20120716

dias 9 e 10, casa do sol

dia 9 foi sábado dia 14 de julho
festa da bastilha aqui também
caipiroskas de limão rosa com maracujá
salsichas com mostarda
sol no pátio, sol a pino, frio de rasgar
músicas, histórias passionais de assassinatos
cinematografia de uma vida com seus saturnos retrógrados
e sol conjunto júpiter, as portas te estarão sempre fáceis
de mexer, abrir e fechar, conforme a vossa vontade
ó estrela
recebemos visitações e sentados na meia-luz
lemos a Hilda, Bufólicas,
cozinhamos, cada um disse de si, anunciado
teve o tour pela casa, o vislumbre do armário
e dos vestidos que ela deixou tocá-la na pele
houve rito na madrugada, Jurandy e seus auxiliares
carregando o fogo no drible do vento
(5 velas que são 1) (veja) quando o cinco
é um
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ontem, dia 10, domingo, apenas eu e Jura na casa
dia quietíssimo, embranhei-me novamente na biblioteca de Hilda
na biblioteca parte 2, que hoje fica no aposento que lhe dava quarto
cama e sono, apenas tirada a cama, que hoje, hoje, agora
está comigo, sustentando a vida noturna
e os passeios que me vêm
a parede cheia de retratos, emily dickinson, freud, mann, beckett, santas teresas (várias)
e o pai, Apolônio, corpo de luz tão veemente, íntimo diálogo
com que a filha ousou jamais esquecê-lo... (veja imagem de homem único, abaixo
acima do Cristo de Jan van Eyck )
a olivetti da Hilda e a minha olivetti cá joana comigo oh
(entre plumas de tantos bois volantes, capim de cães, delicado
campanário na porta principal)
(digo campanário e o sino toca)
(venta, aquela combustão sonolenta dos ventos distantesssss, mas que se ouve
descem aqui, ao pátio)
tirei da estante um do Bertrand Russel, misticismo y logica
comecei a leitura logo na madrugada, venho dizer mais quando findar.
também retirei um outro magia e astrologia, do Alfred Maury
... enfim, uma decepção, creio que também tenha sido para Hilda
(ela só grifou até o comecinho, e deixou imensos pontos de interrogação
espalhados pelas obscenas afirmações preconceituosas, ahnnnnh,
sobre querelas tristes como os ditos "os primitios e suas demonologias e suas barbáries
e seus etc", ai ai
já o devolvi à estante...
vi um filme lindo de morrer, é tão bom ver delicadezas sem qualquer véu
assim, dada, de graça: o marido da cabeleireira, (le mari de la coiffeuse), de Patrice Leconte, de 1990
lembrei-me daquele homem chamado Nicanor, que o Chico canta e com o qual minha avó ainda sonha
e pensando em cabeleira, Nicanor, Baudelaires, suavidades, paixões, assinatos e minha avó
(que também se chama Dulce) (como eu me chamaria se não tivesse me fantasiado de menino antes da hora de nascer e assim ser Roberta)
abro um poema de MURILO MENDES, que trouxe comigo, de seu livro O visionário (1930-33):

(porque é absolutamente visível a gama louca de encontros em que se dá o real)
(voilà:)


BIOGRAFIA DA CABELEIREIRA

Esta cabeleira nasceu
No corpo das nebulosas,
Depois renasceu em Eva,
Atravessou muitos túneis
De corpos grandes, morenos,
Mais uma vez aparece
Neste mundo, exatamente
Na cabeleira de Dulce,
No dia cinco de abril
De mil novecentos e três.
E renasceu imperiosa,
Com uma força de gigante.
Era preciso uma vida,
Todo um corpo, uma desgraça
Para alimentar a faminta.
Vinham os amantes de Dulce,
À sombra da cabeleira
Passavam dias e noites,
Alguns deles me lembravam
Que além dos cabelos havia
Mais qualquer coisa no corpo.

E o marido de Dulce
Matou a pobre coitada,
Mais um amante de Dulce,
Com dois tiros de revólver.
Mas o bobo do marido
Não sabe que a cabeleira
Já renasceu, furiosa
Na filha da pobre Dulce.
O marido matou Dulce,
Não matou a cabeleira.
Vai dar muito o que fazer.
A filha de Dulce tem
Só dez anos, mas parece
Que já tem quinze, porque
A cabeleira pesada
Passa na frente do corpo,
Atrai os adolescente,
Tem vida própria, não morre!

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deixo aqui estas cenas, imagens sempre são canais, é mais um acorde de voz, um acordar
a tua vontade, por onde vais
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