Ao Marcelo
O mundo.
(...)Ele não é denso, pois nele tudo penetra tudo; ele não tem duração, pois vem sem ser chamado e desaparece quando se tenta retê-lo. Ele é confuso, se tu quiseres esclarecê-lo, ele escapa, se ele não te encontra, se dissipa; ele virá novamente, sem dúvida, mas transformado. Ele não está fora de ti. Ele repousa no âmago de teu ser, de tal modo que, se te referes a ele como “alma de minha alma”, não dizes nada de excessivo. Guarda-te, no entanto, da tentativa de transferi-lo para a tua alma, Tu o aniquilarias. Ele é o teu presente, e somente na medida em que o tiveres como tal é que terás a presença; podes fazer dele teu objeto, experenciá-lo e utilizá-lo, aliás, deves proceder assim continuamente, mas, então, não terás mais presença alguma. Entre ele e ti existe a reciprocidade da doação; tu lhe dizes Tu, e te entregas a ele; ele te diz Tu e te entrega a ti. Não podes entender-te com ninguém a respeito dele, és solitário no face-a-face com ele, mas ele te ensina a encontrar o outro e a manter o seu encontro. E, através da benevolência de sua chegada e da melancolia de sua partida, ele te conduz até o Tu no qual se encontram as linhas, apesar de paralelas, de todas as relações. Ele não te ajuda a conservar-te em vida, ele dá, porém, o pressentimento da eternidade. (...)
(BUBER, Martin. Eu e Tu. São Paulo: Centauro Ed, 2006, p. 73).
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