20130901

paisagens poéticas, programa gravado e editado por Renata Roman _ lua, lua, lua, lua

                             cabelos, túnica
                                           buquê de incêndios

foi numa noite de julho? acho que sim, junho, julho, noite de lua, na casa das rosas (!)
naquele banheiro rosa, sentadas no chão, debaixo de uma pia antiga
a porta semi-aberta, um fiscal que passava de hora em hora ali, espiando
um grupo de teatro ao redor da escadaria gesticulava sons altos de talvez um shakespeare
ou um cordel

renata e eu conversávamos sobre poesia, cidade, sons, escrita, desde quando, são paulo, lá atrás,
música, leitores, leituras, portugal, pessoa, futuro, deserto, ciganos, ana c., sá-carneiro, trajetos, av. paulista, gente, sonho

...

depois ela convidou esse cigano do clarinete de Mário Aphonso III, que fez a paisagem virar vertigem e deu ao poema uma casa de vento, provisória, inteira

escutei caminhando pela cidade, a primeira vez, o programa pronto

cada gagueira era um pé torto que quase-caia da calçada
cada ritmo esfuziante uma aceleração estranha, fora de si
e o raciocínio nem é canção nem fado, é passo, é cidade, é agora

fui ouvindo, tão estranho isso, um espelho da voz, um espelho de voz
porque ver-se em imagem, video ou outra coisa parecida captura diferente a compreensão
o só ouvir-se é mágico, experimenta, a voz capta sim algum sopro que fora dela a gente não sabe
um sopro que não tem imagem, só sopro sem rosto, sem prisão, sem caminho
e aquele sonho de ser música ficou audível, comestível

gosto da sensação deste vocabulário da fome para pensar poemas, existência
do desejo

e sobretudo o mais interessante, a mim, ouvindo esse passeio com Renata
é que eu não sabia assim tão forte como quem fala na minha voz
é uma lua aquariana
rainha na voz, soberana, altaneira
não sabia...
a pitada do sol escorpiano está ali
mas exuberante mesmo é a lua
achei engraçado, me comovi disso
nem sabia
quando falo
assim apaixonadamente, tentando
loucamente compreender
(mas compreender é já um heroísmo
e não é tempo para heróis)
(chega deles, não?)
quando falo
ela fala alguém todo mundo
fala a lua
um eu lunar
trêmulo, de faltas enfeitado
desejoso demais
de ser mais vento
do que corpo
mais passagem
do que livro
mais poema
do que poema

e como em julho saturno já vinha vindo,
li poemas do saturação de saturno
e aproveito pra te convidar, pro lançamento

é um convite de uma hora, com clarinete e lua
e deserto e astros e cidade e desvão
desvios, disse, disseram
em que saturar para amar
até o amor de saturno
ser pedra opalina
crista de um sal
lavrado e aberto
caminhada junto
picnic
contigo

te espero lá
e aqui.







3 comentários:

liquidificador disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
liquidificador disse...

tá foda, amiga. muito.
e depois de tanto, ainda essa:
"
a histeria
civiliza-se em profissão.
"
?
eu PRECISAVA ler isso.
obrigada.

liquidificador disse...

ahaha esse liquidificador sou eu, Carol, quase (nunca) serena...