20121026

solarium

novamente, inteiriço dia, aqui,
onde mora o sol feliz em estar aqui já no calor, no bafo quente do interior,
 no marasmo primaveril em que pássaros
são constantes cantos vim, rapidíssima,
estou aqui e sabendo no corpo e nos órgãos
que um dia é um dia inteiro

com o texto na mão, agora manhã,
depois do café preto vou até a figueira, com o texto na mão
a caneta azul porque azul é como o desejo é como o mar
é como a nudez do sol no mar
com a caneta azul rabiscar os brancos da fala de Teresa-Joana
nisso que se faz, AGONIA FEBRE-FULGOR
nisso que se adensa, míngua para mais

os cães dormem, torpor de sol demais
mesmo a manhã é já alta tarde, sol imenso
e dentro uma leveza, a casa, a casa, a casa viva,
em sua respiração lenta sem oscilar
em sua vegetação vermelha
em sua penumbra fresca
e nas vozes íntimas dos queridos
fazendo feijão, pregando um quadro, amansando uma flor
rindo, rindo, rindo
chamando sapos doidos, saborosas manhãs 2012

está aqui a Caroline Nascimento, aplicadíssima em traduzir a Hilda para o inglês numa pesquisa tão densa que volta às coisas mais fundas da busca de Hilda
Carol fica aqui até dezembro, terá toda a hora para aproveitar
este mergulho
na casa e na obra
a obra de Hilda se prolonga na casa
a casa, na verdade, é um órgão da obra
tronco-central, figo-coração
a casa em cada página e as presenças da casa
são partes comum de um projeto de escrita que ultrapassa a si mesmo
esta casa não é apenas a casa de uma pessoa espetacular que aqui veio morar
esta casa foi feita para a obra e para a obra se fazer
cumpriu-se habitar a casa chamar os amigos,
ler na casa a ocorrência dos encotros
a distenção dos músculos,
seus horários de manha e ninar
suas tempestades, seus ecos
a casa vive na obra, a casa faz-se para além de Hilda
guarda dela o espírito, a força, e sacode-se para depois
é realmente um projeto comunitário
fazer a obra interpenetrar-se à casa
e fazer a casa aberta ao tempo comum
a quem vem à casa
a quem a casa vem
estou aqui

Jura toma café ao meu lado
Isadora aparece na presença do cão Nenê
o cão negro siamês dela
Olga dorme
Carol também
vou até ali fora deixar o sol
entrar
pela cavidade clara
da voz



axé!

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