(tirado do baú para o afago de um amigo)
Os amores estão sempre no atraso
não conhecemos
a sua substância íntima e as mãos que
se dão se reclamam
(a intimidade o recheio da morte
o amor aquilo em solidão)
Talvez o grunhido arrebatador nos conduza ao centro
da terra e lá
esfomeados
saciaremos o verso no contato já sem vida
talvez o desalinho da memória possa viajar
o corpo
às imagináveis vertigens e lá
virgens nos desfiaremos em gozo a ausência do toque
O amor é sempre passado
futuro
alto penhasco entre a rua que agora
ilhada e suspensa
na espera nos respira
Nossa areia escorre
a ampulheta é fosca debaixo de nosso teto
nós estamos sentados onde nascemos
Lembrar o desejo pronunciar a palavra
fria é ainda a possível evidência
da filigrana não rompida
quando o amor se atrasa
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