualquer pessoa sortuda quer ter
uma aula de peixes, esse amor doado, pronto, sem reservas
de cuidar do mundo, de quem nele habita, que leu quantas vezes o saturno, comigo
tão dedicado, obrigada
e tem ainda a isadora krieger
que é um rumo vertical que o poema ainda ganha
quando ela trouxer pro baile o seu livro belíssimo que vem vindo
obrigada, isa, pelas trocas em saturno, e todo o mais, de hilda e lume, que nos ata
e não me esqueço do fábio abreu
que no silêncio ofertado, cuidou que a imagem de saturno, a cena com lenha e árvore
na patagônia, ficasse toda exata pro prumo de sustentar saturno, obrigada meu lindo
a vocês, que diretamente, me deram de beber, durante este deserto sem anéis
eu dou os cabelos, a lonjura deles, a tempestade que eles chamam
e brindo a existência de um céu para olharmos em companhia
com um drink-poema à espreita
obrigada meus queridos
saudação de ana
saudação de andrea
saudação de júlia
saudação de maiara
saudação de mar
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