Eu estou me liberando de mim, então tu, irrompido, me adaga nos olhos e não me permites mais passar as tardes. Dizes como testemunho, coisa madura, lençóis. Dizes que não é árvore, colheita, centeio ou travessuras, mas que opaca dentro, nesse véu, eu trago sem medir, eu trago o que queres. Tu me ofereces mel nas ruas. Tu me convences de que estou anêmica por dentro. Tu dizes que há muita fumaça na origem da minha poesia e tuas formas dos animais me forçam a correr atrás do boomerangue, é assim? Dizes. Tu, com uma lua, eu negra dentro. E querer me libertar de mim é só um cheiro, deitar-me na cadeira verde, abrasar as flores, colher no repasto do chão os grãos que não foram esculpidos e aliciá-los, breve, no meio de mim, sim, deixa-me fazer os emplastros com óleo hortelã alfazema, misture-os bem míngua pelo pilar de mármore e teus braços que caiam sobre o centro de mim onde tudo isso se elabora para esquecer-se.
As frases longas escondem que fagulhas. Eu e Tu. Não além coisas. Essa brutalidade eu como o e elaborando encruzilhadas: três caminhos. Tu como um totem apontando a terra a verticalidade a linfa curvatura genital de um animal onde termina. Nossas mãos são curtas umas para as outras. Os vestígios foram parar nos sítios do cinema, dentro de imagens, pingando cera nos ouvidos quando escutar melhor não é nossa opção. Eu não te disse nada.
Tu não me dirás nada. Estou opaca para palavras. E ninguém como tu o soubesse. Não dormir não acordar então te pergunto, te pergunto. Irás rir, se o soubesse. Tempo demais boiando pelo torto, mas eu vejo tu, e quando tu sempre és sabemos como eu sei que eu sou eu. E a jaula é uma pequenina prece.
Entender mal seria um privilégio dos homens, pergunto, tu irás rir, se o soubesse. Rir porque desfalece a foice anterior, e uma menina uma menininha será olhada enquanto tu te transfiguras em ti. Havia uma outra que sempre soube e se disse a flor. Eu não via. Mas estou me liberando de mim, sutilmente, águas humores trajetórias calmas e paredes brancas. O trigo nos foi dado pelo carneiro, mas a musculação do dia vem do exercício duplo, lagoa morosa em que fazemos a paz. Isso são estrelas. Eu e Tu. Maníacos, cardeais, estéticos.
Nutres o meu passado. E eu vi pelo redor da cidade o cemitério cerâmica vermelha como o chão que piso. Eu vi o esplendor limpo do vermelho indistinto. Eu vi como alguém dizia teu nome o que me fez virar a cabeça para a direção do mar. Eu vi que sozinha podia passear com os sons, sem seguir nenhum atributo, sem mandalas, com os pés bambos, com os olhos siderados, licença pra contar o mundo que é tão teu e dos teus outros que no esconderijo não dizem aonde vou.
Arranque. Eu com este e emoldurando o buraco com este pente de caminhos com esta abundância. Tu com teu vergão simétrico tua flecha riste teu pêndulo grego de onde atleticamente eu salto ornamentada para o buraco. Os desenhos não nos mentem, só ouçamos. Tu tirando da saia tu passeando os cães tu assaltando ladrões de cavalos tu indo fugir para o Equador tu dedicado para o outro tu jazido onde eu não me lembro eu parindo ruas para o encontro eu fingindo o corpo que tudo bem eu vendendo uma criança a ciganos.
O homem idoso que és centauro de livros dizes ele é Tu, sem limites, sem costuras, preenchendo todo o horizonte. Isso não significa que nada mais existe a não ser ele, mas que tudo o mais vive em sua luz
antes de rumar ao pleno deserto onde vivemos
e tirando-te o direito de sonhar doando-te o presente mito e literatura
dois pulmões
arroxeados
as concavidades tudo ou nada eu digo
o céu não se espanta conosco
Tu, Martinho, do teutônico poder, bolha de sopé
para o encalço eu teutônico poder,
analogias para o dizer
eu só queria dizer Tu
antes do fim do tempo
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