20120728
20120727
2 + 2 poemas inéditos na revista mallarmargens!
20120726
_ algumas sessões perto do surrealismo _
1 _ Man Ray, sobre poema de Robert Desnos, "L'Etoile de Mer" (1928)
2 _ André Breton atelier
3 _ André Breton lê seu poema "L'union libre", do livro "Claire de terre" (1931)
4 _ "Anémic Cinéma", de Marcel Duchamp (1926)
5 _ "Le ballet mécanique", de Fernand Leger (1924)
6 _ "Um cão andaluz", de Luis Buñuel (1929)
2 _ André Breton atelier
3 _ André Breton lê seu poema "L'union libre", do livro "Claire de terre" (1931)
4 _ "Anémic Cinéma", de Marcel Duchamp (1926)
5 _ "Le ballet mécanique", de Fernand Leger (1924)
6 _ "Um cão andaluz", de Luis Buñuel (1929)
20120724
relato móvel da casa do sol, cheio de amor
ps. falta ainda colocar algumas notas nas imagens, nomes e etc. farei isto!
20120719
último dia na casa do sol, mais do diário de Hilda (ano 1980)
...
amanhã nesta mesma hora estarei prestes a cruzar o portão, o portal
e derramar-me fora da justeza deste tempo absorto
eu sei que logo ali, olhando depois do muro, há uma casa e mais outra e ainda muitas
mas elas se desestabilizam fora desta BOLHA que é a casa do sol
aqui não há nada, eu disse chegando, não há mesura
não há tamanho ou duração da experiência: sim, há demasiado passado
mas passado vivo, triufante, forte como a vegetação que rodeia a casa
e as espadas de são jorge que aqui dão em abudância
é fresca a atmosfera, levíssima
(eu pensava sustos, calculava medos
nas noites, antes de aqui chegar)
mas a casa é PROTEGIDA, aterrada FLUTUA
paira forte, abençoada, com todos esses cães psicopompos
que guardam as tantas portas transparentes
em que os mundos se cruzam, tempos se intercalam
dimensões se dilaceram: atravessa-se
neles a cada dobra do corpo e do pensamento
e o que já sei que posso dizer de tudo que vivi aqui
é essa imagem de um reservatório, um cântaro, um poço
(o poço de água boa bem no centro da casa)
não chorei, eu sempre choro depois nunca no impacto
(o impacto que suspende, vai nutrindo)
(então depois)
mas muito me comovi, indo lenta e respeitosa
ao convívio das coisas que tocaram
o espírito de Hilda Hilst
...
ontem lemos, na noite, Jurandy, Isadora e eu
nossos poemas
brindamos a Baco, que ele é bem-vindo nesta casa
e vimos, uma por uma, as fotos de Hilda, que saíam de dentro
de caixas, velha-menina-e-moça, serpentina serelepe,
risonha fada, anciã da face consumida
lemos cartões endereçados a ela (um de Caio F Abreu)
e tocamos em manuscritos e originais, rasurados, emendados,
lindos, os lemos, os lemes, singrantes
ah Hilda...
é possível que uma pequena aranha tenha passado pelo meu braço esta noite
há ali uma mordida, um rosto na pele
são maneiras de ficar na casa, em pedaços de pele em pó
e em sangue, sinuoso sangue, ah, ter tocado esta morada!
amanhã pois sai: de volta à outra vida...
outros textos...
outras enchentes...
e carrego na sacola o nome de Colin Wilson, a paixão de Hilda por Jung, Marguerite Duras
e seus amados Otto Rank e Bertrand Russel, Joyce, ah, quem...
cozinhei com pimenta e canela, esta tarde
Isadora sabe a medida exata do café
Jurandy abre o dia em seu macacão branco sorrindo as "saborosas manhãs 2012"
... imagino com textura e gosto que isso seja muito próximo do concreto vivo lúdico e lúcido
da 'comunidade'... a casa está aberta, vamos e voltamos, e quando nela
as coisas se ajeitam, acontecem, os horários estão em si, pontuais
(sou pontual no meu prazer)
e assim seguimos, 3, 4, 5, 6, 7, todos aqui, juntos em cada um ser prazer
...
entardece o roséo da casa
estou sentada na mesa em frente à lareira (vês, pergunto-te)
na cabeceira, onde a Hilda se sentava (aqui)
logo mais vamos chamar o fogo, cantá-lo
estou aonde, divago, não sei
estou nesta palavra rica, nesta madeira que espera por queimar
na casa em que viveu Hilda Hilst e vive e viverá
...
deixo como pré-depedida impossível
mais páginas do diário do ano 1980
ano da última paixão de Hilda
ano da escrita de A obscena senhora D.
e sua lírica devastada
ano em chagas
...
E V O É
amanhã nesta mesma hora estarei prestes a cruzar o portão, o portal
e derramar-me fora da justeza deste tempo absorto
eu sei que logo ali, olhando depois do muro, há uma casa e mais outra e ainda muitas
mas elas se desestabilizam fora desta BOLHA que é a casa do sol
aqui não há nada, eu disse chegando, não há mesura
não há tamanho ou duração da experiência: sim, há demasiado passado
mas passado vivo, triufante, forte como a vegetação que rodeia a casa
e as espadas de são jorge que aqui dão em abudância
é fresca a atmosfera, levíssima
(eu pensava sustos, calculava medos
nas noites, antes de aqui chegar)
mas a casa é PROTEGIDA, aterrada FLUTUA
paira forte, abençoada, com todos esses cães psicopompos
que guardam as tantas portas transparentes
em que os mundos se cruzam, tempos se intercalam
dimensões se dilaceram: atravessa-se
neles a cada dobra do corpo e do pensamento
e o que já sei que posso dizer de tudo que vivi aqui
é essa imagem de um reservatório, um cântaro, um poço
(o poço de água boa bem no centro da casa)
não chorei, eu sempre choro depois nunca no impacto
(o impacto que suspende, vai nutrindo)
(então depois)
mas muito me comovi, indo lenta e respeitosa
ao convívio das coisas que tocaram
o espírito de Hilda Hilst
...
ontem lemos, na noite, Jurandy, Isadora e eu
nossos poemas
brindamos a Baco, que ele é bem-vindo nesta casa
e vimos, uma por uma, as fotos de Hilda, que saíam de dentro
de caixas, velha-menina-e-moça, serpentina serelepe,
risonha fada, anciã da face consumida
lemos cartões endereçados a ela (um de Caio F Abreu)
e tocamos em manuscritos e originais, rasurados, emendados,
lindos, os lemos, os lemes, singrantes
ah Hilda...
é possível que uma pequena aranha tenha passado pelo meu braço esta noite
há ali uma mordida, um rosto na pele
são maneiras de ficar na casa, em pedaços de pele em pó
e em sangue, sinuoso sangue, ah, ter tocado esta morada!
amanhã pois sai: de volta à outra vida...
outros textos...
outras enchentes...
e carrego na sacola o nome de Colin Wilson, a paixão de Hilda por Jung, Marguerite Duras
e seus amados Otto Rank e Bertrand Russel, Joyce, ah, quem...
cozinhei com pimenta e canela, esta tarde
Isadora sabe a medida exata do café
Jurandy abre o dia em seu macacão branco sorrindo as "saborosas manhãs 2012"
... imagino com textura e gosto que isso seja muito próximo do concreto vivo lúdico e lúcido
da 'comunidade'... a casa está aberta, vamos e voltamos, e quando nela
as coisas se ajeitam, acontecem, os horários estão em si, pontuais
(sou pontual no meu prazer)
e assim seguimos, 3, 4, 5, 6, 7, todos aqui, juntos em cada um ser prazer
...
entardece o roséo da casa
estou sentada na mesa em frente à lareira (vês, pergunto-te)
na cabeceira, onde a Hilda se sentava (aqui)
logo mais vamos chamar o fogo, cantá-lo
estou aonde, divago, não sei
estou nesta palavra rica, nesta madeira que espera por queimar
na casa em que viveu Hilda Hilst e vive e viverá
...
deixo como pré-depedida impossível
mais páginas do diário do ano 1980
ano da última paixão de Hilda
ano da escrita de A obscena senhora D.
e sua lírica devastada
ano em chagas
...
E V O É
20120718
casa do sol, dia 11 dia 12 dia 13...
...
embaralham-se, como vês
comovo-me, pouco sonolenta, faz frio
uso meias vermelhas de Isadora,
sim, nesta 2af passada chegou, pela noite, Isadora Krieger
nova residente da casa do sol, ela elabora seu primeiro romance
lemos trechos nossos, trocamos as vozes, gostei do que li
sim, chegou também Juarez Guimarães Dias
diretor de teatro, mineiro, que já havia montado, anos atrás
o texto "A Empresa (A possessa)", de Hilda
e depois disso estudou a Hilda, publicou sobre ela
e a conheceu, quando ele esteve aqui, tanto tempo
(ontem)
e fotografou-se ao lado dela, tocando seu braço magro
impressionou-me a figura daquelas mãos, finas, tortuosas, de bruxa
os seus dedos terminam triangulares, afunilam-se em unha longa
tem impacto essa imagem
fortíssima mão
e a velhice intensa, mas radiosa, sorriso largo, branco, branquidão
muitos papos esses dias
Jurandy, Juarez e Daniel Fuentes trabalharam com afinco
na preparação do projeto que SERÁ tão logo, a montagem
do texto "As aves da Noite", de Hilda, pela companhia de Juarez,
a Pierrot Lunaire, de BH...
...
esta manhã mais jardins
e as imagens dele
aí dispostas
...
e ainda manhã, hora desvendada em magia:
fomos até a UNICAMP visitar e tocar e pesquisar
os arquivos de Hilda,
como eram muitos, pedi ao acaso os diários dos anos 80 e 81
e mal me lembrava que esses foram os anos
da louca paixão de Hilda por seu primo Wilson Hilst
as páginas do diário se atropelam, se calam
ela mesma risca de vermelho sobre o que escrevera em azul
censura-se, zomba de si, reconhece o estado descontrolado
da paixão, sua fluorescência trágica
ficaram juntos por um ano e meio, mais ou menos
e o que quase terminou em crime passional
é hoje poema, livro e este ano, ano em que eu nascia
e ela, nos seus 50, linda
acordava no corpo uma alegria rara
e dolorosa
... deixo abaixo uma imagem que fiz deste diário
e AGONIA FEBRE-FULGOR se adensa a seu tempo
e eu
...
eu ainda estou aqui, sempre na linha deste sol
debaixo desta data (1890 - 1980) acima o
9 infinito 9
entrando entrando entrando
...
embaralham-se, como vês
comovo-me, pouco sonolenta, faz frio
uso meias vermelhas de Isadora,
sim, nesta 2af passada chegou, pela noite, Isadora Krieger
nova residente da casa do sol, ela elabora seu primeiro romance
lemos trechos nossos, trocamos as vozes, gostei do que li
sim, chegou também Juarez Guimarães Dias
diretor de teatro, mineiro, que já havia montado, anos atrás
o texto "A Empresa (A possessa)", de Hilda
e depois disso estudou a Hilda, publicou sobre ela
e a conheceu, quando ele esteve aqui, tanto tempo
(ontem)
e fotografou-se ao lado dela, tocando seu braço magro
impressionou-me a figura daquelas mãos, finas, tortuosas, de bruxa
os seus dedos terminam triangulares, afunilam-se em unha longa
tem impacto essa imagem
fortíssima mão
e a velhice intensa, mas radiosa, sorriso largo, branco, branquidão
muitos papos esses dias
Jurandy, Juarez e Daniel Fuentes trabalharam com afinco
na preparação do projeto que SERÁ tão logo, a montagem
do texto "As aves da Noite", de Hilda, pela companhia de Juarez,
a Pierrot Lunaire, de BH...
...
esta manhã mais jardins
e as imagens dele
aí dispostas
...
e ainda manhã, hora desvendada em magia:
fomos até a UNICAMP visitar e tocar e pesquisar
os arquivos de Hilda,
como eram muitos, pedi ao acaso os diários dos anos 80 e 81
e mal me lembrava que esses foram os anos
da louca paixão de Hilda por seu primo Wilson Hilst
as páginas do diário se atropelam, se calam
ela mesma risca de vermelho sobre o que escrevera em azul
censura-se, zomba de si, reconhece o estado descontrolado
da paixão, sua fluorescência trágica
ficaram juntos por um ano e meio, mais ou menos
e o que quase terminou em crime passional
é hoje poema, livro e este ano, ano em que eu nascia
e ela, nos seus 50, linda
acordava no corpo uma alegria rara
e dolorosa
... deixo abaixo uma imagem que fiz deste diário
e AGONIA FEBRE-FULGOR se adensa a seu tempo
e eu
...
eu ainda estou aqui, sempre na linha deste sol
debaixo desta data (1890 - 1980) acima o
9 infinito 9
entrando entrando entrando
...
(da esquerda: Daniel Fuentes, Jurandy e Juarez)
20120716
dias 9 e 10, casa do sol
dia 9 foi sábado dia 14 de julho
festa da bastilha aqui também
caipiroskas de limão rosa com maracujá
salsichas com mostarda
sol no pátio, sol a pino, frio de rasgar
músicas, histórias passionais de assassinatos
cinematografia de uma vida com seus saturnos retrógrados
e sol conjunto júpiter, as portas te estarão sempre fáceis
de mexer, abrir e fechar, conforme a vossa vontade
ó estrela
recebemos visitações e sentados na meia-luz
lemos a Hilda, Bufólicas,
cozinhamos, cada um disse de si, anunciado
teve o tour pela casa, o vislumbre do armário
e dos vestidos que ela deixou tocá-la na pele
houve rito na madrugada, Jurandy e seus auxiliares
carregando o fogo no drible do vento
(5 velas que são 1) (veja) quando o cinco
é um
---
ontem, dia 10, domingo, apenas eu e Jura na casa
dia quietíssimo, embranhei-me novamente na biblioteca de Hilda
na biblioteca parte 2, que hoje fica no aposento que lhe dava quarto
cama e sono, apenas tirada a cama, que hoje, hoje, agora
está comigo, sustentando a vida noturna
e os passeios que me vêm
a parede cheia de retratos, emily dickinson, freud, mann, beckett, santas teresas (várias)
e o pai, Apolônio, corpo de luz tão veemente, íntimo diálogo
com que a filha ousou jamais esquecê-lo... (veja imagem de homem único, abaixo
acima do Cristo de Jan van Eyck )
a olivetti da Hilda e a minha olivetti cá joana comigo oh
(entre plumas de tantos bois volantes, capim de cães, delicado
campanário na porta principal)
(digo campanário e o sino toca)
(venta, aquela combustão sonolenta dos ventos distantesssss, mas que se ouve
descem aqui, ao pátio)
tirei da estante um do Bertrand Russel, misticismo y logica
comecei a leitura logo na madrugada, venho dizer mais quando findar.
também retirei um outro magia e astrologia, do Alfred Maury
... enfim, uma decepção, creio que também tenha sido para Hilda
(ela só grifou até o comecinho, e deixou imensos pontos de interrogação
espalhados pelas obscenas afirmações preconceituosas, ahnnnnh,
sobre querelas tristes como os ditos "os primitios e suas demonologias e suas barbáries
e seus etc", ai ai
já o devolvi à estante...
vi um filme lindo de morrer, é tão bom ver delicadezas sem qualquer véu
assim, dada, de graça: o marido da cabeleireira, (le mari de la coiffeuse), de Patrice Leconte, de 1990
lembrei-me daquele homem chamado Nicanor, que o Chico canta e com o qual minha avó ainda sonha
e pensando em cabeleira, Nicanor, Baudelaires, suavidades, paixões, assinatos e minha avó
(que também se chama Dulce) (como eu me chamaria se não tivesse me fantasiado de menino antes da hora de nascer e assim ser Roberta)
abro um poema de MURILO MENDES, que trouxe comigo, de seu livro O visionário (1930-33):
(porque é absolutamente visível a gama louca de encontros em que se dá o real)
(voilà:)
BIOGRAFIA DA CABELEIREIRA
Esta cabeleira nasceu
No corpo das nebulosas,
Depois renasceu em Eva,
Atravessou muitos túneis
De corpos grandes, morenos,
Mais uma vez aparece
Neste mundo, exatamente
Na cabeleira de Dulce,
No dia cinco de abril
De mil novecentos e três.
E renasceu imperiosa,
Com uma força de gigante.
Era preciso uma vida,
Todo um corpo, uma desgraça
Para alimentar a faminta.
Vinham os amantes de Dulce,
À sombra da cabeleira
Passavam dias e noites,
Alguns deles me lembravam
Que além dos cabelos havia
Mais qualquer coisa no corpo.
E o marido de Dulce
Matou a pobre coitada,
Mais um amante de Dulce,
Com dois tiros de revólver.
Mas o bobo do marido
Não sabe que a cabeleira
Já renasceu, furiosa
Na filha da pobre Dulce.
O marido matou Dulce,
Não matou a cabeleira.
Vai dar muito o que fazer.
A filha de Dulce tem
Só dez anos, mas parece
Que já tem quinze, porque
A cabeleira pesada
Passa na frente do corpo,
Atrai os adolescente,
Tem vida própria, não morre!
-----
deixo aqui estas cenas, imagens sempre são canais, é mais um acorde de voz, um acordar
a tua vontade, por onde vais
...
festa da bastilha aqui também
caipiroskas de limão rosa com maracujá
salsichas com mostarda
sol no pátio, sol a pino, frio de rasgar
músicas, histórias passionais de assassinatos
cinematografia de uma vida com seus saturnos retrógrados
e sol conjunto júpiter, as portas te estarão sempre fáceis
de mexer, abrir e fechar, conforme a vossa vontade
ó estrela
recebemos visitações e sentados na meia-luz
lemos a Hilda, Bufólicas,
cozinhamos, cada um disse de si, anunciado
teve o tour pela casa, o vislumbre do armário
e dos vestidos que ela deixou tocá-la na pele
houve rito na madrugada, Jurandy e seus auxiliares
carregando o fogo no drible do vento
(5 velas que são 1) (veja) quando o cinco
é um
---
ontem, dia 10, domingo, apenas eu e Jura na casa
dia quietíssimo, embranhei-me novamente na biblioteca de Hilda
na biblioteca parte 2, que hoje fica no aposento que lhe dava quarto
cama e sono, apenas tirada a cama, que hoje, hoje, agora
está comigo, sustentando a vida noturna
e os passeios que me vêm
a parede cheia de retratos, emily dickinson, freud, mann, beckett, santas teresas (várias)
e o pai, Apolônio, corpo de luz tão veemente, íntimo diálogo
com que a filha ousou jamais esquecê-lo... (veja imagem de homem único, abaixo
acima do Cristo de Jan van Eyck )
a olivetti da Hilda e a minha olivetti cá joana comigo oh
(entre plumas de tantos bois volantes, capim de cães, delicado
campanário na porta principal)
(digo campanário e o sino toca)
(venta, aquela combustão sonolenta dos ventos distantesssss, mas que se ouve
descem aqui, ao pátio)
tirei da estante um do Bertrand Russel, misticismo y logica
comecei a leitura logo na madrugada, venho dizer mais quando findar.
também retirei um outro magia e astrologia, do Alfred Maury
... enfim, uma decepção, creio que também tenha sido para Hilda
(ela só grifou até o comecinho, e deixou imensos pontos de interrogação
espalhados pelas obscenas afirmações preconceituosas, ahnnnnh,
sobre querelas tristes como os ditos "os primitios e suas demonologias e suas barbáries
e seus etc", ai ai
já o devolvi à estante...
vi um filme lindo de morrer, é tão bom ver delicadezas sem qualquer véu
assim, dada, de graça: o marido da cabeleireira, (le mari de la coiffeuse), de Patrice Leconte, de 1990
lembrei-me daquele homem chamado Nicanor, que o Chico canta e com o qual minha avó ainda sonha
e pensando em cabeleira, Nicanor, Baudelaires, suavidades, paixões, assinatos e minha avó
(que também se chama Dulce) (como eu me chamaria se não tivesse me fantasiado de menino antes da hora de nascer e assim ser Roberta)
abro um poema de MURILO MENDES, que trouxe comigo, de seu livro O visionário (1930-33):
(porque é absolutamente visível a gama louca de encontros em que se dá o real)
(voilà:)
BIOGRAFIA DA CABELEIREIRA
Esta cabeleira nasceu
No corpo das nebulosas,
Depois renasceu em Eva,
Atravessou muitos túneis
De corpos grandes, morenos,
Mais uma vez aparece
Neste mundo, exatamente
Na cabeleira de Dulce,
No dia cinco de abril
De mil novecentos e três.
E renasceu imperiosa,
Com uma força de gigante.
Era preciso uma vida,
Todo um corpo, uma desgraça
Para alimentar a faminta.
Vinham os amantes de Dulce,
À sombra da cabeleira
Passavam dias e noites,
Alguns deles me lembravam
Que além dos cabelos havia
Mais qualquer coisa no corpo.
E o marido de Dulce
Matou a pobre coitada,
Mais um amante de Dulce,
Com dois tiros de revólver.
Mas o bobo do marido
Não sabe que a cabeleira
Já renasceu, furiosa
Na filha da pobre Dulce.
O marido matou Dulce,
Não matou a cabeleira.
Vai dar muito o que fazer.
A filha de Dulce tem
Só dez anos, mas parece
Que já tem quinze, porque
A cabeleira pesada
Passa na frente do corpo,
Atrai os adolescente,
Tem vida própria, não morre!
-----
deixo aqui estas cenas, imagens sempre são canais, é mais um acorde de voz, um acordar
a tua vontade, por onde vais
...
20120714
dia 8, casa do sol
...
foi ontem, a sexta-feira 13
infatigável soma de olhos e guias
longevo pé nua terra
descendo ao pôr-do-sol
para figueira, ei-la
antíquissima, centro escolhido pela Hilda
quando desenhou a casa na palma da mão...
recolhida nos meus aposentos o dia toda todo
às 16h30, hora de meu quase nascimento, desci
e dancei dentro dela, da terra úmida, fria, viva
fiz os pedidos, disse a minha sorte, chamei-a, chamei-te
... Olga e Daniel desceram depois, sentamo-nos na mesa de pedra
e conversamos sobre os cães
subimos quando escurecia para fazer café
tudo estava revigorado, o perdido
perdeu-se para mais denso, a coisa
se engatinhou e abriu a boca, a luz dentro da casa
era dourada
e vermelha
à noite fomos para cidade,
a ideia era chegar a tempo de ver o circo K
peça sobre Kafka
mas a coisa se dando como dava, vivemos Kafka ao inves de simplesmente
vê-lo visto: nos perdemos pela cidade
cada informação era um círculo
dentro de outro círculo
dentro de mais outro
quando finalmente chegamos já era tarde
e enfim, saímos, a pé, à casa de Chico Fransé
um palacete dos anos 20 extremamente ali no tempo parado
(quase um contínuo com a casa do sol, mas urbano)
(vê-se sim bruxas e virginia woolf sentadas bebendo absinto) (ali)
(naquele sofá de veludo) (entre a coleção de chaves) (e ossos) (e conchas)
depois fomos, andantes, até a galeria que se inaugurava, Photografie, em Campinas
...
estou aqui
dia 8 -
descobri que há uma imensa borboleta negra
morta
dentro da lamparina
sobre a minha cama
que era de Hilda
dia 8
sexta-feira 13
a soma
ASSOMA
foi ontem, a sexta-feira 13
infatigável soma de olhos e guias
longevo pé nua terra
descendo ao pôr-do-sol
para figueira, ei-la
antíquissima, centro escolhido pela Hilda
quando desenhou a casa na palma da mão...
recolhida nos meus aposentos o dia toda todo
às 16h30, hora de meu quase nascimento, desci
e dancei dentro dela, da terra úmida, fria, viva
fiz os pedidos, disse a minha sorte, chamei-a, chamei-te
... Olga e Daniel desceram depois, sentamo-nos na mesa de pedra
e conversamos sobre os cães
subimos quando escurecia para fazer café
tudo estava revigorado, o perdido
perdeu-se para mais denso, a coisa
se engatinhou e abriu a boca, a luz dentro da casa
era dourada
e vermelha
à noite fomos para cidade,
a ideia era chegar a tempo de ver o circo K
peça sobre Kafka
mas a coisa se dando como dava, vivemos Kafka ao inves de simplesmente
vê-lo visto: nos perdemos pela cidade
cada informação era um círculo
dentro de outro círculo
dentro de mais outro
quando finalmente chegamos já era tarde
e enfim, saímos, a pé, à casa de Chico Fransé
um palacete dos anos 20 extremamente ali no tempo parado
(quase um contínuo com a casa do sol, mas urbano)
(vê-se sim bruxas e virginia woolf sentadas bebendo absinto) (ali)
(naquele sofá de veludo) (entre a coleção de chaves) (e ossos) (e conchas)
depois fomos, andantes, até a galeria que se inaugurava, Photografie, em Campinas
...
estou aqui
dia 8 -
descobri que há uma imensa borboleta negra
morta
dentro da lamparina
sobre a minha cama
que era de Hilda
dia 8
sexta-feira 13
a soma
ASSOMA
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