20120228

sylvia plath _ ainda | entrevista dada em 1962, um ano antes de sua morte




sylvia plath: entrevista/documentário/diário/descida (em 6 partes) _ meu segundo carnaval

parte 1, daqui será sempre Sylvia lendo Fever 103: não acaba o fim do fogo, o laço de fumaça para a angústia, não acaba mesmo morto, o fogo



parte 2
, dear diary, a máquina de escrever é uma extensão de meu corpo e my final memory of the sea is a violence



parte 3
, mademoiselle, that was my last act of love: she loved to show her scars, it all have stars



parte 4, a lua e o teixo: my heart under your foot



parte 5
, steam, the moon is no door: dark crime, I live here



parte 6, edge, misterious fevers, boiling heart


ovação sylvia plath: o grou límpido o gume agudo _ 3 dos meus poemas preferidos _ I'm only thirty and like the cat a have nine times to die







20120224

resenha DESFILADEIRO, no blog "Uma pausa para um café"

RESENHA : Desfiladeiro da Oficina Raquel


Desfiladeiro


Isbn: 978-85-61129-32-3
Autor: Roberta Ferraz
Editora: Oficina Raquel
Dimensão: 21.00 x 14.00 x 0.00 cm
Peso: 0.200 kg
Tipo de capa: Brochura
Preço: R$ 30,00


Sinopse: Grande parte da tensão dos textos de desfiladeiro está na busca, um tanto quanto desesperada, das personagens por uma linguagem que as expresse. Tanto a linguagem quanto a consciência de suas identidades são escorregadias, o que gera um efeito estético no leitor de um excesso de dizeres, um ruído incessante da linguagem, que afinal, não passa do vazio. As personagens, em geral, não focam sua atenção em acontecimentos ou descrições de eventos exteriores. O que é dito (e desdito,rasurado) são as variações de sensações e percepções da relação delas com o mundo, lugar de entremeio nuançado, sempre prestes à dissolução. (Disponivel no site da editora)

OBS: Esta resenha foi feita pelo Patrick nosso colunista, eu somente a postei no blog.


RESENHA:


Curitiba está parada hoje. Greve, chuva. O que significa tempo para postar! :D
Então trago hoje aqui a resenha do livro Desfiladeiro, de Roberta Ferraz.

Não vou mentir pra vocês. A leitura deste livro não foi simples. Mas em compensação, mostra um novo modo de construir uma história. Na verdade, quase uma desconstrução. Pra quem está acostumado a leitura fluente, regrada e simples, vai encontrar uma certa dificuldade ao comçar a ler, Desfiladeiro. É necessário até um pouco de força de vontade. Mas! O melhor é que isto é recompensado.
O livro é uma incógnita constante; É a busca de um personagem que vive em interrogações sobre seu verdadeiro "eu". E o próprio, através de uma construção pessoal busca mostrar isto no livro. A obrigação de fazer sentido e de construir uma imagem constante é expressada a modo do personagem, mostrando ao leitor que nem sempre se faz necessario o sentido puro e regrado para expressar o que é o algúem. A busca de si mesmo e de um modo unico de expressa-lo é o carro chefe desta nativa no mínimo, diferente de tudo que ja li.
Cada parágrafo faz você refletir sobre a escolha de cada palavra, ponto ou desordem. E quando você pensa que tudo é um amontoado de palavras sem sentido, você para, pensa e finalmente consegue enxergar as conexões que estavam ali de certo modo ocultas, mas escancaradas ao "eu" que as escreve.
O livro é bonito e eu sou apaixonado pela fotografia da capa (Serra do mar - da própria Roberta Ferraz). Tem apenas 108 páginas, em uma diagramação simples. Páginas amarelas, as quais julgo melhor para leitura e até mais bonitas; O único problema é o tamanho da fonte, que é pequena comparada a qualquer outro livro.Torna um pouco cansativo forçar a visão para entende-las e não se perder no meio de tanto texto.


Em suma, um livro muito bom, mas com um nível de entendimento mais complexo que os outros, mas nem por isso deixa de ser uma boa opção de leitura.

Minha nota: 3/5 - O tamanho da fonte pesou na minha avaliação. E muito.



para conhecer o blog, ler outras resenhas, clique aqui

20120216

escuta d'água _ alguns poemas de FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO (1938 - 2007)





GRAFIA 2

Está no rio
o embrião da noite

O rio livre
com apenas o princípio evidente
de todas as formas

A água íntima dos lábios





TEMA 6

Água polícroma inumerável
corpo de ligação no centro dos subterrâneos
lábios superfície de lago
água interna com espessura de mar





AS OBRAS NAS FORNALHAS

Há rios de abas perversas como o Tejo, de barcos com destino
posto não às brumas
dos mares seculares cortados
mas a outras

de rios de súplicas,
de embarques nas praças
públicas e acenos de aço. Nos fornos
do ferro o fogo não tem a claridade
dos ferreiros debruçados
sobre as obras da paz.

O rio devasso inunda, trazendo
águas correntes com o destino,
posto em águas lodosas do Tejo,
de trabalharem aços contundentes.





ÁREA BRANCA / 17

Escrevo como um animal, mas com menor
perfeição alucinatória. Não sei imprimir as três linhas
convergentes do pé da gaivota, nem os pomos
leves da pata dos felinos. Só de uma forma rudimentar
escrevo, e estou a predestinar-me ao fim.
Depois de tantos séculos posso afirmar
que a escrita é uma escravidão dura.
Sei que é inútil e desumano mover as mãos
assim. Nem estou convicta de que seja digno
escrever desta maneira; é uma manufactura triste,
quando as mãos podiam apenas escavar
na terra ou no corpo. Podem ficar as palavras
somente na fita magnética como nas cabeças loiras.
Nada na infância nos deveria obrigar
a traçar as patas dos roedores repelentes
que são letras. O som da boca deve escrever-se
no écran, como a nova razão da nova máquina
da realidade. Na areia, porém, ou no mosaico molhado
terei de aperfeiçoar a minha pegada. Aproximar
dela a mão até alcançar a harmonia do trilho
do escaravelho. Uma fieira de montículos
e ranhuras até ao infinito que para ele é o mar.
Há quantos séculos os seres humanos me aprisionaram
no mito da caligrafia. Como tem sido penoso esse gesto,
há tanto tempo, e só eu o renego, porque sinto
a opressão com que alguém o tornou mais nobre
do que a minha fala ou a minha visão, únicas
propensões inatas. Prefiro aprender pormenorizadamente
a conservar uma impressão digital. Há um pensamento
abstracto e maquinal que decora a História com inteligência
mecânica, e por isso é supérfluo escrever. Só alguns
raros escribas, como os desenhadores de máquinas,
seriam necessários. E poderia descansar a cabeça
no regaço da lama.

Ensinaria à infância a gravar
no pó de talco a palma das mãos e a considerar as palavras
modulações da voz pura, sem a mancha embaciada
compacta que paira diante dos olhos sempre
que se fala. A mancha que se desloca no raio de visão
e desbota qualquer imagem como a chama de uma vela
com a fuligem constante a torná-la opaca.




ANJO DE PAPEL OU DE ÁGUA?

Se Tu não voltares estes poemas hão-de-tor-
nar-se trágicos. O texto vai revelar a
cicatriz de seda e os laivos claros do meu
choro. A contra-coração vou reescrevê-los.
Hei-de encontrar aqui uma placa lisa
para arrastar as letras até à regueira
turva. A imagem da água que era a de uma
simbiose entre Ti e a minha ideia de Ti
vai enegrecer. A podridão há-de
macerar o poema. Vou ser eu o autor
a quem a agonia devora juntamente
com um livro inerte. Quando Tu não
voltares eu saberei ler como um iluminado.
Os significados metafóricos levá-los-ei
até à ironia. A realidade levantá-la-ei
dessa valeta. Vai fascinar-me o torvelinho mor-
tal em que mesmo os poemas sem dor
sempre se desfazem. Quanto mais estes
em que se ostenta o Amor em páginas ás-
peras até eu perder a noção de estar presente.



Brandão, Fiama Hasse Pais. "Âmago (antologia)". Lisboa: Assírio & Alvim, 2010.

20120212

curso sobre Dostoiévski e Bergman na editora Intermeios | com FLÁVIO RICARDO VASSOLER


O niilismo da modernidade
pelos prismas de Fiódor Dostoiévski e Ingmar Bergman

Professor Flávio Ricardo Vassoler
Doutorando em Teoria Literária e Literatura Comparada pela FFLCH/USP
Período de realização: de 10 de março a 28 de abril
Dias e horário das aulas:
sempre aos sábados, das 15h às 18h, nos dias 10, 17, 24 e 31 de março e 7, 14, 21 e 28 de abril

Local de realização:
Editora Intermeios – Casa de Artes e Livros
Rua Luís Murat, 40 – Pinheiros

Sinopse do curso
Ao sepultar Deus, a instância suprema a partir da qual emanariam e sobre a qual recairiam os princípios e fins éticos, a modernidade arremessa o ser humano em um turbilhão relativista em meio ao qual tudo o que é sólido desmancha no ar. Pelos prismas do escritor russoFiódor Dostoiévski (1821-1881) e do cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007), analisaremos a ascensão paradoxal do nada como princípio (anti-)ético normativo – eis o Reino de Nihil, o niilismo. Os filmes O sétimo selo (1956) e a trilogia do silêncio –Através de um espelho (1961), Luz de inverno (1962) e O silêncio(1963) – dialogarão com o parricida Ivan Karamázov (Os Irmãos Karamázov), o homicida Raskólnikov (Crime e Castigo), a reencarnação de Cristo, o Príncipe Míchkin (O Idiota), e a encarnação do niilismo, o homem do subsolo (Memórias do Subsolo), de modo a estabelecermos a genealogia do relativismo ético desde o século XIX até os seus desdobramentos pelas diversas esferas existenciais ao longo do trágico século XX.

PARA MAIS INFORMAÇÕES, visite o blog de Flávio Ricardo Vassoler, o subsolo das memórias

20120211

.choveu. para Ponge e seu poema: A CHUVA




A CHUVA _ Francis Ponge
trad. Júlio Castañon Guimarães

A chuva, no pátio em que a olho cair, desce em andamentos muito diversos. No centro, é uma fina cortina (ou rede) descontínua, uma queda implacável mas relativamente lenta de gotas provavelmente bastante leves, uma precipitação sempiterna sem vigor, uma fração intensa do meteoro puro. A pouca distância das paredes da direita e da esquerda caem com mais ruído gotas mais pesadas, individuadas. Aqui parecem do tamanho de um grão de trigo, lá de uma ervilha, adiante quase de uma bola de gude. Sobre o rebordo, sobre o parapeito da janela a chuva corre horizontalmente ao passo que na face inferior dos mesmos obstáculos ela se supspende em balas convexas. Seguindo toda a superfície de um pequeno teto de zinco abarcado pelo olhar, ela corre em camada muito fina, ondeada por causa de correntes muito variadas devido a imperceptíveis ondulações e bossas da cobertura. Da falha contígua onde escoa com a contenção de um riacho fundo sem grande declive, cai de repente em um filete perfeitamente vertical, grosseiramente entrançando, até o solo, onde se rompe e espirra em agulhetas brilhantes.

Cada uma de suas formas tem um andamento particular; a cada uma corresponde um ruído particular. O todo vive com intensidade, como um mecanismo complicado, tão preciso quanto casual, como uma relojoaria cuja mola é o peso de uma dada massa de vapor em precipitação.

O repique no solo dos filetes verticais, o gluglu das calhas, as minúsculas batidas de gongo se multiplicam e ressoam ao mesmo tempo em um concerto sem monotonia, não sem delicadeza.

Quando a mola se distende, certas engrenagens por algum tempo continuam a funcionar, cada vez mais lentamente, depois toda a maquinaria pára. Então, se o sol reaparece, tudo logo se desfaz, o brilhante aparelho evapora: choveu.


20120210

arquivo surrealista _ Revista TRIPLO V


SURREALIMO: POESIA & LIBERDADE
Coordenação Editorial:
Maria Estela Guedes (Portugal) & Floriano Martins (Brasil)
Concluído em 2009


para acessar o arquivo, clique aqui


(recomendo, há muitos textos interessantíssimos)

M_E_D_E_A | exercício

20120209

em março: no IFF _ curso ASTROLOGIA E LITERATURA _ módulo 2: virgem, libra, escorpião, sagitário, capricórnio, aquário e peixes _ INSCREVA-SE!!!!

já está disponível a programação do módulo 2 do curso ASTROLOGIA E LITERATURA, que acontecerá no INSTITUTO FIGUEIREDO FERRAZ, em Ribeirão Preto, a partir de 22 de março!

clique aqui para inscrever-se online!



ASTROLOGIA E LITERATURA -
Módulo 2Virgem Libra Escorpião Sagitário Capricórnio Aquário Peixes
*aulas quinzenais


É comum esperarmos da astrologia apenas o óbvio divinatório, as previsões futurísticas, a bola de cristal. No entanto, isso não passa de uma camada muito superficial do que vem a ser esta linguagem. A astrologia, podemos dizer, é uma das mais antigas linguagens usadas pelo homem, com mais de 4000 anos, com seu alfabeto e seus símbolos, com sua sintaxe e seu amplo poder difusor. Por ser uma linguagem altamente simbólica, e devido aos símbolos nutrirem uma força expressiva sobretudo ambígua, vemos que não só é possível, como também pertinente, traçar paralelos fortuitos entre a linguagem astrológica e a linguagem literária. O objetivo deste curso é fazer esse cruzamento de linguagens, como forma de agregar ao estudo de obras literárias mais uma possível trilha de leitura. As obras literárias selecionadas para o curso serão lidas e discutidas visando a exploração do tratamento específico que cada obra atualiza e expande do arquétipo de cada signo astrológico.

Aula avulsa - R$ 100,00
Curso completo com 7 aulas - R$ 570,00 em 2X

Aula 1 - O signo de VIRGEM e A biblioteca de Babel, de Jorge Luis Borges (conto do livro “Ficções”)
22/03 Quinta-feira das 19h às 20h30

Aula 2 - O signo de LIBRA e seleção de poemas de Vinícius de Moraes*
05/04 Quinta-feira das 19h às 20h30

Aula 3 - O signo de ESCORPIÃO e seleção de poemas de Carlos Drummond de Andrade e Sylvia Plath*
19/04 Quinta-feira das 19h às 20h30

Aula 4 - O signo de SAGITÁRIO e O lustre, de Clarice Lispector
03/05 Quinta-feira das 19h às 20h30

Aula 5 - O signo de CAPRICÓRNIO e seleção de poemas de João Cabral de Mello Neto*
17/05 Quinta-feira das 19h às 20h30

Aula 6 - O signo de AQUÁRIO e Orlando, de Virgínia Woolf
31/05 Quinta-feira das 19h às 20h30

Aula 7 - O signo de PEIXES e O amor louco, de André Breton
14/06 Quinta-feira das 19h às 20h30


*As seleções de poemas serão enviadas por email,aos participantes, com alguma antecedência às aulas.

* Não é necessário ter feito o curso módulo 1 ou seguir o curso em sequência; há disponibilidade de aulas avulsas.

20120207

celebrando aquário e esta lua cheia de fogo _ os amigos em viagem





com Lilian Jacoto, Fernando Falcon, Lucas Simões, Gabi Araújo, Carol Bertier, Laurets e Hugolino, Ro Eno, Freddy, Tonha, Fabio e Marcelo _ Bahia 2011-2012

Sapho

Sapho. escultura de James Pradier _ 1852 _ Museu d'Orsay (Paris)






"... e perto dos templos derruídoss
a respiração do velho Mar..."
(Dora Ferreira da Silva, Hídrias)



cabeça amendoada inclino-me ao seio
festejo silêncio e brecha, vento
abrindo o véu que o guardava
pende o tecido em oferenda, eu
inclino e acendo
o riso ensimesmado, a ti
o que perturbaria?

o colar de ouro o colo
cravejado com juras e sinais
a serpente aninhada ao pulso
o gesto de estar
sedutoramente para dentro

sentada neste penhasco, tendo
a calda do tecido ventando em mim 
o mar está
satisfeito

com a lira ao lado
a antiga tartaruga de Hermes
o gozo fundo de Apolo
Sapho
faixa nos cabelos, prensas
fivelas a deixar livre o pendor
de tecer sobre ombros
costas delicadas seios
um coração dependurado em cada
escuta, e é em ti que me movo
mar, amante

dentro de mim entregue refeito
apareço a sorrir - olho-te
não vês que olho
e diretamente só olho a ti

(ao redor da estátua
Outra mulher sedenta do contato
- primeiros olhos de ressaca -
fixa taxativa, a negação aos visitantes:
o pólen de guardar tempo, dentro de caixas
brancas e ameaças
as substâncias incólumes
a macular as estátuas: fora do vivo
não se pode
tocá-la)

o rosto um triângulo
os cabelos trigais adocicados
e é em mim que me chamo
chamando-te mar
amante

leda mão absolutamente
em concha
sabe o fim das pernas
coleadas em mel, hastes
de vime e vinha, uma ritualística
do desejo

ser este corpo em perfeita calma
culminada de estratégia e de perícia
címbalo convulsivo, pedraria lavra
serpente em riste a untar o punho
antes ou depois de cantar
antes ou ainda que cante
canto azul marinho, pinhais, distância
e clara

repleta de iguarias
o olhar marmóreo o busto
ao contrapelo do tangível
lira cornucópia de um couro
exposto e esconso
feito para ti e de ti oculto

são sete as cordas da lira
e o labirinto no casco que
o colcheio do som abriga

invento
um rio apenas com este gesto
uma inclinação de cabeça para o Tejo
este aprumo de puro arder mar
amante

estrondo mortalmente silencioso
a tua queda dedicada ao olho
um busto levemente ácido
no vento alto desta falésia
não saberás?

tem ainda a lira Dioniso
seus cachos rugindo escorrendo
pela lateral do leste

ergue firme a mão direita e circunda
a taça a qualquer imagem que voe
é agradável sentar-se ali, nos despojos
da cria da pantera, homens, mares
junto à mão a taça
à cintura e dentro dela
bebendo
o pássaro entusiasmado

assim será a pureza das rolas
curvar-se alta ao poço
do que impele Baco
atrás de ti, Sapho
de mim, rente em tua queda
desmembrado o ciso dos triângulos
nas noites longas e afiadas
nus em bosque indistinto
- sagradas

a taça de Dioniso a voz
de Sapho a lira
de uma noite
inquebrantável

protejo, projeto, não saberás
se ajeito os olhos no colo do firmamento
ou se fito quão longe do mar
o repouso agitado dos teus membros

não saberás, tenho os olhos claros

e este declive em minha face
enlaça dedicada maneira
de entoar a lira com a lira
deitada ao lado


----------------------------------------------
este poema (incompleto, ainda, cheio de lanhos) foi escrito numa tarde de 2010 no Museu d'Orsay, na companhia de Marcelo e Lilian. É dedicado à memória de Sophia de M. B. Andresen e Dora Ferreira da Silva. Hoje o querido Claudio Daniel o rememorou em seu blog e, aproveitando a ocasião, lanço-o além-mar (mar_amante) para brindar o aniversário de Yvette Centeno.

20120206

algumas canções da 'canção de Bilitis', de Pierre Louÿs

II
CÂNTICO PASTORIL


Suba-me aos lábios a canção pastoril desta hora; é preciso chamar
por Pan, o deus do vento estio. Guardo o meu rebanho e Selénia,
o seu,
à sombra redonda de uma oliveira que estremece.

Selénia está deitada entre ervas e flores. Levanta-se e corre,
ou procura cigarras, ou colhe flores com ervas,
ou passa a água fresca do ribeiro
pelo rosto.

Eu arranco lã do dorso alourado dos carneiros
para prover minha roca, e fio. Lentas são as horas.
Uma águia passa pelo céu.

A sombra gira: mudemos de lugar o cesto das flores
e o jarro de leite. Que me suba aos lábios o canto pastoril
deste fim de tarde: ó Pan, deus do vento estio.





V
O VELHO E AS NINFAS


Vive na montanha um velho. Cego, por ter olhado
as ninfas; seus olhos estão mortos. É dessa reminescência longínqua
que continua a jorrar sereno o júbilo em que vive.

"Sim, eu vi-as", disse-me ele, "Helopsicria
e Limnantis estavam de pé, não longe das margens,
no charco verde de Fisos. Tinham os joelhos cobertos
pela claridade das águas.

As nucas cediam ao peso de seus longos cabelos.
As unhas eram finas como asas de cigarras.
Tinham seios reentrantes como cálices
de jacintos.

Passeavam os dedos pelas águas e libertavam
da lama invisível nenúfares de caules esguios.
Em torno das suas coxxas abertas,
expandiam-se lentamente ondas circulares..."





XV
O ANEL SIMBÓLICO


Os viajantes que regressam de Sardes falam
dos colares e das pedras preciosas pesados que cobrem
as mulheres de Lídia, desde o alto do penteado
aos seus pés pintados.

Aqui, as raparigas não uam braceletes nem diademas;
trazem apenas no dedo um anel de prata,
com o triângulo da deusa gravado no engaste.

Quando voltam o vértice para fora,
quer dizer: Psiquê disponível. Quando voltam o vértice para dentro,
quer dizer: Psiquê fechada.

Os homens acreditam que é verdade, as mulheres, não.
Pelo que me toca, não olho nunca para que lado o vértice está voltado.
Psiquê está sempre disponível,
Psiquê desliga-se com imensa facilidade.





XVI
AS DANÇAS AO LUAR


Na erva tenra da noite, todas as raparigas
com cabelos violeta dançaram aos pares,
as "rapazes" imitando as réplicas do amante.

Diziam as virgens: "Não vos pertenceremos".
E sentindo a vergonha que não sentiam,
ocultavam a virgindade, enquanto, sob as árvores,
um vate egípcio tocava flauta.

Respondiam-lhe as outras: "Vireis procurar-nos".
Tinham apertado as vestes em vestes de homem
que não eram, e lutavam como se não lutassem,
as pernas bailarinas entremeando.

No fim, dando-se por "vencidos", cada uma delas
tomou sua amiga pelas orelhas, como uma taça pelas duas ansas
e, inclinando a cabeça, bebeu-lhe o beijo.





XXXI
OS TEUS CABELOS


Disse-me ele: "Esta noite, tive um sonho. A tua cabeleira
enrolara-se-me o pescoço. Os teus cabelos enroscavam-se,
como um colar negro, à volta da minha nuca e do meu peito.

Acariciava-os; e eram os meus; e, para sempre,
estávamos ligados pela mesma massa de cabelos,
assim, boca contra boca; éramos dois loureiros
que, como acontece, partilham tantas vezes a mesma raiz.

E, pouco a pouco, tive a impressão
de que os nossos membros se haviam de tal modo confundido
que eu me transformava em ti, ou que tu entravas em mim
como o meu sonho".

Quando acabou, colocou docemente as suas mãos
sobre os meus ombros, e olhou-me com um olhar
de tanta ternura que senti um arrepio, e baixei os olhos.


(LOUÿS, Pierre. O sexo de ler de Bilitis. Trad. Maria Gabriela Llansol. Lisboa: Relógio d'Água, 2010)

20120202

érica zíngano em Berlim

feliz com a nótícia, saúdo aqui a querida ez, que escreveu comigo e Renata Huber o nosso vosso de todos fio, fenda, falésia! a boa nova é que Érica participará de um dos maiores festivais de poesia da Europa!

abaixo, a fala que Ricardo Domeneck, curador do evento, postou em seu blog:




Anúncio oficial: os 6 poetas brasileiros convidados para o Poesiefestival Berlin 2012

Como anunciei no fim do ano passado, o Festival de Poesia de Berlim (Poesiefestival Berlin) dedicará a Oficina de Tradução desta edição de 2012 à poesia brasileira e convidou-me para fazer a curadoria. Trata-se do projeto VersSchmuggel, geralmente traduzido em português como "Contrabando de versos", um dos eventos mais importantes do festival que é um dos maiores da Europa e está em sua décima-terceira edição. Nesta oficina, poetas de uma língua ou país são convidados a passar uma semana em Berlim, trabalhando com poetas germânicos (com ajuda de um intérprete e "traduções literais" dos poemas selecionados) em traduções mútuas, mais tarde publicadas em uma antologia bilíngue tanto na Alemanha como no país (ou países) dos convidados. Em 2008, o Festival dedicou o projeto à língua portuguesa. Este ano, especificamente à poesia brasileira. Como curador, trabalho pelo qual, aviso de antemão, não estou recebendo qualquer remuneração pois todo o orçamento é justamente destinado aos poetas convidados, tentei respeitar as condições e constrições de representatividade educadamente sugeridas pelos diretores artísticos do Literaturwerkstatt. No entanto, a condição principal de convidar apenas 6 poetas implicava de saída um desafio insuperável para esta mesma representatividade. Minha preocupação primordial e decisiva foi uma única: qualidade literária, tratando-se de um projeto que culminaria num livro. Nada mais posso dizer em defesa de minhas escolhas, sabendo que a lista poderia ser completamente diferente – mantendo esta qualidade; tudo que posso dizer é que ponho minha mão de crítico no fogo por cada um destes poetas. Como os poetas, alegrando-me muito, já aceitaram o convite e confirmaram sua participação, anuncio aqui os nomes, na esperança de que a generosidade de todos leve-os a também alegrar-se com as inclusões, acima dos que certamente se apinharão, como sempre, sobre as exclusões.Agradeço a Thomas Wohlfahrt e Aurélie Maurin, do Literaturwerkstatt, pelo voto de confiança e generosidade.


POETAS BRASILEIROS CONVIDADOS PARA O POESIEFESTIVAL BERLIN 2012Versschmuggel/Contrabando de versos.

Poesia brasileira e germânica em pares.

Curadoria de Ricardo Domeneck.

De 2 a 6 de junho de 2012, na Akademie der Künste, em Berlim.


Horácio Costa (n. 1954)

Jussara Salazar (n. 1959)

Ricardo Aleixo (n. 1960)

Marcos Siscar (n. 1964)

Dirceu Villa (n. 1975)

Érica Zíngano (n. 1980)

Escrita na Pele das Coisas (Novos poetas brasileiros) _ miniantologia organizada por Claudio Daniel e publicada pelo CCSP

A poesia brasileira contemporânea apresenta múltiplas tendências de criação estética, como o minimalismo, voltado ao retrato conciso e fragmentário de paisagens, o neobarroco, que busca imagens e sonoridades raras, a poesia coloquial, que incorpora temas e vocábulos da realidade urbana, a poesia eletrônica, que utiliza os recursos da tecnologia, entre várias outras modalidades criativas (sem nos esquecermos das formas tradicionais que ainda são praticadas hoje, como o haikai, o soneto e o romance de cordel). A Curadoria de Literatura e Poesia do Centro Cultural São Paulo apresenta, na edição de fevereiro da Agenda de Programação do CCSP, uma pequena mostra de novos autores brasileiros, representativos do que se faz hoje em nossa cena literária.
Claudio DanielCurador de Literatura e Poesia do CCSP




CASA NA AVENIDA SAGRES

Ia à mostra, ao carril das fantasias
podia pegar o que quisesse
– a distância o sabor nacarava
dos olhos dos imensos
a claridade sexual
das frutas escolhidas
durante o jantar

as imagens seriam vividas sozinhas
sozinhos o carpete a sala do andar
de cima
misturada às toscas asneiras
com seu toca-discos azul
e as cirandinhas já às cracas
que ninguém percebia

No escuro nu
ele-ela mordiam-se
no pelo

O melhor segredo
do mundo – pensava
era pôr-se numa jaula

Infantil e deliberadamente
A sério








este poema meu e mais muitos outros de altíssima qualidade foram publicados pelo Centro Cultural São Paulo em uma edição charmosa distribuída gratuitamente no CCSP! É só passar por lá e pegar! Há também como visitá-los no site do CCSP, clicando aqui