foi numa noite de julho? acho que sim, junho, julho, noite de lua, na casa das rosas (!)
naquele banheiro rosa, sentadas no chão, debaixo de uma pia antiga
a porta semi-aberta, um fiscal que passava de hora em hora ali, espiando
um grupo de teatro ao redor da escadaria gesticulava sons altos de talvez um shakespeare
ou um cordel
renata e eu conversávamos sobre poesia, cidade, sons, escrita, desde quando, são paulo, lá atrás,
música, leitores, leituras, portugal, pessoa, futuro, deserto, ciganos, ana c., sá-carneiro, trajetos, av. paulista, gente, sonho
...
depois ela convidou esse cigano do clarinete de Mário Aphonso III, que fez a paisagem virar vertigem e deu ao poema uma casa de vento, provisória, inteira
escutei caminhando pela cidade, a primeira vez, o programa pronto
cada gagueira era um pé torto que quase-caia da calçada
cada ritmo esfuziante uma aceleração estranha, fora de si
e o raciocínio nem é canção nem fado, é passo, é cidade, é agora
fui ouvindo, tão estranho isso, um espelho da voz, um espelho de voz
porque ver-se em imagem, video ou outra coisa parecida captura diferente a compreensão
o só ouvir-se é mágico, experimenta, a voz capta sim algum sopro que fora dela a gente não sabe
um sopro que não tem imagem, só sopro sem rosto, sem prisão, sem caminho
e aquele sonho de ser música ficou audível, comestível
gosto da sensação deste vocabulário da fome para pensar poemas, existência
do desejo
e sobretudo o mais interessante, a mim, ouvindo esse passeio com Renata
é que eu não sabia assim tão forte como quem fala na minha voz
é uma lua aquariana
rainha na voz, soberana, altaneira
não sabia...
a pitada do sol escorpiano está ali
mas exuberante mesmo é a lua
achei engraçado, me comovi disso
nem sabia
quando falo
assim apaixonadamente, tentando
loucamente compreender
(mas compreender é já um heroísmo
e não é tempo para heróis)
(chega deles, não?)
quando falo
ela fala alguém todo mundo
fala a lua
um eu lunar
trêmulo, de faltas enfeitado
desejoso demais
de ser mais vento
do que corpo
mais passagem
do que livro
mais poema
do que poema
e como em julho saturno já vinha vindo,
li poemas do saturação de saturno
e aproveito pra te convidar, pro lançamento
é um convite de uma hora, com clarinete e lua
e deserto e astros e cidade e desvão
desvios, disse, disseram
em que saturar para amar
até o amor de saturno
ser pedra opalina
crista de um sal
lavrado e aberto
caminhada junto
picnic
contigo
te espero lá
e aqui.
3 comentários:
tá foda, amiga. muito.
e depois de tanto, ainda essa:
"
a histeria
civiliza-se em profissão.
"
?
eu PRECISAVA ler isso.
obrigada.
ahaha esse liquidificador sou eu, Carol, quase (nunca) serena...
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