I
a vaca: agarre-se à lua
uma espreguiçadeira de verão
escura inominada
na opacidade cerâmica
do branco crescente
esfoliação do vento
melancolia da partida
são cinco as manivelas
acionam a lua embrulhada de calma
são sal lembranças penedos
dentro do fiapo de ver Anna
Zborowska
bebo
socorro à pane das cores
viúva tão fresca fruta tão viva
suspendêssemos por mais
você enlouqueceria
são apenas as orelhas, é comum
irritadiças, as corças do jardim, não eram corças
corujas
a mãe coruja
semblante sonoro da espera
então espera
suas orelhas estão quentes
no mínimo
nome
um registro
banal
toda façanha
banal
comovida ou não, é assim
as mãos dentro do som
vibrantes centelhas
de uma figa
inexata você disse, azul
inexata
propensa
à fome
ao sono
quando cargueiros desiludidos ou águias vermelhas encaracoladas
aquele grito
ouviu?
ele cheira
as respostas
do fogo pálido
ciladas agudas
você está aí?
escuto aplausos
o quê mais?
números
ciladas?
números
volto a existir e a rua
a música aspirante
dentro do copo vazio
bóia congelada
antes da goela
reto ao coração
e cessa
a aparição de guerrilhas, o mundaréu de espelhos, reflexivo abuso dentro dos acordes
quebram a alta engrenagem, tragam até agora aqui Roberto Piva
tremem, as mãos tremem demais, o verbo daquela artéria oscila, faz frio ainda ali, e é quente a fotografia
é a praia simultaneamente eterna, eterna, fosca, feita em polaróide para que deguste
o relógio deixado a brio numa parede demolida quase na noite, a paisagem crisálida da partida
imagino que Nova Iorque
seja um cargueiro
cheio de morte
mais uma fotografia
qualquer que desbotasse
adiado o rosto errante
da partida
nunca soubemos de ti não haverá súplica apenas um telefonema do hospital
mais próximo
de ti, quando sou eu
quem deixa dita a nossa
existência
a existência
da praia
de nome
Camburi , móvel nos dentes
tão frio, teu casaco
ali nos esqueceríamos de voltar
à noite nos restou
a música a espera
mesmo sagaz, música
indiferente
praia
destinada
a partir-se
fria
fotografia
para o Cairo ou Nova Iorque qual a diferença? a você
resta o corpo
a fuligem
de uns tecidos
quentes
ainda
quentes
agarrados
às ondas
num estertor
lento
é possível
apenas o mar
é possível
constato
soubéssemos
(como a areia)
rude
deixar o sangue
os duros dias
o torso os calcanhares
e que os ossos
amedrontados nus
naturalmente
deixassem
sugar
a porosidade da perda
já íntima dos madrigais
despedaçada e clara
no final do mar
eu cantaria sobre o veraneio
só sobrou aquela ali
com um prego enfiada
todas as noites
no mesmo sonho
é Camburi
você diz
é Nova Iorque
poderia ser Alexandria
não, não havia qualquer gota
qualquer sereno
dentro dos encadeamentos
onde se gravar fúrias, nem isso vulnerável demais
dentro de nós este caminhão adestrado
o cavalo não está a trabalho, balanço a cabeça ao senhor de dentes de ouro
reparo
começam a cair os cabelos do general
não são os meus os cabelos que caem
meus cabelos seguem imensos
meia-volta segunda visita de saturno
e basta uma viagem
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