é no sol-pôr que nascemos, eu e tu, a renascer aquela outra, asa da carne
pela palavra posta, sendo mundo, e de ninguém, sendo sangue da vida comum
de quem lê
todo saturno
de quem vive
16h30
pois águas triangulares nos banhem, meu amor
estamos com saturno e o nodo norte em escorpião, orbitando o nono espaço, a casa da longas
travessias, já que saturno é mar íntimo, e navega pelo escuro silencioso de uma seiva d'água
troncos, ossadas, navios submersos, este saturno é ferreiro, como eu, ferraz, do timbre
antigo e metalúrgico das forças viventes nas cavernas, sob as pedras, no escuro ardente da pedra
cristalina, pois é transparente dentro do ouriço do mar
como diz aquele poema, o autorretrato como consequência, que logo em breve
virá aqui, dizer-se, em voz
a medula de um mar é noite em que parir rota astral e seus anéis
este o destino, nodo norte, de saturno, arquitetar a longa viagem do corpo estranho, íntimo
e livrar-nos todos das afeições pantaneiras, do lodo com amaciante que o passado cultiva
e conserva o corpo assolado por sobras, sobras & lavouras & lamentações
saturno corta
põe em queda
o poema
o poema corta
põe em queda
saturno
a lua estava, ontem, ao nascer, em câncer
e era lua minguante
aberta na casa 5
isso me prepara para o futuro, o trabalho de medeia, parir seus filhos mortos, ressuscitá-lo a 3
e vem com o ímpeto de finalizar o que saturno inicia:
o corte total a consciência mais clara do que é ter um passado no ventre
e carregar o oco de tantos mundos sem que o sangue menstrual
conte outra estória
medeia, tu ainda, trabalho em andamento com MAIARA GOUVEIA e ANA RÜSCHE
(peixas amadas que fazem isto ser possível, o trabalho, o corte, o futuro)
lua lua lua lua
absorta inteira canceriana, germinativa, cuidando de nutrir para que o corte não seja no vácuo
e ascendendo no nascer veio o signo de peixes
a oferta desmedida
isso que é poesia
sem brecha para coisa menor
do que todo o fôlego possível
todo o corpo sem cautela ou pudor
a voz exata em sua busca
de dizer claro o obscuro disto tudo
e dizer fosco quando o dito é de sombra
sem negociação nenhuma
piscianamente deixando o mar tomar conta
do seco das distâncias
e contaminar tudo com seu segredo
amoroso
no meio-do-céu a seta do arqueiro
e júpiter unido à lua
me dizendo os partos que saturno
abrirá no mundo
(para dentro ou fora dele
o mundo é mundo)
os filhos de saturno as filhas e as feridas
são pontas deste triângulo da
oferta - fartura do passado - corte alquímico
e eu agradeço
MUITO
cada pessoa querida que ontem esteve comigo
ao meu lado, assistindo a esse ato de nascer
e folheando na voz das mãos as primeiras frescas
(e antigas) páginas, quando puderam nos nossos olhos,
dentro do amor, acolher este tempo saturado
estes poemas parados
este insidioso retomar na palma calejada a faca breve
e sem fobia ou afobação
dissecar o medo
obrigada, meus amigos, penso em cada um de vocês, agora. beijo em pensamento.
saturno se fez. está com vocês. é vosso e outro. é nato. renato. morto.
que el duende continue bafejando sua orla no pé de nosso ouvido.
axé.
rosa
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