20131228




escandir deus:

pelve
triangular
do vazio 




20131217

poema de Cesariny para Pascoaes, escrito em 1967

à memória de Pascoaes


Ouro trigo leão e prata e crina
Te esperam sob o vaso menstrual.
Separarás primeiro a água e a mina
Porque a água não é um mineral

No coágulo te espera areia fina
E sob a areia planta sideral
Que no manto do rei verde se combina
Porque a planta não é um vegetal

Ao homem cabe o ouro de buscá-lo
E a sua cria morta ou imortal
Retirarás do ventre de cavalo
Porque o homem não é um animal

E se o espelho de cobre te fascina
Se te aparece o monstro do umbral
Que à ígnea terra o atro abismo ensina
E nas trevas afunda o bem e o mal

Recolhe fende expurga e ilumina
E com espada de fogo talha e inclina
Porque o fogo não é o seu sinal


e à Maria Amélia e ao João

Cesariny, 1967





(com amor encontro agora este poema
dia intenso em que chegou também à lua
o barco autorretrato de velho menino)





20131110

5 poemas do SATURAÇÃO DE SATURNO


Logo mais, às 19hs, começa o CHAT com Ana Rüsche
no www.literatura.ning.com

te deixo aqui 5 poemas do Saturação de Saturno
abrindo o terreiro



Saturação de Saturno

ou a insídia costumeira de assolar poemas parados


rondó de abertura

um molar de saturno, várzea   
melódica entupindo as tripas, amargo
morno da antemanhã – sucessivo
lento, molar e música de despir,
os casacos das feridas, início

terno dos defeitos, o casto
caimento sobre o timo, imolado
um molar

que sova tua sorte para calos dizíveis:
as cores do chumbo – molar
estivador, forja de gatunos
atraentes à pedra no bolso esquerdo
enfiada ao fundo, um molar

de saturno – criança
te prometem os teus vinte e nove
danos





saturação de saturno II

saturnina, ontem
mesmo antes de se despir atentou a contar
os roxos encapsulados nas dobras
atentou: era bom
que toda semana
pontualmente alguém
toque seu corpo

não porque haverá remanescente um desejo ferino luciferino ou 
conluio de carnaval
é bom saber que a mulher vem com malinha e analgésicos e 
escusa
no quarto andar arruma a vela para que algo de seu corpo se esquive dela
apalpa os mililitros do vasto e como quase sempre se faz assim
adormecida: é o melhor da vida
organizar o sono para vir junto com a mulher de malinhas

depois que acaba é que por ter sido nua naquela uma hora 
cronometrada (garanto que a mulher de malinhas não vai a ela 
simplesmente por ter consideração ou coisa de carnaval consigo) 
levanta-se e agita o espelho a começar 
a contagem dos espetos negros que porventura 
tenham-se acoplado ao corpo imagina 
esses serões quase sempre começam adentro
e aos poucos vão subindo arfando a pele até a hora mágica
chamada tabu obediência chamada o anjo da casa

o toque da mulher de malinhas e o sono impressionam a tempo de 
olhar o espelho (é claro que disso se tem medo) 
por isso novamente se paga a mulher para que tudo 
pareça & pereça mais natural e oxigenado: todo o puro

oh, seria estranho em outra hora
deitar-se a vasculhar os buracos encarquilhados ou então a dobradura 
volumosa das costelas ainda o debaixo do olho ou os caroços 
de brincar que dão nos seios para que a gente esprema não sem 
dor

seria estranho pedir ao homem após se deleitar licença
que agora que tua lucubração já depositou aquilo de mau cheiro
licença preciso ir às tinas verificar se nenhuma (verruga) pousou 
no adereço seria estranho mais ainda dizendo assim tu isso tu aquilo
o homem certamente se assustaria e ainda que convivido consigo nas 
últimas centenas de ano o homem certamente me bateria

e como ela não aceitasse apanhar sozinha é certo que desceria à rua
e como estivesse nua e apupada pelo como sempre deleitoso
cheiro daquele que agora força o nada certamente o oco se instalaria 
oco e nós
nós seríamos invisíveis

(amor) é o truque mais hediondo
apelidaram de culto, cultura, o mau cheiro e a invisibilidade
certamente ele homem humano só e assustado então marido
correria para outro planeta laminar
que desse suporte ao meu desaparecimento
e aderisse como um malho que se dá em crianças irritadas & animais 
indefesos

por essas e outras (sabe das meninas que fizeram ficha às fogueiras?)
a melhor coisa que há é a hora marcada com a mulher de malinhas




lady octopus
  
é uma carta: navega com meras senhas
uma loucura inclinada ao teatro
um ouriço na cintura túnica encravada
a sair mui talentosa o cúmulo de um cós
lilás discorrendo vísceras dentro da ó
nesga
por onde desembocar cutelos de homem

é uma imagem: ousa o espelho
investida invertebrada apenas como se
espelho com métrica embutida: o anjo da casa
(já se disse, ritornelo, água amarga)

é um porta-papel e carnuda rês
espiral de um talo rubro cosendo o roer
da nuca em que colorir os lábios
quiçá nunca gemer apenas dar-se ares
a scherzo esquadrinhado & ripar
da descuidosa maneira de viver
para que saia: um espelho
civilizado apenas contra
vertido e desdobrável: os tentáculos da casa



sete suítes para educação sentimental III

sei que tuas questões te mastigam: chegamos aonde a que confins
talvez na noite atos camuflados: a madeira de tua casa
demolida por outra casa talvez o tempo: vingue
as escolhas e esta solidão talvez solidão queira mais que uma apenas: mulher
ao teu lado sem qualquer pé que fira ao teu lado para: adormecer
a jovem que fui a teu lado para com ciúme: sazonar
o curso de tudo até a morte sinto-me pronta com mãos desde: sempre
menos agitadas e corpo: menos
turbulento sinto que cada tarde te acorda para uma outra: vaga
e não te mostra o rosto mas: seduz
ao caminho de coxas um caminho de réus e entrudo que seja: novo
e como novo: apaixonadamente
falso: talvez eu te tenha que deixar
para sobreviver para sobreviver em ti talvez eu tenha que guardar: a faca
e não ousar: mito
como no mito seguir adiante e não olhar para trás aquela: imagem
caída sobre o mastro só memória da trama das lesões: sim
mas de crueza exasperada: lúcida
amor, amor, enquanto tivermos vinho: sem mais
vácuos e sinas que te alimentem de distância e mau: pressentimento 




a saga dos poemas insatisfeitos V

o ciclo ameaça assim:
uma mulher pesada (mas)
(fresca) adormecendo seus
Vícios
começa e acalma
Vênus
como uma farsa
não fosse tão terrível farsa

advertências, ademais –
quando soasse o cheiro
de uma história a mais
para narrar
em trégua:

o teatro – ela diz
e o álcool – dão conta

de todo este pacote adulterado





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e ainda: leitura de um poema, aqui, autorretrato como consequência

20131020

tem desconto lá na oficina



clique aqui

Lacrimatórios, enócoas
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20131016

dinossauros e anfíbios


já conhece o dinossauros e anfíbios? [clique]
é claro que é coisa de minha amiga gênia, Ana Rüsche.
alguém duplamente virginiano tem que botar a mão na massa virtual e trazer à roda para assarmos
juntos esse bolo de poemas, paixões, livros, mundos

o plano é mirabolante: um portal online para tratar de literatura, em todas as suas chegadas.
haverá cursos, debates, chats, notícias e tudo mais.

em novembro agora, de 2013, este, a PROGRAMAÇÃO JÁ VEM QUENTE!
e eu, dia 10, estarei lá, 'chateando' sem chateação junto com a Ana e quem quiser vir junto.
falaremos sobre o saturação de saturno
as bordas que rondam esta foice,
o lento moroso trabalho de aprumar o corpo para uma espinha crua
a transformação da lágrima em lar de despedir-se e 'tirar o casaco das feridas'
a porventura chance de sussurrar 'amor' em todo o processo
a desenganada maneira com que o mundo por vez nos exige que 'amor' seja um 'destino' de amarras

isto e tudo mais
em breve, dia 10/11
domingo, meio-dia

e além disso, o tudo mais da programação.
estarei lá, no afinco de curtir, feliz, um espaço de ossos para
dinossauras e anfíbias
e mulheres-polvo
e lady octopus
em seu carnavalesco
apossar-se do esmo
(ermo) dos passantes

sim!
oxalá aninha, ana rüsche, mulher-mercúria, íbis e falcão, guia nossa!

venham!


20131013

trechos do ótimo debate da FLAP 2013 | mesa: "o pacto da indiferença _ apatia e crítica na contemporaneidade"


Local: Biblioteca Alceu Amoroso Lima
A mesa debaterá temas em torno da dificuldade de se estabelecer um debate crítico na atualidade que, mesmo não se restringindo à aceitação de um cânone preestabelecido, possa romper com a dicotomia entre hiperespecialização e resenha comercial.Curadoria: Andréa Catrópa e Renan Nuernberger
Debatedores:
- Carlos Felipe Moisés
- Heitor Ferraz
- Reynaldo Damázio
- Mediação: Andréa Catrópa e Renan Nuernberger

20131012

basta aparecer! | seminário PESSOA E SEUS MESTRES | 30 e 31 de outubro

2o seminário preparatório para o congresso 100Orpheu
PESSOA E SEUS MESTRES

LEPEM | DLCV | USP
30 e 31 de outubro de 2013

            O LEPEM dando continuidade ao 1º Seminário Preparatório para o Congresso 100ORPHEU, ocorrido em março de 2012, convida agora ao 2º seminário, com o tema “Pessoa e seus mestres”. Partindo do modelo de um interessante programa de exposições em diversos museus europeus, como ‘Picasso e seus mestres’ (out/2008/Paris) ou ‘Turner e seus mestres’ (set/2009/Londres), deslocamos o conceito para o campo literário e propomos este 2º Seminário Preparatório, lembrando que o Congresso 100Orpheu irá acontecer no ano de 2015: de 25 a 27 de março, em Portugal;  e 27 a 29 de maio, no Brasil (www.100orpheu.com).
            Nas exposições citadas, revela-se de nosso interesse o método de abordagem da ‘influência’ nos pintores, através da disposição material das obras, lado a lado: ao lado de uma tela de Turner, uma de Rubens; ao lado de outra tela de Turner, uma de Rembrandt, e assim sucessivamente. Pensamos ser de extremo proveito trazer esta abordagem para a leitura de Fernando Pessoa em diálogo com seus mestres. Ou seja, por meio de uma ‘mostra’ poética direta, de Pessoa com seus antecessores, que nos apresente, nos ‘poemas’, lado a lado, as inúmeras formas de intertextualidade, diálogo, influência: homenagem, paródia, transgressão, recusa, etc.
            Sabemos que a ‘genialidade’ de Pessoa neste diálogo, muitas vezes ‘superador’, com seus afetos literários é marcante, fazendo com que seu ‘talento individual’ se destaque sobre uma tradição literária, reinventando, a partir de sua obra, a compreensão do cânone em que se insere. É o que diz T. S. Eliot, em seu famoso ensaios ‘A tradição e o talento individual’: “a diferença entre presente e passado consiste em o presente consciente ser uma compreensão do passado, de maneira e a um ponto tais que a própria compreensão que o passado tem de si não pode revelar”. (ELIOT, T.S. Ensaios de doutrina crítica. Lisboa: Guimarães, 1997, p. 25). Esta forte presença de um ‘discurso pessoano’ na poesia faz com que, muitas vezes, o olhemos mais como um ‘influenciador’ (marcando inevitavelmente toda poética posterior a ele) do que como um ‘influenciado’, mesmo que, sabemos, seja imensa a lista de autores com que tenha travado intenso convívio poético. Na tradição de língua inglesa, por exemplo, encontramos Milton, E. A. Poe, Wordsworth, Keats, Shakespeare, Walt Whitman, Aleister Crowley, Oscar Wilde, etc; do cânone clássico, Heráclito, Virgilio, Horácio, Epicuro, etc; da literatura portuguesa, o diálogo com Antonio Vieira, Antero de Quental, Cesário Verde, Teixeira de Pascoaes, Camilo Pessanha, Gomes Leal, entre outros; da língua alemã, Nietzsche, Goethe, Hölderlin; da francesa, Rimbaud, Baudelaire; da espanhola, Calderon de la Barca, San Juan de la Cruz etc, etc, etc.
            Neste seminário pesquisaremos, portanto, o tema do Pessoa ‘influenciado’, na busca por melhor entender questões como: de quais modos esses vínculos aparecem nos textos pessoanos? Quais os meios de que o poeta se serve para se relacionar com os poemas e poetas que lhe são caros e lhe foram matéria poética a partir dos quais trabalhou sua autoria?
                Entre os palestrantes, são nossos convidados os pesquisadores do ‘EQUIPA PESSOA”: Antonio Cardiello (ITALIA | Universidade de Lisboa), Patrício Ferrari (ARGENTINA | Stockholm University) e Pablo Javier Perez López (ESPANHA | Universidade de Valladolid Os convidados virão de Campo Grande, da UFMS, onde terá acontecido o XXIV Congresso Internacional da Associação de Professores de Literatura Portuguesa – ABRAPLIP (20 a 25 de outubro de 2013), sob a direção da Profa. Dra. Rosana Cristina Zanelatto Santos, a quem também temos a intenção de convidar, uma vez que a UFMS será uma de nossas parceiras na organização e realização do Congresso 100Orpheu.
            Da própria USP convidaremos os especialistas de nosso quadro docente, dentre aposentados e professores da ativa: Profa. Dra. Maria Helena Néry Garcez; Prof. Dr. Carlos Felipe Moisés; Profa. Dra. Paola Poma; Prof. Dr. Caio Gagliardi. Haverá também mesas de comunicações de nossos alunos de pós-graduação que realizam pesquisas em Fernando Pessoa.
            Cumpre ainda observar que o Congresso 100Orpheu é resultado de uma parceria internacional e interuniversidades: o LEPEM, da FFLCH-USP e o CLEPUL da UL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa). Representando o CLEPUL neste ano, virá a pesquisadora Raquel Nobre Guerra, para quem também solicitamos o apoio da PRCEU para o oferecimento de diárias.



20131006

posts, notas e imprensa sobre SATURAÇÃO DE SATURNO: obrigada a todos




a LIBRE,
 liga brasileira de editores, deixou dito aqui

"O novo livro de Roberta Ferraz, Saturação de Saturno, indica a maturidade da poeta, também estudiosa de literatura e astróloga. É na astrologia que Roberta busca um modo de lidar com tempo, pensando ciclo e mudança a partir da força de Saturno, senhor do tempo. Ao pensar tempo, também se pensa feminino, amor, cidades e muitos lugares.
Saturação de Saturno é uma espécie de ritual de iniciação em cada poema. Desde o começo, o livro propõe um eu em estado de revisão, como indica “saturação de saturno 2”: “saturnina, ontem/ mesmo antes de se despir atentou a contar/ os roxos encapsulados nas dobras/ atentou: era bom/ que toda semana/ pontualmente alguém/ toque seu corpo”. Até o final do livro, metamorfoses são propostas, em forma de transformações do sujeito dentro de si e no mundo, percorrendo vários lugares, sobretudo as cardinais cidades de São Paulo, núcleo geográfico tenso, e Lisboa, respiradouro.

Os afetos são imensos, desde a avó da poeta até amores vários, entre o amor erótico e a amizade, chegando mesmo a amores literários, entre eles Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath. No encontro com o outro, em forma de corpo ou livro, Roberta investe mais uma vez na transformação, provocando novos sentidos através da palavra posta no mundo e no movimento.

Roberta Ferraz, autora com vários livros publicados, chega a seu melhor trabalho, indicando que sua obra atinge uma maturidade só almejável pelos grandes escritores.


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no blog da BIA GALVÃO, o por um triz

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no blog da Tânia Tiburzio, o TT recomenda

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20131004

mão tecelã dada à mão



desenho a borda de um desastre
o repique das máquinas de quebrar cimento
os dois pássaros perdidos
uma manta mexicana nos chamando

ao trabalho, trapézio
de coleiras, serventia rústica
na agulha coloco na cabeça
um fio castanho do cabelo
refaz-se do início o pastoreio
comum desastre ameno
no limite do fio, quebradiço
enquanto fia

em branco o restante do tempo
permanece
até que arruma novo fio da cabeça
ao esforço o desenho de um canto
delicado

São Paulo como um delírio de lavanda
os pés nossos muito claros
os nossos calos da mão dizendo alto
a permissão do calor

depois disposto o fio
dispõe-se de cabelos
brotando da agulha
de uma respiração
suspensa

20130929

nascedouro, nasceu SATURAÇÃO DE SATURNO - 28.09.13 - 16h30

é no sol-pôr que nascemos, eu e tu, a renascer aquela outra, asa da carne
pela palavra posta, sendo mundo, e de ninguém, sendo sangue da vida comum
de quem lê
todo saturno
de quem vive

16h30
pois águas triangulares nos banhem, meu amor
estamos com saturno e o nodo norte em escorpião, orbitando o nono espaço, a casa da longas
travessias, já que saturno é mar íntimo, e navega pelo escuro silencioso de uma seiva d'água
troncos, ossadas, navios submersos, este saturno é ferreiro, como eu, ferraz, do timbre
antigo e metalúrgico das forças viventes nas cavernas, sob as pedras, no escuro ardente da pedra
cristalina, pois é transparente dentro do ouriço do mar
como diz aquele poema, o autorretrato como consequência, que logo em breve
virá aqui, dizer-se, em voz



a medula de um mar é noite em que parir rota astral e seus anéis
este o destino, nodo norte, de saturno, arquitetar a longa viagem do corpo estranho, íntimo
e livrar-nos todos das afeições pantaneiras, do lodo com amaciante que o passado cultiva
e conserva o corpo assolado por sobras, sobras & lavouras & lamentações

saturno corta
põe em queda
o poema
o poema corta
põe em queda
saturno

a lua estava, ontem, ao nascer, em câncer
e era lua minguante
aberta na casa 5

isso me prepara para o futuro, o trabalho de medeia, parir seus filhos mortos, ressuscitá-lo a 3
e vem com o ímpeto de finalizar o que saturno inicia:
o corte total a consciência mais clara do que é ter um passado no ventre
e carregar o oco de tantos mundos sem que o sangue menstrual
conte outra estória
medeia, tu ainda, trabalho em andamento com MAIARA GOUVEIA e ANA RÜSCHE
(peixas amadas que fazem isto ser possível, o trabalho, o corte, o futuro)
lua lua lua lua
absorta inteira canceriana, germinativa, cuidando de nutrir para que o corte não seja no vácuo

e ascendendo no nascer veio o signo de peixes
a oferta desmedida
isso que é poesia

sem brecha para coisa menor
do que todo o fôlego possível
todo o corpo sem cautela ou pudor
a voz exata em sua busca
de dizer claro o obscuro disto tudo
e dizer fosco quando o dito é de sombra
sem negociação nenhuma

piscianamente deixando o mar tomar conta
do seco das distâncias
e contaminar tudo com seu segredo
amoroso

no meio-do-céu a seta do arqueiro
e júpiter unido à lua
me dizendo os partos que saturno
abrirá no mundo
(para dentro ou fora dele
o mundo é mundo)
os filhos de saturno as filhas e as feridas
são pontas deste triângulo da
oferta - fartura do passado - corte alquímico
e eu agradeço

MUITO

cada pessoa querida que ontem esteve comigo
ao meu lado, assistindo a esse ato de nascer
e folheando na voz das mãos as primeiras frescas
(e antigas) páginas, quando puderam nos nossos olhos,
dentro do amor, acolher este tempo saturado
estes poemas parados
este insidioso retomar na palma calejada a faca breve
e sem fobia ou afobação
dissecar o medo

obrigada, meus amigos, penso em cada um de vocês, agora. beijo em pensamento.
saturno se fez. está com vocês. é vosso e outro. é nato. renato. morto.


que el duende continue bafejando sua orla no pé de nosso ouvido.

axé.
rosa









20130918

FLAP _ 2013 | convidados latino-americanos vêm também!



IGNÁCIO MUÑOZ (Chile)




YOHANNA JARAMILLO (México)



LORENA SAUCEDO (México)





HÉCTOR HERNÁNDEZ MONTECINOS (Chile)




ENRIQUE WINTER (Chile)


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e de edições anteriores da FLAP, outros poetas que também estão na ANTOLOGIA 2013: 





ÉRICA ZÍNGANO




RICARDO DOMENECK




JÚLIA DE CARVALHO HANSEN




ANA RÜSCHE





ROBERTA FERRAZ, ÉRICA ZÍNGANO & RENATA HUBER


20130917

agradecida, saturno


um livro como uma vida
é a pele da partilha
as horas tomadas em concha pela mão
e eu bebendo água nas tuas patas
você alisando a crina de nossos bichos
nossos animais em nós bebendo avidamente
o tempo de juntos desenhar
o que será futuro
o que será saturação de saturno

antes de qualquer rua, a casa, o coração, as gatas: marcelo, diana e morgana
marcelo que, guerreiro de transparência, fez da casa este hotel beira-mundo
mas a rebouças e a secura e a quantidade de pó avançam pelos livros
com que dormimos juntos
ele ali, sem dar pelo ruído, sem dar pelo sol excessivo e claudicante
deixando que as filhas lambessem as feridas de meus pés
e que as unhas fossem arrancadas com o passar da vida, suaves como quem perde
o que nunca se perde, o corpo, as ruínas, as gavetas emocionais, as luas, as
manias as criptomanias
------------------------------ marcelo, morgana, diana: saturno é sim, agradecido

depois, ele, fernando
doze duzentas manhãs página por página às vezes rindo com tules de café no centro da cidade
vem, meu bem, não tem nada não
e o medo, puft, é uma fotografia de uma imagem nenhuma
fernando, dia, dia, dia, dia, à exaustão, deixando belo saturno
querendo comigo a beleza dessa hora
------------------------------ obrigada, irmão

e entra o coro trágico de dioniso, as mênades, minhas linfas extertoradas
minha garganta cigana gritando afônica e cheia de vento:
maiara gouveia, que foi amor intenso desde a primeira curva
e que escreve por dentro das metamorfoses
ana erre, ana rüsche, a mulher fulgorosa, de todos-os-fôlegos
que semeia assim de graça, semeia porque dança e ri e semeia, semeia
andrea catropa, o coração da andrea, a menina delicada lua canceriana
que me deu um retrato, como é bom estar perto, andrea, ah como eu gosto
e júlia hansen, julieta, que vive a medula do poema em todas as suas dimensões
num trânsito que eu imagino, lisboa-sampa, tão íntimo de nós, fazendo a amizade
essa coisa para além para mais, loucas na busca, julieta, a intensidade em sua entrega
e ainda mar, essa mulher com esse nome, mar, que me deixa boquiaberta
quando decide sim investigar a relativa cor real da gosma garganta
e te oferece o poema como um buquê de adagas, mar, hélices, meu deus, mar
-------------------------------- vocês, mulheres, mênades, são a noite necessária para que o dito de saturno não fique desesperado de ser mundo, obrigada, muito

ah, luis maffei, esse ano foi uma explicação da pura graça, não foi?
luis me presenteou camões me presenteou saturno, com este trio
o que mais desejar?, obrigada querido

e raquel, topando, vamos lá, aberta, querendo,
dizendo sim, vem, vamos lá, a força incrível de raquel
e a delícia de ser parceira da oficina raquel
desde a saudade que deixou ricardo
até a maçã em prumo nos ombros lindos da raquel,
obrigada, queridos

e tem ainda danilo bueno,
que é o amigo que qualquer pessoa sortuda quer ter
uma aula de peixes, esse amor doado, pronto, sem reservas
de cuidar do mundo, de quem nele habita, que leu quantas vezes o saturno, comigo
tão dedicado, obrigada

e tem ainda a isadora krieger
que é um rumo vertical que o poema ainda ganha
quando ela trouxer pro baile o seu livro belíssimo que vem vindo
obrigada, isa, pelas trocas em saturno, e todo o mais, de hilda e lume, que nos ata

e não me esqueço do fábio abreu
que no silêncio ofertado, cuidou que a imagem de saturno, a cena com lenha e árvore
na patagônia, ficasse toda exata pro prumo de sustentar saturno, obrigada meu lindo

a vocês, que diretamente, me deram de beber, durante este deserto sem anéis
eu dou os cabelos, a lonjura deles, a tempestade que eles chamam
e brindo a existência de um céu para olharmos em companhia
com um drink-poema à espreita

obrigada meus queridos




 saudação de ana 























saudação de andrea




saudação de júlia
























saudação de maiara
























saudação de mar

20130901

paisagens poéticas, programa gravado e editado por Renata Roman _ lua, lua, lua, lua

                             cabelos, túnica
                                           buquê de incêndios

foi numa noite de julho? acho que sim, junho, julho, noite de lua, na casa das rosas (!)
naquele banheiro rosa, sentadas no chão, debaixo de uma pia antiga
a porta semi-aberta, um fiscal que passava de hora em hora ali, espiando
um grupo de teatro ao redor da escadaria gesticulava sons altos de talvez um shakespeare
ou um cordel

renata e eu conversávamos sobre poesia, cidade, sons, escrita, desde quando, são paulo, lá atrás,
música, leitores, leituras, portugal, pessoa, futuro, deserto, ciganos, ana c., sá-carneiro, trajetos, av. paulista, gente, sonho

...

depois ela convidou esse cigano do clarinete de Mário Aphonso III, que fez a paisagem virar vertigem e deu ao poema uma casa de vento, provisória, inteira

escutei caminhando pela cidade, a primeira vez, o programa pronto

cada gagueira era um pé torto que quase-caia da calçada
cada ritmo esfuziante uma aceleração estranha, fora de si
e o raciocínio nem é canção nem fado, é passo, é cidade, é agora

fui ouvindo, tão estranho isso, um espelho da voz, um espelho de voz
porque ver-se em imagem, video ou outra coisa parecida captura diferente a compreensão
o só ouvir-se é mágico, experimenta, a voz capta sim algum sopro que fora dela a gente não sabe
um sopro que não tem imagem, só sopro sem rosto, sem prisão, sem caminho
e aquele sonho de ser música ficou audível, comestível

gosto da sensação deste vocabulário da fome para pensar poemas, existência
do desejo

e sobretudo o mais interessante, a mim, ouvindo esse passeio com Renata
é que eu não sabia assim tão forte como quem fala na minha voz
é uma lua aquariana
rainha na voz, soberana, altaneira
não sabia...
a pitada do sol escorpiano está ali
mas exuberante mesmo é a lua
achei engraçado, me comovi disso
nem sabia
quando falo
assim apaixonadamente, tentando
loucamente compreender
(mas compreender é já um heroísmo
e não é tempo para heróis)
(chega deles, não?)
quando falo
ela fala alguém todo mundo
fala a lua
um eu lunar
trêmulo, de faltas enfeitado
desejoso demais
de ser mais vento
do que corpo
mais passagem
do que livro
mais poema
do que poema

e como em julho saturno já vinha vindo,
li poemas do saturação de saturno
e aproveito pra te convidar, pro lançamento

é um convite de uma hora, com clarinete e lua
e deserto e astros e cidade e desvão
desvios, disse, disseram
em que saturar para amar
até o amor de saturno
ser pedra opalina
crista de um sal
lavrado e aberto
caminhada junto
picnic
contigo

te espero lá
e aqui.







20130822

curso gratuito na USP | 16 poetas portugueses do século XX | inscrições abertas



venho convidá-los ao curso (gratuito e aberto a quem o desejar),
16 poetas portugueses do século XX

o curso será ministrado por alunos de pós-graduação do programa
de LITERATURA PORTUGUESA da USP, eu inclusive.

inscrevam-se e confiram a programação aqui: http://sce.fflch.usp.br/node/1523

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PROGRAMA DETALHADO 
AULA 1 sábado, 28 de setembro de 2013 | 9hs às 12h40 
9h – 10h40 | Teixeira de Pascoaes (1877 – 1952) _ por Roberta Ferraz
Leremos Pascoaes como um aglomerado de tempos estéticos atuantes ainda no cadinho de fins do século XIX e início do século XX: neorromantismo, simbolismo, neogarretismo, modernismo, etc. Num contexto de extrema instabilidade política em Portugal, Pascoaes esteve com frequência no centro do debate literário do começo do século, quando através da revista A Águia liderou o movimento saudosista, elegendo e propagando a ‘saudade’ como mito matriz da cultura portuguesa. 
11h – 12h40 | Camilo Pessanha (1867 - 1926) _ por Bruno Matangrano
O Simbolismo em Portugal: breve apresentação do movimento, de suas origens parisienses às primeiras manifestações lusitanas. "Nostalgia, Exílio e Melancolia": três temas biográficos presentes na poesia de Pessanha. "O Verlaine Lusitano": Pessanha leitor dos simbolistas franceses. Leitura e análise de poemas. 
AULA 2 sábado, 5 de outubro de 2013 | 9hs às 12h40 
9h – 10h40 | Fernando Pessoa (1888 – 1935) _ por Mauro Dunder
Aspectos biográficos relacionados à obra; O projeto de Orpheu e a identidade de Portugal; A questão da heteronímia; Leitura de poemas dos principais heterônimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos; Poesia ortônima. 
11h – 12h40 | Mário de Sá-Carneiro (1890 - 1916) _ por Orivaldo Rocha
um exemplo bem acabado de correspondência profunda entre vida e arte; como um autor de contos e de narrativas é em essência poeta e apenas poeta; pontos de contato entre a narrativa A confissão de Lúcio e as cartas a Fernando Pessoa. 
AULA 3 sábado, 19 de outubro de 2013 | 9hs às 12h40 
9h – 10h40 | Vitorino Nemésio (1901 - 1978) _ por André Osawa
Filiação e independência: diálogos com diversas vertentes do modernismo e da contemporaneidade portuguesa. O estilo humilde como mundividência moderna. O olhar “estrangeiro” ao Brasil. O pensador “inconveniente” e independente. 
11h – 12h40 | José Régio (1901 - 1969)_ por José Eduardo Ferreira
O movimento da Presença por João Gaspar Simões; Os conceitos de “Literatura Viva” e “Literatura Livresca” de José Régio; Análise do livro Poemas de Deus e do Diabo, de José Régio. 
AULA 4 sábado, 26 de outubro de 2013 | 9hs às 12h40 
9h – 10h40 | Eugenio de Andrade (1923 - 2005) _ por Mauro Dunder
Aspectos biográficos relacionados à obra; Traços característicos da lírica de Eugênio de Andrade; Leitura e discussão de poemas. 
11h – 12h40 | Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 - 2004) _ por Vicente Castro Pereira
Labirintos da casa e caminhos do mar: os espaços da poética de Sophia de Mello Breyner Andresen. A obra de Sophia de Mello Breyner Andresen apresenta, de forma recorrente, imagens ligadas à intimidade doméstica e à vastidão marítima. Uma abordagem articulada entre dois espaços significativos para a autora possibilita a depreensão de temas e figuras centrais de sua produção. 
AULA 5 sábado, 9 de novembro de 2013 | 9hs às 12h40 
9h – 10h40 | Jorge de Sena (1919 – 1978) _ por Danilo Bueno
Panorama da obra poética do escritor português Jorge de Sena (1919-1978). Análise de poemas emblemáticos que permitam a discussão das principais tópicas de sua obra poética, tal qual o testemunho, reação em face do fingimento pessoano. Sugestão de leitura de estudos teóricos que aprofundem o painel. A abordagem crítica aos poemas e ensaios visa estabelecer relações com o contexto histórico e literário, bem como a cultura em geral. 
11h – 12h40 | Ruy Belo (1933 - 1978) _ por Leonardo de Barros Sasaki
O ano de 1961 na poesia portuguesa: o contexto literário na publicação de Aquele grande rio Eufrates; "Desporto da versificação": as soluções formais de Ruy Belo - o poema longo, o trabalho fônico, palavra prática/palavra poética, etc.; "Administrar a melancolia": o ethos beliano e alguns princípios de poética - o limiar da (im)pessoalidade, o "mudar de assunto", a melancolia e a alegria; "A morte em preparação": o tema obsedante da morte e da passagem do tempo. 
AULA 6 sábado, 23 de novembro de 2013 | 9hs às 12h40 
9h – 10h40 | Antonio Pedro (1909 - 1966) _ por Fernando M. Serafim
António Pedro, poeta do mundo: trânsitos e influxos. O contexto efervescente da época e as novidades estéticas. O dimensionismo, o planismo e a incorporação da velocidade, do movimento e da abolição das fronteiras físicas dos comunicantes da poesia. "Protopoema da serra d'Arga": crônicas de uma Pasárgada. O surrealismo como modo de resistência da identidade. Forma em transe: a interlocução entre o real e o imaginário nas telas e esculturas de António Pedro. 
11h – 12h40 | Mário Cesariny (1923 – 2006) _ por Roberta Ferraz
Principal agitador e autor do surrealismo em Portugal no anos 50, Mário Cesariny, assim como seus companheiros de geração, experimentaram no corpo e no corpo da escrita o desafio de ‘viver’, ‘praticar’ o surrealismo, em sua busca ativa de uma postura libertária, em plena ditadura salazarista. A literatura neorrealista, engajada na ideologia revolucionária, ia, também, na contramão do espírito absolutamente comprometido com a liberdade plena do indivíduo, agindo fora dos preceitos autoritários. Sopro de ar no coração oprimido da cultura de seu tempo, Cesariny somou à causa surrealista uma literatura de incrível potência estética. 
AULA 7 sábado, 30 de novembro de 2013 | 9hs às 12h40 
9h – 10h40 | Herberto Helder (1930) _ por Claudio Daniel
Herberto Helder e sua fanopeia. O objetivo da aula é apresentar a moderna poesia de Helder que, apesar de parecer situado na ambiência de fragmentação gerada pela modernidade, propõe-se a encontrar a própria poesia, não tomando parte no ocaso dos nossos tempos, mas nos próprios ocasos. 
11h – 12h40 | Al Berto (1948 - 1997) _ por Leonardo de Barros Sasaki
Regresso ao real?: a poesia portuguesa das décadas de 70 e 80, o discurso quotidiano e afetivo; "Aprendizagem da vida e da escrita": a obra de Al Berto no espaço biográfico - simulações, hibridizações, tensões; "O guardador de ruínas": a realidade e a poesia como (coleção de) sinais; "Ofício do medo": o tema do medo e seus desdobramentos como estruturadores da lírica albertiana, as inquietações da contemporaneidade; 
AULA 8 sábado, 7 de dezembro de 2013 | 9hs às 12h40 
9h – 10h40 | Ana Hatherly (1929) _ por Claudio Daniel
Ana Hatherly, autora que participou do movimento da Poesia Experimental Portuguesa (PO-EX), realiza uma pesquisa criativa sobre a dimensão visual da escrita, dialogando com os labirintos visuais do barroco português, com os alfabetos de antigas civilizações e com as poéticas da modernidade, em busca de outras possibilidades de comunicação poética. 
11h – 12h40 | Rui Pires Cabral (1967) _ por Charles Marlon
Uma abordagem sobre a obra de Rui Pires Cabral, situando sua poesia em Portugal, como fazendo parte dos poetas denominados, em tom de elogio, “Sem Qualidades” por Manuel de Freitas, e no mundo, no contexto da Globalização. Breve panorama de sua obra, contextualizando também o aparecimento dos poetas da antologia de 2002, "Os Poetas Sem Qualidades" e de outra antologia, de 10 anos depois (2012), "Nós os desconhecidos", reforçando este caráter "menor" e não menos importante dessa vertente da poesia portuguesa contemporânea. 
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