20120311

auto-retrato como consequência [poema-exercício]





auto-retrato como consequência

para maiara gouveia e érica zíngano


é transparente

dentro

do ouriço

do mar


necrófaga boca

alimenta-se dos mortos

a boca não fica

escondida

abaixo-dentro

mas tem cinco dentes

que formam a lanterna de Aristóteles

para a mastigação de algas

(como lei de esquecimentos)

a larva fixa na pedra dos fundos

iguaria nas bocas

ou quelóides

(esquecimentos difíceis)


echinoidea, dizer ouriços

o corpo é bolboso

o anus está no centro da face oposta

à boca, os quelóides podem ocorrer

espontaneamente

como abrasões ou infecções

o quelóide não regride

e quando excisado exorcisado

(excitado)

tende a recorrer

– esta fissura anal leva a adorar

nomes de doenças

como écrina anidrose

pérola montando cavalos marinhos

éguas selvagens remanescidas

de algum holocausto

apenas mítico –


não interessa tanto mas faz parte do retrato:

os quelóides foram descobertos

por cirurgiões egípcios em 1700 aC

se chele é caranguejo

e oide é forma

o quelóide é portanto uma seqüela

tão lunar quanto um útero um figo


vagueia camuflado em noite ou

mamífera introspectiva se

fora d’água vem a inesperada ruptura

em porca

porca crepuscular e viajante

ainda cheia

de espinhos

fora d’água ainda semeia

em estradas o lusco-fusco

dos atropelamentos

vive pouco

mais de três anos

solitário e territorial

na companhia de minhocas sapos

lagartos aranhas escaravelhos

difícil esquecimento da pele egípcia

e das sessões de extermínio

de sua cauda preênsil


em qualquer imagem

(capturada de relance)

fora ou dentro d’água

verá que tem escaras

como decoração


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