20120710

casa do sol, dia 4


_ trecho em andamento, da peça AGONIA FEBRE-FULGOR _


(...)
Ele veio, o lugar da cabeça abaixado, tombado dentro de capuz escuro. Então era isso! Então eras tu, inominado, amado, meu oco. A pontada seca no plexo da garganta, o vestígio lustroso da subida dos animais pelas pernas, a entrada de minha substância por canais de húmus e teias e raízes, eras tu, coisa inamovível, esgarço da hora em que caí e tive prazeres e tive ódio e tive uma arcada fatigante de incompreensões e usuras, delicadezas náufragas as fugas, todo meu alçar insípido, eras tu, eras isso, assim disposto à boca, ao chegar tão íntimo que eu te soubesse o hálito, cão das horas em que eu jardinava absorta em fome e cupidez por palavras que te queimassem, só conheci desta espécie de canto, faminto, titubeante, de faísca e visco. Sei que vês carmin nos meus lábios. O vermelho da vida. Ainda. Aberto do som saído das vísceras, teu rosto, este meu nome, Hilda, e a terra revolta em crista ensimesmada, e a terra em que subir por dentro de todos os enganos, e a terra em que deixar osso, pó, desídia. Eras tu, esse, aquele, meu homem, o mugido, senhor, senhora, meu cão galáctico. A mesma veia a nossa em que sermos seres da descida, do libidinoso fiapo com uma língua rósea entre dentes. Líquido arremedo cheio de espessas ranhuras, adjacência, adjetivos, tua falta de nome, tua imensa ausêcia toda bifurcada em lâmina e medo, este tecido que quando se olha muito de perto, muito muito de perto, esgarçado, esmíuçado, quando se olha assim, não está lá, nunca esteve lá, é um susto apenas feito de vácuo e contágio, esta hora quando vindo até mim, já colado à minha musculatura muda, não estás (...).


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