20080812

Pessoana / o longe e o Longe


(A Nave, de Sérgio Lucena)

HORIZONTE


Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mysterio,
Abria em flor o Longe, e o Sul siderio
Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longinqua costa -
Quando a nau se approxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe em sons e cores:
E, no desembarcar, ha aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensiveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A arvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.

(Fernando Pessoa. in Mensagem. Obra Poética. RJ: Ed. Nova Aguilar, 1998)

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